Interessante é que nunca fomos apresentados. Sabemos da existência mútua, lemos um ao outro e nos comunicamos através deste Ambiente ...

Frutuoso Chaves, patrimônio paraibano

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Interessante é que nunca fomos apresentados. Sabemos da existência mútua, lemos um ao outro e nos comunicamos através deste Ambiente de Leitura Carlos Romero. Certa vez, numa das confraternizações natalinas promovidas por nosso “chefe” Germano, avistei-o de longe, achei que era ele pelos cabelos brancos e antes que pudesse cumprimentá-lo, ele se retirou, de fininho, quando a noite era ainda uma criança para alguns, mas ele, com a prudência e a sabedoria dos mais vividos, concluiu que era hora de se recolher. E lá se foi, lépido, discreto, elegante e oportuno, distribuindo cumprimentos amáveis aos que o saudavam pelo caminho…

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Frutuoso Chaves e o neto Miguel
É possível que, juntamente com Gonzaga Rodrigues, seja ele, agora chegado aos oitenta anos, o decano da crônica paraibana. Posso estar esquecendo um ou outra, mas certamente Frutuoso está entre os mais longevos profissionais do jornalismo na Paraíba. Jornalismo feito com amor e responsabilidade em mais de cinco décadas de batente, no qual exerceu as mais diversas funções, sempre a serviço da informação fidedigna, do esclarecimento do público leitor e, com a crônica, da palavra literariamente tratada com mestria.

A Paraíba tem sido desde sempre um celeiro de grandes profissionais de imprensa, alguns deles merecidamente tornados míticos, no melhor sentido da palavra, a exemplo de um Carlos Dias Fernandes, de um José Leal, de um Nathanael Alves, de um Severino Ramos, de um Luiz Augusto Crispim e, por que não?, de um outro Luiz, o Gonzaga Rodrigues, nosso contemporâneo nonagenário, ainda escrevendo belamente com a mesma leveza de um jovem. Cito estes pedindo perdão aos que omito por falta de lembrança e de espaço, sabendo que são muitos, verdadeira legião de escribas da melhor qualidade, cujos nomes gloriosos ainda vivem na memória de tantos leitores. Dentre esses grandes, inscreve-se, sem nenhum favor, Frutuoso Chaves, aquele que veio de Pilar, a mesma terra de Zé Lins, para conquistar, com labor e mérito, um lugar ao sol na velha capital paraibana.

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Carlos Romero
Frutuoso tem sido, religiosamente, uma de minhas leituras semanais neste Ambiente que celebra a memória de outro mestre cronista, Carlos Romero. Ele tem o “faro” jornalístico de saber escolher temas de interesse coletivo, mesmo quando aborda assuntos aparentemente só seus, mas que, transfigurados pela palavra cultivada, passam a pertencer a todos que com eles se identificam, confirmando a semelhança da natureza das pessoas e de suas experiências. E quanto à forma? Dessa nem se fala, tal a correção gramatical e tal o apuro estilístico, ambos característicos do mestre consumado que se tornou. E Frutuoso tem outra marca pessoal de muito valor neste mundo tão arisco: a suavidade no trato das questões e das pessoas. Nunca li nada seu que agredisse quem quer que fosse ou que usasse palavras mais fortes, prenhes de rancor. Ele parece deliberadamente passar ao largo das controvérsias maiores e menores, como também fazia o sábio Machado de Assis, optando sempre pelo que une no lugar daquilo que separa.

Imagino-o de bem com a vida. Seus escritos me passam essa impressão. Não vejo e não sinto neles amarguras nem ressentimentos. Pelo contrário. Há neles uma nítida paz de missão cumprida e uma satisfação com o caminho percorrido. Parece proclamar, modesta e sobriamente,
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Frutuoso e Miguel
que fez o que foi possível, da melhor forma que conseguiu, diante das circunstâncias que a vida lhe impôs. Não é pouco, digo eu. E por isso aplaudo fortemente.

Os jornalistas mais experientes, quando têm vocação literária, adotam a crônica como derradeiro exercício profissional. Quando já não possuem forças ou disposição para as grandes reportagens, as penosas investigações e o barulho das redações, muitos migram para esse gênero, comparativamente mais ameno e confortável. Mas isso não é para todos, claro. Para Frutuoso, foi como um passeio, dadas as suas aptidões naturais.

Ele está a dever aos seus muitos leitores um livro que reúna seus textos mais recentes, pelo menos aqueles que forem de sua particular predileção. Para que se perenizem como um dos marcos das letras paraibanas do nosso tempo. E não exagero, porque sabemos, os que o leem, de seu valor literário. Não há Inteligência Artificial que o substitua.

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Frutuoso Chaves
Muitas homenagens merece Frutuoso Chaves neste aniversário emblemático. Que vereadores, deputados, prefeitos e outras autoridades se movimentem nesse sentido. É uma obrigação moral da Paraíba celebrar seus filhos mais ilustres. E que Pilar se alevante em festas para celebrar esse menino, que se não foi de engenho, como o autor de Fogo Morto, nem por isso – ou exatamente por isso – deixa de orgulhar imensamente a sua terra.

De minha parte, aqui fica o registro do acontecimento. Esta sim, é a notícia que me importa neste início do mês de São João de 2025. Que o cronista continue conosco, a nos deleitar com a sua simpatia e o seu talento.

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  1. O que fazer, a não ser lacrimejar? E lembrar da inauguração do busto de Zé Lins em festa com nomes da República, do Estado e da cultura nacional, no Pilar de 1951, quando eu tinha seis anos de idade.

    A anos-luz da expressão daquele que a Paraíba então homenageava, eu não deixo, hoje, de recortar a história ouvida do meu velho professor José Augusto de Brito.

    Na hora do seu discurso, Zé Lins observou: "Se por aqui passasse agora, Vitorino Papa-Rabo perguntaria: o que este neto de José Paulino fez para merecer tamanha homenagem?"

    Zé Lins disse que responderia: "Piedade, Capitão. Isso é coisa de amigos. E com coração de amigo ninguém pode". Disse isso e chorou no ombro de Rachel de Queiroz.

    Minha "Rachel", agora há pouco, lacrimejou comigo. Viu-se na primeira foto. Fez-me botar roupa nova, ganha no 6 de junho, e ir todo ancho para o trabalho. Sim, ainda trabalho aos 80.

    Gratíssimo, Gil. Aceite minha emoção e meu abraço.

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    1. - Aos amigos Germano, Davi e Alaurinda minha gratidão pelo abrigo e pela ilustração da crônica com a qual o Mestre Gil me acalanta e envaidece. São fotos que tocam o meu e os corações da Dona Miriam, dos nossos três filhos e do nosso neto.

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  2. Você merece muito mais, Frutuoso, acredite. Gil.

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  3. Obrigado, Lúcia.

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  4. Seguimos o relator Gil, "você merece muito mais, Frutuoso, acredite". Parabéns aos dois!

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