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É uma das árvores que eu mais admiro. Ela não bota flores, mas suas grandes folhas, quando envelhecidas, tornam-se amarelas e belas. A cast...

É uma das árvores que eu mais admiro. Ela não bota flores, mas suas grandes folhas, quando envelhecidas, tornam-se amarelas e belas. A castanhola não tem uma fruta muito apreciada. Apesar de haver quem goste daquelas suas bolotas, que, segundo dizem, são até docinhas, e agradam principalmente aos morcegos e bem-te-vis.

Mas a castanhola dá uma sombra muito acolhedora, que chega a fazer raiva ao sol. Os pardais costumam fazer da castanhola sua casa. Quando começa a escurecer, quando o sol vai deixando a Terra, os pardais não querem outro lugar para se abrigarem. E chegam sempre na maior algazarra. A castanhola vira um edifício de apartamentos...

Mas quando as folhas verdes amarelecem e vão caindo no chão, numa lentidão de lágrima, sinto um nó na garganta. O verde das folhas se tornando amarelo. Aí temos um comovente bailado, o bailado das folhas amarelas. Elas caem no chão e são chutadas, como imprestáveis. Mas, o que fazer? É o bailado da vida. Tudo nasce, tudo morre, tudo renasce. Na verdade, tudo se transforma, como já dizia Lavoisier.

Sempre que apanho uma folha amarela, tenho vontade de beijá-la ou guardá-la. E agora estou me lembrando dos plátanos de Paris, que no outono começam a se despir, e logo ficam todos sem folhas, morrendo de frio. Parecem interrogações. E eu fico desejando a chegada da primavera. Ah, Paris, como me comovem as tuas alamedas cheias de plátanos nus, no inverno... Os plátanos das alamedas do Jardim de Luxemburgo, do cais do rio Sena, da bela e turística avenida Champs Elysées, dos Champs de Mars, ali pertinho da Torre Eiffel, que ficam todos completamente secos

Mas eu vinha falando de castanholas, que decerto já estão com ciúme do cronista. Deixemos os plátanos para os lugares frios. As castanholas são árvores do sol, dos trópicos, do calor. Temos uma linda e frondosa aqui no quintal da nossa casa de Tambaú.

Mas, vamos pingar o ponto final na crônica. E viva a didática das castanholas e dos plátanos que estão sempre nos dando uma lição de vida, de renovação. Tudo na Natureza nos ensina. Eis a grande verdade. O negócio é saber ver. Saber ver e saber pensar. E viva a vida.

S im, ele vivia na rua. Vivia como se não tivesse casa. É verdade que nasceu numa manjedoura, mas ninguém mora numa manjedoura. Nem mora, ne...

Sim, ele vivia na rua. Vivia como se não tivesse casa. É verdade que nasceu numa manjedoura, mas ninguém mora numa manjedoura. Nem mora, nem nasce. Ele foi uma exceção. Nasceu entre animais, numa espécie de estábulo.

Saía cedo da casa e lá se ia para o trabalho da evangelização. Trabalho que não o remunerava. Ia a pé, de sandálias, debaixo de um calor de matar, no verão, ou de um frio de rachar, no inverno, pois Israel é assim.

Ele ia sempre acompanhado de seus doze apóstolos. Ignoro se iam conversando ou em silêncio. Acho que iam em silêncio, embora, de vez em quando, o Mestre parasse para fazer-lhe a seguinte pergunta, pergunta embaraçosa: “Que buscai?”. Silêncio total. Sim, buscar dinheiro, diversão, mulheres? Ninguém anda à toa. Ele fez tal pergunta para conscientizar ainda mais os apóstolos de sua missão. Pergunta como esta: o que você está fazendo aqui no mundo, de onde veio, e para onde vai?

Mas, e a casa do Mestre? Não se sabe. Não venha dizer que o Mestre morava na carpintaria do pai terreno, o pai a quem ele nunca fez alusão.

A jornada era, repito, debaixo de um sol escaldante ou sob o frio das noites de inverno. Se encontrassem uma casa para pedir água, ou se agasalhar, muito bem.

Mas Jesus só vivia na rua. E na rua, em companhia dos doze apóstolos, ia mostrando serviço, limpando leprosos, dando vista aos cegos, afasrando maus espíritos, levantando paralíticos, multiplicando pães e peixes, ensinando a verdade que liberta. Nunca ninguém viu Jesus repousando numa boa cama, no maior conforto. E ele disse, certa vez, que os pássaros tinhamm seus ninhos, as raposas seus covis, mas ele não tinha uma pedra para repousar a cabeça.

E começou cedo o trabalho da evangelização. Garoto de 12 anos, havia ido a uma festa de casamento em Jerusalém, e na hora de voltar perdeu-se dos pais. Depois de muita procura, foi encontrado debatendo com os doutores, no templo. Ora, vejam só... E a mãe achou de lhe passar um carão por ter escapulido, sem dizer nada a ela.

E a casa onde dormia, comia e descansava? Ignora-se. O sublime andarilho só vivia na rua ensinando, como já disse, a verdade que liberta. A verdade que está nas indagações: Por que estamos no mundo? Será que tudo termina no túmulo? Qual o sentido da vida? E foi de cima de um monte que ele proferiu o mais belo sermão da história da Humanidade. Cuja beleza e profunda sabedoria levou o iluminado líder indiano, Mahatma Gandhi, a afirmar. "Se toda a literatura ocidental se perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido”.

Saíam de madrugada e chegavam à noite. Exaustos, mas com a consciência tranquila. A consciência do dever cumprido. A consciência sem remorsos, que é Deus dentro de nós.

Sem casa, mas, certo dia, proclamou aos que o ouviam, que “na Casa do meu Pai há muitas moradas”. As moradas dos bilhões de planetas espalhados pelo Universo. E a nossa Terra é uma delas. Pensando bem, temos três casas: a do corpo físico, a do planeta que pisamos, a que nos serve de residência, a que Jesus não tinha...

C om Paris molhada e fria, qual a melhor opção? Que tal assistir a um concerto nas Salas Pleyel, na Sala Gaveau, ou no Teatro Champs Elysées...

Com Paris molhada e fria, qual a melhor opção? Que tal assistir a um concerto nas Salas Pleyel, na Sala Gaveau, ou no Teatro Champs Elysées? Que tal um passeio pelo Louvre, pelo Orsay ou uma livraria?... Que tal um restaurante, que aqui na Cidade Luz é o que mais se vê. Gosto de ver as pessoas conversando, sorrindo e comendo nos restaurantes. Se não existisse a boca que seria do turismo? Conquanto sempre se falando baixinho, os idiomas se chocam nas animadas conversas, e às vezes, até se escuta um parabéns pra você, de um grupo comemorando um aniversário. Como somos amigos da velhice a ponto de cantar parabéns para quem completa mais um ano de existência!... As pessoas costumam dizer: “ele completou mais uma primavera”. Por que não um outono ou um inverno?

A verdade é que sem restaurantes não haverá turismo. Chegam até a dizer: “Bacalhau só em Lisboa”. Concordo em parte, pois foi, aqui em Paris, que também me deliciei com um gostosíssimo bacalhau, sem falar o delicioso que a nossa chefe de cozinha, aqui de Tambaú, sabe muito bem preparar.

Falei em livrarias, museus, salas de concerto e me esqueci da maior casa de espetáculos de Paris, que é a Ópera Garnier, que não se deve conhecer somente por fora. Que beleza de teto, que luxo, que grandiosidade artística em todos os detalhes! E eu com medo de tropeçar nos luxuosos tapetes, já que nossos olhos estavam passeando pelos belos tetos daquele luxuoso templo da arte.

Essas oportunidades de rever a Ópera, sempre devemos ao planejamento cultural do comandante de nosso grupo, meu filho Germano. E sabe qual foi o último cardápio? Tome nota: “O Anão”, de Zemlinsky; e “A criança e os sortilégios”, de Ravel, baseado num conto de Colette. E eu não conseguia tirar o olho do teto da platéia, pintado por Marc Chagall...

O teatro enorme, chamando a todo instante o nosso olhar de contemplação. Fui me demorando, me demorando e, de repente, não vi mais ninguém. Até os meus familiares já estavam lá fora, quando duas moças recepcionistas, muito bem uniformizadas, que estavam à porta, vieram me chamar, pois a Ópera ia fechar...

J esus, como é sabido, teve como berço uma manjedoura. Nasceu entre animais, longe do luxo. Mas essa manjedoura, na noite em que ele nasceu,...

Jesus, como é sabido, teve como berço uma manjedoura. Nasceu entre animais, longe do luxo. Mas essa manjedoura, na noite em que ele nasceu, iluminou-se com a forte luz de uma estrela. Nenhum palácio gozou desse prestigio.

Um famoso escritor italiano, cujo nome se esconde agora na minha memória, disse que os cristãos ricos, que nasceram em luxuosos palácios, sem dúvida, sentem uma grande vergonha de seu deus ter escolhido lugar tão humilde para nascer. Se fosse num apartamento ou numa cobertura de luxo...

Outra coisa que os cristãos ricos lamentam: Jesus haver escolhido para mãe uma mulher simples, uma mulher do povo. A mesma coisa em relação ao pai, um humilde carpinteiro, que, decerto, fez muitos móveis e, sem dúvida, muitas cruzes. E eu fico na dúvida se entre estas cruzes, não estaria a que Jesus foi pregado, depois de uma longa caminhada sob os açoites da multidão que o acompanhou até o Gólgota, o “monte da caveira”. Dizem que ele caiu três vezes, pois a cruz era muito pesada, até que um cirineu o ajudou, a pedido da multidão desvairada. Seu rosto sangrava devido aos ferimentos da coroa de espinho que lhe enfiaram na cabeça. E deveria ter sofrido uma grande dor. O sangue escorria pelo rosto. Jesus não deu um gemido. Tudo suportou em silêncio. As mãos, suaves como pétalas, que tantas curas promoveram, iam sofrer dolorosas marteladas. Mãos que suavisaram tantas dores...

Pagava pelo crime de ser bom. O crime de dar vista aos cegos, movimentar paralíticos, limpar leprosos, aliviar obsediados, multiplicar pães para a multidão faminta, pregar o amor, a caridade, a justiça.

Morto de cansado, o suor escorrendo pelo rosto, eis que o pregam na cruz de madeira, com cravos enormes. A cruz que saiu de uma carpintaria. Teria sido da carpintaria do pai? Ah, cronista curioso...

E eis Jesus entre dois ladrões. Pediu água para matar a sede e lhe deram vinagre. Mesmo assim, exausto, quase morto, ainda teve ânimo de dizer para os seus algozes: “Pai: perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”. Que exemplo de compreensão, sabedoria e amor ao próximo...

E is aí a trindade máxima. Impossível imaginar o mundo sem essas três realidades. E vem a indagação: que seria da vida sem a Natureza, sem o...

Eis aí a trindade máxima. Impossível imaginar o mundo sem essas três realidades. E vem a indagação: que seria da vida sem a Natureza, sem o Homem e sem Deus? E há quem não acredite em Deus, que tudo foi criado não por uma causa, mas pelo acaso. Você quer uma definição da Divindade, curta e certa? Por sinal é a primeira questão de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. Não vejo definição melhor. E olhe que Deus não era nem para ser definido. Mas veja a questão que abre aquela obra. Lembrar que O Livro dos Espíritos é constituído de perguntas e respostas.

A pergunta é “O que é Deus?” Curioso. Por não é “Quem é Deus?” Ora, cronista, é por que “quem” implica numa pessoa. E Deus não é antropomorfo, isto é, não tem forma humana. Mas vamos logo à definição. Ei-la: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. Aí está a Natureza, uma grande criação da Divindade. E vem Spinosa, o grande filósofo holandês, e disse que Deus é a Natureza. E quase o mataram por essa definição da divindade. Ainda bem que não foi atirado à fogueira, pois o mundo hoje é outro. Mas, antes... É só abrir a História.

Deus criou tudo. Criou o Universo, com suas estrelas, criou a Natureza, criou o Homem, criou até o mosquito da dengue, criou o mofo donde saiu a penicilina. E dizem que Ele criou até Satanás, um espírito rebelde, que mora no Inferno, onde nunca permanece, porquanto só vive atanazando os outros.

Certa vez, Napoleão, que acreditava em Deus, ia, com suas tropas caminhando pelo deserto, numa noite muito estrelada, quando, extasiado, perguntou a um famoso astrônomo, que integrava sua comitiva e que era cético em relação à existência divina: “Mestre, você acredita em Deus?” Imediatamente respondeu o sábio: “Ainda não estudei essa hipótese”. Aí Napoleão veio com a pergunta: e quem criou estas estrelas? O acaso? O sábio deu o silêncio como resposta.

É a tal coisa, Deus é a sua própria obra. O acaso não cria nada. Aludi à Natureza, ao ser humano e a Deus, justamente os temas que mais inspiraram o genial Beethoven. O Homem está na Quinta Sinfonia, uma espécie de biografia do gênio, a Natureza na Pastoral e na sonata Aurora, e Deus na Nona Sinfonia, a sinfonia da alegria, da transcendência.

E stive pensando... Que seria do mundo sem as bolas? Olho com os meus olhos, que são bolas. Olho a noite estrelada e o que vejo? Os astros, ...

Estive pensando... Que seria do mundo sem as bolas? Olho com os meus olhos, que são bolas. Olho a noite estrelada e o que vejo? Os astros, ou melhor, os mundos em forma de bolas, a começar pela nossa Terra, nossa Lua, nosso Sol. E viva o redondo!

Se as bolas fossem extintas, que seriam de muitos esportes, a começar pelo futebol, que todos os dias nos dá lição de moral. A bola estaria representada pelo dinheiro. Todo mundo buscando a chamada pelota. Mas, não devemos querer juntar muito dinheiro. O dinheiro precisa sair, circular, promover a riqueza, No futebol, assim como no basquete, nenhum jogador fica com a bola. Ele tem de passar para o outro. Só o juiz, quando o jogo acaba é que pode segurar e sair com a bola.

Bolas, bolas, este cronista parece que não está bem da bola, isto é, do juízo. No nosso corpo, além do chamado globo ocular, temos os seios, que são redondos. Os seios femininos, digo, porquanto os masculinos são apenas uma amostra. Não servem para nada. São decorativos. Quando alguém desejar conhecer uma coisa inútil, cite o peito do homem.

Dizem que o arquiteto Niemeyer, que meu filho arquiteto não me deixe mentir, inspirou-se no redondo, nas curvas, ao invés das linhas retas. A curva é que dá graça. E viva a curva feminina.

Contesto o ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”. A ortografia divina nunca foi torta.

Se não houvesse o redondo o que seria do Universo? Até as galáxias são em forma de espiral. Impossível imaginar um mundo apenas de linhas retas, com exceção da linha do horizonte, que na verdade, é fictícia. As frutas, quase todas, em geral, são redondas.

Voltando ao futebol, ele também dá uma magnífica lição de solidariedade, de altruísmo. O jogador nunca prende a bola para si. Passa logo para o outro. Nem o goleiro a prende. Passa logo para o companheiro.

Costuma-se dizer: fulano não é bom da bola. Portanto, viva a bola. E eu já estou receando que o leitor diga que o cronista não anda bem da bola.

Pensando bem, mil vezes a bola do que a bala, tão em voga hoje em dia...

N ão gosto de barulho. Quando ouço o barulho, meu desejo é sair correndo e pedindo socorro, como se estivesse sendo perseguido por um monstr...

Não gosto de barulho. Quando ouço o barulho, meu desejo é sair correndo e pedindo socorro, como se estivesse sendo perseguido por um monstro. E o barulho é um monstro. Foi Satanás, se é que existe, e, se existe, foi criado por alguém, quem inventou o barulho.

E onde não existe barulho? No fundo do mar, na Natureza, nos mosteiros, no nosso corpo, este maravilhoso templo de carne e osso que Deus nos deu. O sangue corre numa mudez admirável, os pulmões respiram sem incomodar ninguém, o coração idem, a digestão se processa também em silêncio, o mesmo diríamos do cérebro.

E a Natureza? Haverá maior silêncio do que as flores se abrindo, das árvores que o vento agita. Estou, aqui, no jardim, as borboletas beijam as flores e, sem dúvida, murmuram palavras de amor...

O mar, os rios, os lagos são lugares de muito silêncio. O homem é que adora barulho. Por que? Deve ser para esquecer os problemas de consciência, pois o silêncio faz você pensar, conversar consigo mesmo. Por incrível que pareça, há religiões que adoram o barulho, esquecidas de que Deus pede silêncio. Bem disse a missionária Tereza de Calcutá: “Não se pode encontrar Deus no barulho”...

Estive lendo este relato sobre Viena, a propósito de seu tradicional silêncio: “Quando Mozart compunha, no século XVIII, a cidade de Viena era tão silenciosa que um alarme de incêndio podia ser dado por um vigia gritando do alto da Catedral de São Estevão”. Evidente que hoje ainda é quase assim.

Continuando, também fui informado que as aranhas colocam nos fios da teia um liquido que amortece o barulho lá fora.
Um dos momentos de nossa vida mais importante é, sem favor, a hora da refeição, que deveria ser sem conversa alta, gargalhada e discussões... Lembrar que a refeição é um ato que tem muito de religioso.

Mas bom mesmo é o silêncio. É com ele que a gente conversa consigo mesmo. Acontece que muita gente vive correndo de si mesma, por isso adora barulho.

Passo a vista na biblioteca e todos os livros estão em silêncio. Que maravilha. Livraria é outro lugar de silêncio. Ninguém lê, nem estuda, nem reflete com zoada. E entre os livros que estou olhando, vejo um de Shakespeare, que é uma maravilha de título: “Muito barulho por nada”. Hoje, ele escreveria: ”Muito barulho por tudo”. Assim morasse em João Pessoa.

Aqui para nós: só gosta de zoada quem não tem nada na cabeça. Vale-se do barulho para esquecer sua vacuidade, seu vazio, seus recalques, suas frustrações. Fui a um restaurante, uma noite dessas, e sai de lá surdo, tal era o barulho. Fiquei impressionado. Saí, para nunca mais voltar lá.

E agora, com a campanha eleitora, é a hora de tapar os ouvidos com algodão e não votar em político barulhento. Vamos observar.
E este computador? Que silêncio no bater de suas teclas. Estou quase beijando-o. Que diferença da TV!

Mas vou encerrar a crônica. A tarde está muito silenciosa. Gostaria de ir até o mar e vê-lo brincando com as ondas. É aí que o mar se torna menino.

Meu medo é que estronde, aqui na avenida, um carro de propaganda eleitoral. Fui falar, pois não é que surgiu o que eu temia. Propaganda de um candidato não sei a quê...

L i a crônica do meu xará e amigo Carlos Pereira e tive ciúmes. Ele fazia uma declaração de amor à minha namorada, a Capital das Acácias, qu...

Li a crônica do meu xará e amigo Carlos Pereira e tive ciúmes. Ele fazia uma declaração de amor à minha namorada, a Capital das Acácias, que completou mais uma primavera, no próximo dia 5 de Agosto. A mais antiga capital do país. E lembrar que sou hoje um cidadão pessoense, graças a um projeto do meu amigo e mestre Fernando Milanez. É que nasci em Alagoa Nova, a terra do frio que, infelizmente, fabrica cachaça, que serve de cobertor para muita gente. Saí dela, ainda menino de 4 anos – que lindo! – e vim morar, na cidade das acácias, dos flamboyants, dos paus d'arcos, do sol de Tambaú, da Lagoa, onde antes navegavam lindos gansos.

Não Carlos, a cidade de João Pessoa também é minha. Sou seu apaixonado. E, aqui para nós, sabe quem melhor escreveu sobre essa nossa namorada? Foi Ascendino Leite, no livro “Minha Cidade”, o que também me provocou muito ciúme. Com que beleza ele fala de seus jardins, de seus bondes, de seus bairros, de suas colegiais, de seu Ponto de Cem Réis. E lembrar que um dos maiores de seus poetas – Peryllo D'Oliveira – cantou-a num poema que começa assim: “Ave Cidade, o silêncio é contigo!” Ah, meu Carlos Pereira, como as coisas mudaram... Nossa linda capital é hoje conhecida como a “Capital do Barulho”, triste classificação, divulgada até na Folha de São Paulo, uma vergonha!

Vim morar em João Pessoa e me encantei. Aqui estudei, aqui amei muitas namoradas, até que casei duas vezes. A primeira com Carmen, a segunda Alaurinda.

Cidade de João Pessoa, Capital das Acácias, cidade do sol que aqui chega primeiro. Cidade do Cabo Branco, da escultura do genial Niemeyer, da Estação Ciência, onde o genial Flávio Tavares, em belo painel, narra a história da cidade. Cidade que nasceu à beira do rio Sanhauá e foi tomar banho no mar de Tambaú.

Mas, meu querido Carlos, falando sério, não tive ciúme de sua declaração de amor à nossa cidade. O ciúme tem conotação animal, vem de cio.

Cidade de João Pessoa, hoje uma grande atração turística do nosso país. A calçadinha de Tambaú virou passarela de turistas.
Lembremos, saudosamente, do poeta: “Ave-cidade, cheia de graça, o silêncio é contigo”...

D izia Rabelais que o riso é próprio do homem. Reparando bem, o grande gênio francês tem razão em parte. Embora observemos que árvores sorri...


Dizia Rabelais que o riso é próprio do homem. Reparando bem, o grande gênio francês tem razão em parte. Embora observemos que árvores sorriem com suas flores, as estrelas com a sua luz. Dos animais, o cachorro é uma exceção. Não ri pela boca, mas com o rabo...

A Mona Lisa celebrou-se com o seu sorriso, por sinal muito sem graça, embora os críticos de arte o vejam como “enigmático”. Fui vê-la só duas vezes. Apesar de ir com certa frequência ao Louvre, não desejei mais ir à sala da Gioconda. E haja gente para ver aquele seu meio sorriso, a começar pelos asiáticos. Chego a pensar que a Mona já não agüenta mais tantos olhares dirigidos a ela. Acho que quando o Louvre fecha as suas portas, a Mona Lisa, ao invés de um sorriso, dá uma grande gargalhada mangando de todos.

Voltando ao sorriso, feliz de quem o conserva. E haverá sorriso mais belo do que o da mãe para o filho renascido? Tenho muita pena das pessoas carrancudas, das pessoas sérias demais. É preciso lembrar que o sorriso alegra o ambiente. O sorriso dá paz, dá saúde.

É verdade que, às vezes, o sorriso se transforma em gargalhada. Dir-se-ia que a gargalhada é uma espécie de disenteria verbal. Mas o bom mesmo é o sorriso suave. E sabe que, sorrindo, você se torna mais jovem? Sim, pois o sorriso espalha as rugas. Vá ao espelho e experimente.

Dizem que Jesus não sorria. Protesto. Jesus sorria através do meigo olhar. Aquele olhar que nos convidou a observar os lírios do campo. E quando o mestre disse vinde a mim as criancinhas, será que foi com o rosto sem sorriso? Duvido.

O sorriso é a mensagem dos otimistas, dos que estão em paz com a sua consciência, dos que só vêem o lado bom da vida, dos que estão em paz com a sua vida interior.

O mestre Ariano Suassuna, que era todo sorrisos, em uma de suas entrevistas, disse que “o otimista é um tolo. O pessimista, um chato e que bom mesmo é ser um realista esperançoso”. E disse isso sorrindo o seu sorriso mangador. O otimista, meu risonho Ariano, é que tem contribuído para o progresso. Otimistas foram os grandes descobridores, os grandes inventores, os grandes artistas, os grandes cientistas.

Ah, como é bom estar ao lado de um otimista! Minha mãe foi uma otimista e tanto, que atravessou um século de existência, sorrindo.

Portanto, não apague a luz de seu rosto. A luz do sorriso. Vá ao espelho sorrindo e ele lhe devolverá o riso com outro sorriso.

Se não estou enganado, os robôs não sorriem. E se sorriem é um sorriso muito mecânico. Mas o sorriso do homem é diferente. Afinal, a vida é um espetáculo e onde há espetáculo há riso, há alegria. Ariano transformou suas aulas em espetáculos fazendo todo mundo sorrir. E não há nada que agrade mais, levando-nos ao sorriso, do que a surpresa de uma descoberta. Fico, então, a imaginar o nosso Santos Dumont sorrindo ao ver seu avião contornando a Torre Eiffel, embora, depois, chorasse de tristeza quando soube que sua invenção estava a serviço da guerra...

A vida é cheia de interrogações, reticências, dois pontos, interjeições, traços de união, e viva a aritmética da vida. Com a reticência, su...

A vida é cheia de interrogações, reticências, dois pontos, interjeições, traços de união, e viva a aritmética da vida. Com a reticência, suspendemos o discurso, finalizamo-lo com o ponto, mas o que mais mexe com a gente é a interrogação. É ela que nos conduz à sabedoria.

Foi interrogando as pessoas que Sócrates ensinou a sua filosofia. Ninguém aprende com uma pessoa calada. Pobre daquele que não indaga, que não perquire, que não busca o conhecimento. E, aqui, ergo um brinde às crianças por muito perguntarem. As crianças e os filósofos. A interrogação mexe com a gente. Desafia-nos. É ela que, muitas vezes, nos perturba, nos inquieta.

Viver é indagar. Diz um estúpido ditado popular que “quem tudo quer saber, mexerico quer fazer”. Discordo da chamada sabedoria popular, e acho que quem tudo quer saber denota inteligência e perspicácia. E, às vezes, quem indaga não exige resposta. Indaga só por indagar, instigar à reflexão. Foi o caso de Pilatos quando perguntou a Jesus o que era a verdade. A indagação exigiria uma grande resposta. E eu fico pensando: Jesus poderia ter dito o que disse, depois, aos discípulos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Mas quem sou eu para aconselhar Jesus...

Prosseguindo na crônica, se me perguntassem qual a maior pergunta de todos os tempos? Eu responderia sem pestanejar: qual a finalidade da vida? Por que estamos aqui no mundo? Será que tudo termina num viver e morrer, e pronto? Suponhamos que você acordasse, altas horas da noite, sem saber que estava dentro de um navio. Qual seria sua primeira pergunta? Ora, ora, cronista... Indagaria: Onde eu estou e para onde vou depois dessa viagem?

O escritor Léon Denis, no livro extraordinário “O problema do ser, do destino e da dor”, conta que um professor universitário perdera uma filha, fato que lembrou o problema da imortalidade. Desesperado, foi ao encontro dos colegas pedindo-lhe uma palavra de consolação. Frieza total. Os colegas mudaram de assunto. Aí lamentou ele: “pedi um pão e me deram uma pedra”...
Narra, ainda, Léon Denis este dramático monólogo de outro professor universitário: “Estou na Terra. Ignoro, absolutamente, como aqui vim ter e o que será de mim quando daqui sair”.

A verdade é que poucos têm coragem de fazer tal monólogo. E fazem tudo para esquecer o problema da imortalidade. Vivem como se fossem eternos no corpo de carne. E haja diversão para esquecer a reflexão. Há tantas atrações, tantos divertimentos para esse alheamento...

Mas no túmulo de Allan Kardec, lá no Père Lachaise, de Paris, há uma inscrição que diz: “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”. Haverá mensagem mais consoladora do que esta? Ou tudo fica no morrer e pronto?

Como disse no começo, necessitamos das interrogações. São elas que nos fazem pensar e o homem é um animal que pensa. Lembro agora do escritor francês Anatole France que dizia ter muita pena de seu gato, porque não pensava...

U m famoso psiquiatra norte-americano disse que uma coisa que alegra o espírito é ouvir uma boa notícia. E eu me lembrei disso quando meu fi...

Um famoso psiquiatra norte-americano disse que uma coisa que alegra o espírito é ouvir uma boa notícia. E eu me lembrei disso quando meu filho, arquiteto Germano Romero, e, hoje, homem de televisão, levado como parceiro pela amiga e exímia apresentadora, jornalista Rose Silveira, me informou que o próximo convidado para o programa “Cá Entre Nós”, da RCTV, será a escritora e professora Vólia Loureiro, que acaba de lançar o livro “Quando as Paralelas se Encontram”. Obra que tive a honra de apresentar em recente lançamento na Usina Cultural. Um livro denso, que aborda a problemática da recordação de vidas passadas e outros temas espíritas, cuja maior temática é o Amor. Nada, portanto, de vidas apenas paralelas, mas que se encontrem, porquanto o ódio é que separa.

Deixemos a obra de inspiração mediúnica, e falemos sobre a autora, que também é palestrante e intelectual de elevado nível. Decerto, Germano foi inspirado pela Espiritualidade Maior quando teve a ideia de convidar Vólia para a entrevista. E, cá entre nós, a escritora, que é médium, tem muito o que dizer sobre a problemática da nossa existência, aqui no mundo.

O livro recentemente lançado narra a história de um grande amor. Rico de páginas, “Onde as paralelas se encontram” deixa o leitor cheio de reflexões.

A entrevista que vai ao ar nesta terça-feira, amanhã, na RCTV, às 22:00h, pelo canal 27 da Net Digital, tenho certeza que agradará bastante aos telespectadores, porquanto a escritora Vólia Loureiro tem muito o que dizer, não apenas no que concerne à mediunidade, mas sobre a problemática da vida, que se resume na indagação: “Por que estamos no mundo, quando daqui sairemos e o que será de nós ao daqui sairmos?”

Professora universitária, Engenheira Civil, palestrante das melhores e possuidora de uma profunda cultura espírita e espiritualista, o que mais caracteriza a sua personalidade é a modéstia. Não esquecer que ela também é poetisa. Excessivamente simples, suas palestras abordam temas doutrinários com muita leveza, como se levitasse sobre os assuntos tratados.

Parece que Germano anda aprendendo com nossa amiga Rose Silveira a escolher bem os entrevistados do Cá Entre Nós. Parabéns aos dois!

P or falar em Copa, mesmo que a gente perca daqui pra diante, já ganhou. Pena que tenha acontecido o que aconteceu: a quebra da vértebra lom...

Por falar em Copa, mesmo que a gente perca daqui pra diante, já ganhou. Pena que tenha acontecido o que aconteceu: a quebra da vértebra lombar do humilde e simpático Neymar. Mas acho que uma andorinha só não faz verão. Outras surpresas poderão acontecer daqui pra diante. Futebol é um esporte perigoso, muito diferente do Xadrez, um esporte silencioso, sem nenhum risco. Neste esporte, ninguém fratura a coluna... Só se joga com a cabeça, com o pensamento. Um desembargador, por exemplo, jamais quebrará a vértebra ao proferir um acórdão.

Mesmo que perca a Copa, o Brasil já ganhou, repito. Todo o seu imenso território, que tem a forma de um coração, acolheu gente de de todo o mundo. Chutes e gols fizeram a felicidade de muitos, conquanto por alguns momentos. Houve e está havendo muitos sorrisos nos rostos, muitos gritos nas bocas, muita alegria no povo, que precisa esquecer os maus políticos, que vêm por aí...

Assim, nosso país já é vitorioso ao se tornar uma atração mundial com seus estádios moderníssimos. Muita gente enriqueceu, muita gente esqueceu as tristezas, muita gente cantou o Hino Nacional, em que se diz que o nosso país dorme eternamente em berço esplêndido, pois a Natureza aqui é abundante. Não há montanhas vomitando fogo, o povo é pacífico, é gente de boa índole, e teve um homem extraordinário, que conversava com os espíritos, escrevia o que eles ditavam apenas com um lápis e os olhos fechados. É possível isto?

Foi possível. Daí a abundante literatura mediúnica que ele deixou. E deixou quando desencarnou, justamente na última Copa. Daí, decerto, veio o símbolo da Copa. A mão do Chico segurando o rosto.

Vamos adiante, lembrando que a bola é muito melhor do que a bomba atômica, pois, mesmo que não seja campeão, o nosso pai já ganhou. Ganhou na hospitalidade e no sorriso que ofereceu aos visitantes. No sorriso e na paz.

Vamos agitar a bandeirinha verde-amarela, vamos vê-la açoitada pela brisa, seja nos edifícios, nos carros e nas mãos das pessoas. Essa Copa foi um recreio para o povo. E como todo recreio, termina com a sineta da realidade que vem depois...

A propósito, ainda, do nosso corpo, o cosmo orgânico, muito desconhecido de todos nós, que tal abrir espaço para sua excelência o esqueleto...

A propósito, ainda, do nosso corpo, o cosmo orgânico, muito desconhecido de todos nós, que tal abrir espaço para sua excelência o esqueleto, a armadura que sustenta os nossos demais órgãos?

O grande cientista belga Vesalius, considerado o “Pai da Anatomia Moderna”, dizia que sem os ossos despencaríamos no chão como bolhas. Tudo que é carne desaparece logo com a morte, menos o osso. Está aí o esqueleto com o seu permanente sorriso triunfal.

Agora estou me lembrando de Shakespeare, no seu Hamlet, quando um dos personagens perguntava onde estaria Polônio e a resposta foi: “está num banquete, onde não come, mas é comido”, referindo-se ao túmulo.

A verdade é que os esqueletos, que moram nos cemitérios, chegaram a inspirar o grande compositor francês, Saint-Saens, a compor a genial “Dança Macabra”, uma impressionante página musical, em que os esqueletos, quando soa meia noite, saem dos seus túmulos e começam a dançar até que surge a alvorada e os dançarinos saem correndo para as suas covas.

Mas assim como há a “Dança do Fogo”, de Manuel de Falla, “A Valsa das Flores”, de Tchaikowsky, “A Dança das Horas”, de Ponchielli, por que os esqueletos não haveriam de dançar? Tudo é possível graças à imaginação.

Estou escrevendo aqui, e chega Alaurinda chamando atenção para a minha postura. A postura é tudo. Há pessoas chamadas “marrecas”, justamente, aquelas que andam curvadas.

Eu sempre convivi bem com o meu esqueleto, até que, um dia, me apareceu uma tal de estenose lombar, que terminou me levando para uma cadeira de rodas, numa das minhas viagens fora do país. E quem empurrou minha cadeira foi meu filho Germano. Sabe que cheguei a gostar do passeio sobre rodas, nas macias calçadas de Londres, que parecem um prato? Todo prefeito deveria dar, vez por outra, um passeio numa cadeira de rodas, para sentir o chão.

Voltemos ao esqueleto, com seu sorriso de caveira, como a dizer: ri melhor quem ri por último. Pena que a gente não possa mudar de esqueleto. Se isso fosse possível, não faltaria propaganda na TV. E quando víssemos uma pessoa muito espigada, diríamos logo num cochicho invejoso: “ela está de esqueleto novo”.

Cuidemos de nosso esqueleto, da postura e nada de preguiça. Há tantas ginásticas por aí. Presentemente estamos fazendo a gostosa hidroginástica, sob a orientação da jovem professora Catarina Guimarães, sempre atenta à nossa postura. E saímos da piscina com gosto de quero mais.

Viva, portanto, o osso. É ele que nos sustenta. A carne é fraca, forte é o osso. E cuidemos mais do nosso cosmo orgânico, que Deus nos deu, e nenhum homem é capaz de criá-lo. O homem que inventou o computador é incapaz de criar um mosquito. Mas Deus criou o nosso cosmo orgânico e o homem faz tudo para destruí-lo com a preguiça, álcool, droga, gula, fumo.

Mais um viva para os esqueletos que dançam, segundo a “Dança Macabra” de Saint-Saens, até chegar a madrugada, pois a vida não é nada mais do que uma dança.

Já está na hora de encerrar a crônica, e, antes que minha Lau venha com a recomendação: “cuidado com a coluna”, vou retirando os dedos do teclado deste computador, que se fosse um livro, levaria para a cama.

Mas fica o lembrete: não se esqueça de sua postura, assim como da compostura.

A gora é dizer, quem tem ouvidos, que ouça! Que seriamos de nós sem eles? Que o pintor seja surdo, o mesmo diríamos do arquiteto, do engenhe...

Agora é dizer, quem tem ouvidos, que ouça! Que seriamos de nós sem eles? Que o pintor seja surdo, o mesmo diríamos do arquiteto, do engenheiro, do escritor. E por falar em arquiteto, o nosso grande engenheiro-arquiteto Clodoaldo Gouveia, meu sogro, que não cheguei a conhecer, construiu belas obras, aqui na nossa Capital, inclusive o prédio do Liceu Paraibano. Dir-se-ia que via muito, porém, ouvia pouco. Ele foi um excelente auxiliar do presidente João Pessoa, que o admirava e estimava.

Voltando aos ouvidos, ao chamado pavilhão auricular, que seria de nós sem eles? Assim como há uma ética no falar, há também no ouvir. E, aqui para nós, há pessoas que gostam mais de falar do que de ouvir. São os chamados tagarelas, ou melhor, que falam pelos cotovelos. Dizem que a mulher do filósofo Sócrates, Xantipa, falava demais. Certa vez, exasperou-se diante do silêncio do marido, por conta de uma queixa, e jogou sobre ele um vaso d'água. O filósofo sorriu, enxugou-se e disse: “depois da trovoada vem a tempestade. ”

Aina bem que eu sou bom de escutar. E quando sinto embaraço no ouvir, corro logo para meus amigos otorrinolaringologistas, desde o Carneiro Arnaud aos doutores Hugo Guimarães, pai e filho, a quem devo, vez por outra, a revisão dos meus ouvidos. Que alívio bom vem depois de uma boa limpeza...

Deve ser uma tragédia não poder escutar a vida. Não poder ouvir, de madrugada, o canto dos bem-te-vis, o chiado da chuva, o rumor das ondas do mar, uma boa música. Aí sinto uma profunda tristeza em saber que o maior músico do mundo, o nosso grande Beethoven, perdeu a audição. Músico surdo é a mesma coisa de pintor cego. Narram que o gênio de Bonn não chegou a ouvir a sua última sinfonia, a Nona, a sinfonia que exaltou a alegria...

Bem-aventurados os que pensam, que vêem, que andam, que ouvem, que falam. Tem gente que possui tudo isso e ainda se julga infeliz... Quando eu estava tateando no jornalismo, aqui n'A União, pedi ao meu mestre Silvino Lopes um título para a minha secção diária. Ele não pensou duas vezes, foi logo sugerindo: ”Ver, ouvir e falar”. Que título, hein?

Jesus iniciou sua pregação com o chamado Sermão da Montanha, em que ele começa a dizer quem eram os bem-aventurados, os felizes. E eu completo o discurso, dizendo: felizes os que puderam ouvir tão belo sermão. Sermão tão belo que Gandhi chegou a dizer: se toda a literatura do mundo fosse destruída, mas restasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido...

Muito cuidado, portanto, com a boca, pois dela é que sai a palavra que fere, que destrói. Lembremos o que Jesus advertiu: “Que o seu falar seja, sim sim, não não.” Emmanuel, por sua vez, elucida: “Não comentes o mal, senão para exaltar o bem”.

Nessa série de crônicas, todas elas inspiradas no nosso corpo, só está faltando uma digressãozinha sobre a nossa armadura óssea. Que seria de nós sem ela...? O esqueleto é o único que fica quando todos os outros órgãos morrem. Dir-se-ia que a carne morre e o osso fica. Ah, aquele sorriso da caveira!...

S ó se vê gente alegre na rua. Gente sorrindo, fazendo as coisas correndo como se o mundo fosse acabar amanhã. E todo esse alvoroço por caus...

Só se vê gente alegre na rua. Gente sorrindo, fazendo as coisas correndo como se o mundo fosse acabar amanhã. E todo esse alvoroço por causa da Copa, que está mexendo com a cuca de muita gente. E essa ansiedade ainda vai aumentar quando for na hora do jogo. Coração batendo, mãos geladas, boca pronta para gritar o gol, que é tão gostoso como um orgasmo. Assim, como Arquimedes saiu correndo nu pela rua quando descobriu a lei da hidrostática, o torcedor é capaz de fazer o mesmo quando a bola entrar na rede...

Não censuro essa exaltação futebolística. Já fui tão fanático que na hora do jogo com o Brasil eu ficava tremendo que nem vara verde. Houve uma final da Copa que eu não aguentei assistir toda. Fui esconder minha emoção na praia. E fiquei esperando ouvir um foguetão anunciando um gol do Brasil.

Hoje a coisa mudou. Se eu for para a TV, será sem aquele entusiasmo de outrora. E talvez nem vá... Mas, se Deus é brasileiro como se diz, que o nosso país seja campeão. Mil vezes a gritaria, a exaltação, o culto da chuteira do que a guerra, que os Estados Unidos e a Rússia estão cogitando. Esses provocadores de guerra é que merecem o nosso repúdio.

Copa sim, guerra não. O povo brasileiro não cabe em si de contente. As bandeirinhas do país mais pacífico do mundo já estão tremulando nos carros. O país que deu berço ao maior médium do planeta, o nosso Chico Xavier, que morreu, justamente, quando o povo delirava com a vitória da “Pátria do Evangelho”, como dizem os espíritas. O Brasil de Chico Xavier.

E amanhã, terça-feira, é dia do meu aniversário. Um aniversário sem bolo, sem a modinha do “parabéns pra você”, quando se deseja para o aniversariante muitos anos de vida, uma prova de que todo mundo deseja a velhice, que é sinônimo de sabedoria. Sabedoria pra ver o povo contente, virando menino, ansiando pelo gol. O povo sem guerra, pacífico por natureza. Um povo sem Napoleão, sem Hitler, sem Stalin.

Sonhar com a bola na rede, com a Copa do Mundo, é melhor do que com a bomba atômica dos países fazedores de guerra. Vá ver que até as criancinhas, lá no Hospital do Câncer, estarão sorrindo e torcendo pelo Brasil... O povo é assim mesmo.

A belardinho muito contente com a publicação de seu recém-lançado livro, que tem título sugestivo. Lembrar que janela é símbolo de comunicaç...

Abelardinho muito contente com a publicação de seu recém-lançado livro, que tem título sugestivo. Lembrar que janela é símbolo de comunicação. O mestre José Américo já dizia que ir à janela é ir à ua sem sair de casa. Outrora, as janelas eram tudo de uma residência. Ah, as conversas pelas janelas... E haja conversa.

O nosso Abelardinho, doutor em um diferenciado colunismo social, que aprendeu com o seu mestre Heitor Falcão, é um homem em lua de mel com a vida. Teve um pai, o ministro Abelardo Jurema, com quem aprendeu muita coisa na vida, menos odiar. E eu fui aluno dele, de Literatura Brasileira, lá no Liceu Paraibano. Você precisava ver que elegância, no traje, no comportamento, no bom humor.

Este quinto livro que Abelardo publica é um documentário excelente da nossa vida social, de que o autor conhece a fundo. Uma janela escancarada do nosso cotidiano muito humano. Nele, o colunista-cronista rememora diversos personagens ilustres e não esquece o barbeiro Tião, cuja tesoura cortou o cabelo de muitos governadores, inclusive os de José Américo de Almeida, que não me deixe mentir a escritora Lourdinha Luna.

Abelardo alude ao exílio do pai no Peru, um dos momentos dramáticos de sua vida política. Mas o exilado não perdeu a dignidade, chegando a dizer: “É nos momentos difíceis que o homem cresce e amadurece”. A Paraíba deve muito ao ex-ministro Abelardo Jurema, pois foi de sua mão que saiu a federalização de nossa universidade.

Estou aqui com “Na Janela da Cidade”, o livro que virou realmente janela. Uma beleza de impressão gráfica. Como já disse, um livro que dá vontade de beijá-lo, e valorizado com o prefácio do acadêmico Damião Ramos Cavalcante, posfácio do arquiteto e cronista Germano Romero e “orelha” do jornalista Kubitschek Pinheiro.

Abelardo pai já se imortalizou nas Letras. Por que o filho também não se imortaliza, unindo-se ao pai, cada vez mais, merecidamente?

Digo com toda a sinceridade. Este “Na janela da cidade” tem a cara da cidade. Não a cidade do Rio de Janeiro, onde o autor nasceu, mas a da Capital das Acácias, onde o sol nasce primeiro!

D esde que eu estou no mundo, nunca vi este acordo entre o sol e a chuva. Sempre um dia um, um dia o outro, na mais agradável parceria. Um d...

Desde que eu estou no mundo, nunca vi este acordo entre o sol e a chuva. Sempre um dia um, um dia o outro, na mais agradável parceria. Um dia céu nublado, friozinho correndo pelo corpo, pedindo roupa mais quente. No outro dia, o sol sorrindo, aquecendo o nosso corpo, mostrando um firmamento todo azul. Dia seguinte, cai a chuva, e aí dá aquela vontade para uma caminhada debaixo d'água.

Sol e chuva, frio e calor, água e luz, que a vida é feita de contrastes. A monotonia traz depressão. Ler e ouvir boa música é muito gostoso. Dormir nem se fala. Pensar muito mais. E ainda tem mais esta: a chuva, o frio, o silêncio são condições maravilhosas para a reflexão, para a conversa interior, para o filosofar. Já o sol é propício para a distração. Dir-se-ia que o sol propicia a poesia e a chuva a filosofia. Até rimou. Lembrar que as grandes filosofias nasceram nos países frios.

Mas voltemos á crônica. Lá fora o sol esbanja luz e parece gritar para o cronista: “Saia daí. A praia está uma beleza”. E eu fico a imaginar como a praia deve estar mesmo bonita, a areia limpinha, o céu azul, o mar brincando com as ondas, feito menino...

Pra falar a verdade, gosto mais de países quentes, embora tenha nascido numa terra fria de gelar: Alagoa Nova, onde o sol é escasso e as pessoas se valem dos cobertores e da cachaça para esquentar o corpo. E eu soube que a cachaça é o que anima os festivais de arte que ali se realizam...

Mas o clima está assim, instável. Chuva hoje, sol amanhã, coisa que nunca vi antes. Que dizem os entendidos de meteorologia sobre esse fenômeno?

Diz a modinha, que ouvi muito na minha infância: “Chuva com sol, casa-se a raposa com o rouxinol”. E eu imaginava que isso era verdade...

Mas a verdade é que tem vez que estou doido por um dia chuvoso e vice-versal

E viva a reflexão a que nos condiciona a chuva, e a distração que nos proporciona o sol. Muita água caindo do céu e muita luz iluminando os nossos caminhos...

E vidente que há outras riquezas em nosso corpo, mas desejei começar pelas mãos, que a gente deveria beijar, toda vez que acordasse, manhã c...

Evidente que há outras riquezas em nosso corpo, mas desejei começar pelas mãos, que a gente deveria beijar, toda vez que acordasse, manhã cedo. As mãos são tão importantes como os olhos. Que digam os destituídos de visão, cujas mãos são seus olhos.

Mãos de pedreiros, de pianistas, violinistas, de maestros, arquitetos, de pintores, de escritores, dos artistas em geral. Mãos que ferem, mãos que acariciam. Mãos de mães acalentando os filhos. Mãos que abençoam e mãos que amaldiçoam. Mãos que castigam, mãos que indicam o bom caminho.

Você, às vezes, se sente infeliz e esquece as riquezas que possui. Coisas que não daria por nenhum preço.
Bem-aventurados aqueles que sabem fazer bom uso de suas mãos. Estou agora mesmo no teclado deste computador em que as minhas vão formando palavras. E a moda agora é o smartphone, é o iPad, que não dispensam as mãos.

São as mãos que levam a colher até as nossas bocas, ajudando-nos a alimentar. Mãos que dirigem veículos. Mãos de crianças, de adultos e de idosos. Vi muitos destes últimos se apoiando em suas bengalas nos países que visitei recentemente.

Outrora, falava-se em pedir a mão da moça, isto é, pedi-la em casamento. Nos esportes as mãos são indispensáveis, seja no voleibol, basquete, e até no futebol. E as mãos de cirurgiães, como são valiosas?!

Mas vamos adiante. Que dizer das mãos que limpam leprosos, como as de Madre Teresa de Calcutá, a mão de Chico Xavier que escreveu centenas de livros profundos de filosofia e ciência, conquanto tivesse apenas o curso primário. Chico Xavier psicografava de olhos fechados, minha gente, e em idiomas que jamais estudara!

E que dizer de Jesus, cujas mãos levantaram paralíticos, deram vistas aos cegos, curaram leprosos? Mãos que terminaram pregadas numa cruz, sob fortes e dolorosas marteladas. Mãos de Jesus abençoando crianças e dizendo que delas é o Reino dos Céus.

Mãos! Como as adoro. E ontem, ao meio dia em ponto, vi um homem, em pleno trânsito, sem as mãos. Muitos fingiam que não o viam. Olhar implica em responsabilidade. O pedinte segurava um caneco com os braços, e ainda esboçava um alegre sorriso de amor e paz.

As mãos! Dizem que nelas está escrita a nossa existência, se longa, se curta. Pelos traços que formam um “M”, vejo que a minha vida se alonga.

A crônica já vai se alongando, e já é o momento de retirar as mãos do computador. Mais ainda: beijá-las!

E como disse no início, há muitas outras riquezas neste cosmo orgânico que é o nosso corpo, a começar pelos nossos olhos. Riquezas que nos foram dadas, pelas quais não pagamos sequer um centavo.

Olhos, mãos, pés, não esquecendo a maior de todas as nossas riquezas: a mente, espelho de nossa vida, que pode refletir o bem e ou o mal.

P edra, símbolo de inflexibilidade, de dureza e firmeza, foi sempre citada no Evangelho, a começar quando Jesus se dirigindo ao apóstolo Ped...

Pedra, símbolo de inflexibilidade, de dureza e firmeza, foi sempre citada no Evangelho, a começar quando Jesus se dirigindo ao apóstolo Pedro, disse: “Tu és pedra e sobre ti edificarei minha igreja”.

Acontece que a pedra era humana. Daí ter dito, diante do tribunal que julgou Jesus, que desconhecia o seu mestre. Fato que ocorreu “antes que o galo cantasse”, como foi previsto.

A pedra também foi obstáculo no belo poema de Drummond e que começa: ”No meio do caminho tinha uma pedra”. Mas, deixemos Drummond e voltemos a Jesus, que começou a marcha da evangelização, num monte ou montanha, quando proferiu o mais belo sermão de todos os tempos, a ponto de o iluminado Gandhi dizer que se tudo acabasse, restando apenas o Sermão, nada estaria perdido.

Montanha é pedra. Pedra silenciosa. Pedra que fala. Jesus escandalizou os judeus quando disse que o templo de Jerusalém seria derrubado, não ficando pedra sobre pedra.

No episódio da Mulher Adultera, acusada pelos fariseus, o Mestre não fez nenhum julgamento. Apenas disse “aquele que estiver sem pecado, que lhe atire a primeira pedra”.

A pedra sozinha não fere ninguém. É neutra. E quem a utiliza para o mal, responde pelo ato. No “Sermão da Montanha” Jesus ensinou que casa construída sobre rocha, isto é, sobre a pedra, não ruirá, mesmo que venha tempestade.

Na tentação no deserto, o Diabo desafiou Jesus a transformar pedras em pães, querendo, assim, testar Jesus. É o que narram as escrituras.

A pedra não serve de travesseiro. Todavia, num momento de profunda melancolia, fez Jesus esta dolorosa confissão: “O Filho do Homem não tem uma pedra para repousar a cabeça". Inobstante exaltemos a pedra como símbolo de fé, a água pode simbolizar o amor. Tanto é assim que, segundo o ditado, ”água mole em pedra dura, tanto bate até que fura".

Portanto, não esqueçamos a didática da pedra. Ela ensina fé e firmeza. Jesus, ao deixar o mundo, disse que era seu verdadeiro discípulo: aquele que muito ama. Será que estamos cumprindo a receita do Mestre? Já não digo amando, mas pelo menos compreendendo o próximo?...

“O homem é Pedro”. Sim, este foi o “slogan” da vibrante campanha eleitoral que levou Pedro Gondim ao Palácio da Redenção, por conseguinte a...

“O homem é Pedro”. Sim, este foi o “slogan” da vibrante campanha eleitoral que levou Pedro Gondim ao Palácio da Redenção, por conseguinte ao governo do nosso Estado. Nenhuma campanha antes excedeu esta, em entusiasmo, em exaltação popular, em loucura mesmo. E vinha a indagação: “Está com Pedro ou está com medo?” A resposta tinha de ser: “Não, estou com Pedro”.

Moço, bonito, inteligente, de uma irradiante simpatia, a verdade é que o meu conterrâneo de Alagoa Nova, Pedro Gondim, honrou o mandato que o povo lhe confiou. Se teve defeitos, quem não os tem?

A verdade é que ele foi eleito. O homem era Pedro, mesmo. Pedro que lembra pedra. Não sou político. Não participei de sua campanha. Fiquei no meu canto. Mas não é que o meu amigo e conterrâneo achou de me convocar para o seu governo... Fui convidado pelas mãos do elegante Chefe da Casa Civil Edigardo Soares, para assumir a subchefia daquele importante cargo.
Não tive como recusar tão importante comenda. Conquanto, essencialmente, apolítico, eis-me num setor, visceralmente político. Comoveu-me aquela honrosa distinção, que implicava numa grande responsabilidade.

Tudo ia muito bem quando o governador achou de me convidar para a primeira incumbência de seu governo: participar da mesa de julgamento de um concurso de misses em Campina Grande. Fomos eu e minha primeira esposa Carmen. Missão difícil, porquanto as garotas eram lindas...

Mas depois dessa primeira incumbência, no novo governo, participei com muito entusiasmo em todos os empreendimentos culturais, lembrando que o dinâmico governador foi um grande incentivador das artes. O centenário do ex-presidente Epitácio Pessoa foi brilhantemente comemorado, resultando na inauguração da Cripta em sua homenagem existente no nosso Tribunal de Justiça. Não esquecer que foi o governador Pedro Gondim quem proporcionou a filmagem de “Menino de Engenho”, do nosso José Lins do Rego, que redundou num grande sucesso.

Não esquecer também que o Plano de Extensão Cultural de seu governo teve a melhor repercussão. Foi com muito orgulho, o bom orgulho, que dei o meu suor aos empreendimentos culturais do Governo, destacando a colaboração de Itapuan Botto, chefe do Cerimonial da Casa Civil, hoje imortal da nossa Academia de Letras, elegante, educado, um verdadeiro diplomata.

Pedro Gondim, poucos sabem, era poeta. Muitos de seus poemas eram voltados para justiça social. Ele era um homem boníssimo que não sabia odiar. Para o seu trabalho de chefe de governo contou com a ajuda de sua esposa Sílvia, que ele chamava, carinhosamente, Silvinha. Um bom e carinhoso pai de família.

Pedro Gondim... A primeira vez que eu o ouvi foi numa palestra que ele pronunciava na Associação Comercial, lá no Varadouro. Elegante, simpático, fluente, sua palavra muito me impressionou. Depois o vi como deputado. Um homem sem abordagem difícil. Simples, otimista, ativo. Não me esqueço de sua presença no sepultamento do corpo de meu pai, lá no Cemitério da Boa Sentença... Quando terminei de falar, dizendo “até logo meu pai”, ele veio ao meu encontro, com lágrimas nos olhos, dizendo: “que comovente e cheia de fé a sua despedida”...