A vida é cheia de interrogações, reticências, dois pontos, interjeições, traços de união, e viva a aritmética da vida. Com a reticência, su...

A dramática indagação

A vida é cheia de interrogações, reticências, dois pontos, interjeições, traços de união, e viva a aritmética da vida. Com a reticência, suspendemos o discurso, finalizamo-lo com o ponto, mas o que mais mexe com a gente é a interrogação. É ela que nos conduz à sabedoria.

Foi interrogando as pessoas que Sócrates ensinou a sua filosofia. Ninguém aprende com uma pessoa calada. Pobre daquele que não indaga, que não perquire, que não busca o conhecimento. E, aqui, ergo um brinde às crianças por muito perguntarem. As crianças e os filósofos. A interrogação mexe com a gente. Desafia-nos. É ela que, muitas vezes, nos perturba, nos inquieta.

Viver é indagar. Diz um estúpido ditado popular que “quem tudo quer saber, mexerico quer fazer”. Discordo da chamada sabedoria popular, e acho que quem tudo quer saber denota inteligência e perspicácia. E, às vezes, quem indaga não exige resposta. Indaga só por indagar, instigar à reflexão. Foi o caso de Pilatos quando perguntou a Jesus o que era a verdade. A indagação exigiria uma grande resposta. E eu fico pensando: Jesus poderia ter dito o que disse, depois, aos discípulos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Mas quem sou eu para aconselhar Jesus...

Prosseguindo na crônica, se me perguntassem qual a maior pergunta de todos os tempos? Eu responderia sem pestanejar: qual a finalidade da vida? Por que estamos aqui no mundo? Será que tudo termina num viver e morrer, e pronto? Suponhamos que você acordasse, altas horas da noite, sem saber que estava dentro de um navio. Qual seria sua primeira pergunta? Ora, ora, cronista... Indagaria: Onde eu estou e para onde vou depois dessa viagem?

O escritor Léon Denis, no livro extraordinário “O problema do ser, do destino e da dor”, conta que um professor universitário perdera uma filha, fato que lembrou o problema da imortalidade. Desesperado, foi ao encontro dos colegas pedindo-lhe uma palavra de consolação. Frieza total. Os colegas mudaram de assunto. Aí lamentou ele: “pedi um pão e me deram uma pedra”...
Narra, ainda, Léon Denis este dramático monólogo de outro professor universitário: “Estou na Terra. Ignoro, absolutamente, como aqui vim ter e o que será de mim quando daqui sair”.

A verdade é que poucos têm coragem de fazer tal monólogo. E fazem tudo para esquecer o problema da imortalidade. Vivem como se fossem eternos no corpo de carne. E haja diversão para esquecer a reflexão. Há tantas atrações, tantos divertimentos para esse alheamento...

Mas no túmulo de Allan Kardec, lá no Père Lachaise, de Paris, há uma inscrição que diz: “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”. Haverá mensagem mais consoladora do que esta? Ou tudo fica no morrer e pronto?

Como disse no começo, necessitamos das interrogações. São elas que nos fazem pensar e o homem é um animal que pensa. Lembro agora do escritor francês Anatole France que dizia ter muita pena de seu gato, porque não pensava...

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