março 23, 2014
A deus é uma palavra que não dá esperança e a vida vive de esperança. Mais do que de esperança. A vida vive de fé. Quando esta enfraquece, s...
Adeus é uma palavra que não dá esperança e a vida vive de esperança. Mais do que de esperança. A vida vive de fé. Quando esta enfraquece, surge o desânimo. E o desânimo leva à depressão, a doença da moda.
Continuemos: a vida é, sobretudo, um ato de fé. A começar pelo nosso corpo, uma verdadeira e magnífica oficina. Todos os órgãos exercendo suas funções, em silêncio. Respiram os pulmões, bate o coração, corre o sangue, num silêncio e disciplina admiráveis.
Quando uma pessoa perde a fé, suicida-se. E o suicídio é a busca do nada, sobretudo se o suicida pensa que tudo se acaba no túmulo e não acredita em outra vida.
Toda a natureza entoa um hino silencioso de fé. As árvores com os seus frutos, as plantas com suas flores, os rios, o mar, as nuvens, os pássaros, todos saúdam a vida. E as humildes, anônimas e invisíveis raízes, que sustentam as árvores, quanta fé elas demonstram. Fé e humildade. Ninguém ainda se lembrou de enfeitar uma mesa com raízes. Elas são feias...
A vida é a maior demonstração de fé, de confiança, de otimismo. Só os suicidas é que são dominados pelo desânimo.
Palavra, no nosso vernáculo, de apenas duas letras, a fé comparou Jesus a uma semente de mostarda. E esta semente seria capaz de derrubar uma montanha. Que beleza!
Foi o Mestre que, em certa manhã, achou de sair caminhando sobre as águas. Para não caminhar sozinho, convidou Pedro para acompanhá-lo. O apóstolo se dispôs a ir. Mal começou a caminhar, quando veio o vento. Assombrado, ele ia se afundando, quando Jesus o salvou, dizendo: “Ah homem de pouca fé. ”
Não façamos como Pedro. Diante de Jesus, jamais pense em se afundar. Tenha sempre fé. Tanto é assim que você está sempre dizendo: “Até amanhã”, “até logo”, “amanhã, estarei lá”.
Portanto, nunca diga adeus. Lembre-se de que há sempre uma madrugada atrás do crepúsculo.
Fé alimento, fé remédio. Foi com a fé que Jesus curou muita gente. Cuidado, portanto, com o desânimo, o pessimismo, a descrença. E nunca diga adeus...
março 23, 2014
março 22, 2014
S im, se não fosse o vento, que seria da vida? O vento é que anima tudo. Vento parado, cognominado de calmaria, foi o grande medo dos nossos...
Sim, se não fosse o vento, que seria da vida? O vento é que anima tudo. Vento parado, cognominado de calmaria, foi o grande medo dos nossos descobridores. Graças ao vento, empurrando as nossas caravelas, é que descobriram as Américas.
O vento é um grande símbolo do otimismo, da alegria, de esperança, de fé na vida. Mesmo quando ele se transforma em furacão, é bem-vindo. Há necessidade, às vezes, de uma varredura, de uma lavagem na atmosfera. O Deus-natureza sabe muito bem o que faz.
Foi do medo de um furacão que, certa vez, os apóstolos se assombraram, temendo um naufrágio. Mas o Mestre estava atento e pediu que todos ficassem tranquilos, e tudo terminou bem. Não devemos esquecer que o medo é o avesso da fé.
Como eu disse, no inicio da crônica, se não fosse o vento, tudo estaria paralisado. As árvores, o mar, os rios, as nuvens, a própria vida. Quando respiramos, estamos trazendo o oxigênio para a nossa vida. E nunca temos consciência desse ato tão importante. O oxigênio, o maior alimento, que Deus nos deu, gratuitamente. Alimento sem sabor, mas de muito sabor, até rimou.
Se não fosse o vento, teríamos a morte ao invés da vida. A criança recém-nascida, quando recebe o primeiro ar pelas narinas, chora pelo impacto do primeiro ar que inspira. Os pulmõezinhos ainda não estão acostumados com tanto oxigênio.
Já imaginaram todas as árvores do mundo paradas que nem estátuas? Seria uma desolação total. As árvores dançam com o vento, sorriem com o vento, se cumprimentam com o vento. Ah, os cataventos! Pessoas sem ânimo, sem sorriso, pessimistas são como árvores paradas, sem vento.
E é o vento que limpa a calçada, onde as árvores, a exemplo das castanholas, jogam as folhas secas no chão, num exemplo de renovação e fé na vida.
O tempo é uma espécie de vento. Quanta coisa eles nos leva. E viva a calmaria para a reflexão e a tempestade para a nossa evolução.
Repitamos: Ah se não fosse o vento...
março 22, 2014
março 22, 2014
A h, foram muitas! Histórias de excitarem a imaginação do caçula. Seja na saúde, seja na asma, ela quebrava o silêncio do sítio com a sua vo...
Ah, foram muitas! Histórias de excitarem a imaginação do caçula. Seja na saúde, seja na asma, ela quebrava o silêncio do sítio com a sua voz terna e suave. Nunca deixei de ir para o leito, dormir, que não fosse com a cabeça excitada pelas histórias que ela narrava. Histórias de fadas, bichos que falavam de bruxas horrorosas, mistérios. Não sei onde ela foi aprender tanta coisa, pois era funcionária federal, concursada, com grande parte do tempo fora do lar.
Além dessas histórias de fadas e bruxas, vez por outra, vinha com uma leitura mais séria. Narrou-me trechos do “Menino de Engenho” do nosso José Lins do Rego, depois veio com “Doidinho” e assim por diante. E como sabia interpretar os personagens das histórias que contava! Imitava a voz de uma bruxa, de um animal de uma Branca de Neves, e até de uma sereia.
Mas, uma vez, ela me surpreendeu com uma leitura séria, cientifica, sobre a importância da alimentação, dos cuidados com o corpo, do perigo do fumo.
Lembro da história de um homem ignorante, do bicho Tiemunzenga, que morava no sítio do diabo. Só o nome dá para assustar. A história mais dramática era a da velha feiticeira, que terminou sendo queimada pelos netos. As chamas devorando-lhe a carne, e a feiticeira gritando: "Água, meus netinhos". E estes, sorrindo, só faziam dizer: "Azeite, senhora vó”.
Havia também aquela história de João e Maria, que saíram para a floresta, jogando milhos no chão, a fim de acertarem o caminho de volta. Mas chegaram os passarinhos e comeram o milho... Perdidos, os meninos choravam. E o choro chegou também aos nossos olhos. Mas, no final da história, minha mãe, sorrindo, nos consolava: “É tudo mentira”. E vinha aquela reiterada recomendação: "Vão rezar e dormir.”.
E aquela história de um menino que não queria estudar e terminou na miséria? Esta arrancou lágrimas da gente. Ao mesmo tempo serviu de advertência aos que não estudam, que não leem livros. Por fim, a bela história de Branca de Neve e os 7 anões, que muito nos comoveu.
Como minha mãe sabia interpretar os personagens das histórias que narrava!... E o bom mesmo era quando eu adoecia com asma, doença que tanto me torturou. Ela passava horas e horas comigo, na cama, eu ardendo de febre e respirando com muita dificuldade. Tanto era o carinho materno, que eu cheguei a gostar da doença...
Minha mãe era assim. Uma mulher extraordinária. Trabalhadora, otimista, corajosa, inteligente e culta. E muito bonita, mesmo com a idade avançada. Como já disse, ela cuidava muito da aparência. E dizia que deveríamos, vez por outra, dar uma olhadela no espelho, que não mente.
Morreu dormindo. Decerto, despertou para a vida espiritual com aquele seu habitual sorriso de ternura e de otimismo.
Dona Pia, Maria Pia, dona Piinha para os íntimos. Das frutas, a que mais apreciava era a pinha. E dizia, sorrindo, “gosto desta fruta não só pelo sabor, mas também por ter o meu nome”...
A esta altura já devem estar indagando: “e seu pai?” Meu pai, José Augusto Romero, de quem já falei em crônicas anteriores, se harmonizou muito bem com a esposa, inobstante a diferença de temperamentos. Ele, meio introspectivo, ela expansiva. Ele preocupado com os grandes problemas da vida, ela vivendo o “aqui e o agora”. Ela mais imanente, ele transcendente.
E eu feliz por tê-los como pais, cada um com o seu estilo de vida. Ambos souberam desempenhar, com muita responsabilidade, a tarefa que Deus que lhes confiou.
Mas antes de concluir a crônica, que tal um lenço para enxugar as lágrimas do cronista? Ainda bem que começou a chover. Minhas lágrimas se misturam com as lágrimas que caem do céu...
março 22, 2014
março 16, 2014
E screvi, há alguns dias, uma crônica sobre o “Jesus-luz”. Mas há quem prefira o “Jesus-cruz”. Tanto é assim que ele continua, como lembranç...
Escrevi, há alguns dias, uma crônica sobre o “Jesus-luz”. Mas há quem prefira o “Jesus-cruz”. Tanto é assim que ele continua, como lembrança, pregado numa cruz. Dir-se-ia uma lembrança meio masoquista e nada cristã. Gostaria de ver, ao invés de Jesus sangrando numa cruz, Jesus de braços abertos, sorrindo, pregando, bendizendo as criancinhas, exortando-nos a olhar os lírios do campo!
Mas deixemos a luz e fiquemos com a água, elemento que serviu de didática do Evangelho. E tudo começou com o batismo na água do rio Jordão. E como começou a sua jornada? Numa festa, onde transformou água em vinho. O vinho como símbolo de alegria e confraternização.
Lembrar ainda que ele convocou seus primeiros apóstolos à beira-mar, justamente no momento em que estavam pescando. Nenhum deles recusou o convite daquele homem bonito, sereno, de olhos profundos e bons. Iriam deixar a água pela terra.
Mas o encontro mais significativo da didática evangélica foi naquele encontro de Jesus com a mulher samaritana. Ela ia ao chafariz, buscar a água que mata a sede. Foi aí que o Mestre lhe ensinou que água verdadeira, a água viva, era o seu Evangelho, que mata a sede para sempre.
E que dizer daquela caminhada no mar, deixando os apóstolos assustados? Ele pisava sobre as ondas como se estivesse sobre um tapete. Pedro ficou maravilhado. Não estava acreditando no que via. Aí se animou em acompanhar o Mestre. E este, sorrindo, fez aquele amável convite: "vem Pedro até onde estou". E o apóstolo foi. Chegou a dar alguns passos sobre as ondas. Veio, porém, o vento e ele se assustou. E se assustando teve medo. Não fosse o Mestre e teria se afogado. “Ah, homem de pouca fé” - disse Jesus.
É isto, não existe fé onde existe o medo. O medo é a fé pelo avesso. O mar serviu mais uma vez de didática, a água do mar... Até mesmo na cruz, quando ele suando, morto de sede, pediu água e lhe deram vinagre... Portanto, assim como a luz, a água ilustrou muito de seus ensinamentos.
março 16, 2014
março 15, 2014
S im, parece incrível, mas aconteceu. Minha mãe viveu mais de um século. Saiu dessa longa existência com a consciência tranqüila. Dir-se-ia ...
Sim, parece incrível, mas aconteceu. Minha mãe viveu mais de um século. Saiu dessa longa existência com a consciência tranqüila. Dir-se-ia sorrindo, porquanto pessimismo não era com ela.
Já estou ouvindo ela dizer: “para que estar contando essas coisas para o jornal?" E haja muxoxo. Mas pouco importa, pois sua existência foi um curso de fé na vida.
Nasceu numa terra chamada Canafístula, aqui perto de Pilar. Nome que depois foi mudado para Caldas Brandão, um político, o que a fez fazer não sei quantos muxoxos de protesto. “Canafístula, o nome de uma árvore”...
Mas vamos a dona Pia, nome que ela mudou para Maria Pia. E me dizia, sorrindo: "nome de rainha" Casou-se muito moça com Alfredo de Barros, que morreu jovem, devido a uma pancada de vento, manhã cedo, ao abrir a porta. Dele teve dois filhos: Alfredo e Eudes, que foi poeta, jornalista e escritor.
Com dois filhos e muito bonita, sua viuvez durou pouco. Seu pai Vicente, negociante e tocador de clarinete, desejava que ela se casasse logo. Minha mãe, inimiga da ociosidade, inteligente e corajosa, tratou logo de arranjar um emprego federal, mediante concurso, isto numa época em a mulher, por força dos preconceitos, não deveria trabalhar fora de casa. Dona Pia fez concurso para telegrafista. E a viuvez não demorou muito. Logo lhe apareceu um homem muito elegante, bonito e culto. Era o meu pai, José Augusto Romero, que foi agricultor, dedicando-se ao plantio e colheita do café, para depois se tornar professor, preparando os jovens para o exame de admissão no tradicional Lyceu Paraibano.
Meu pai, como já contei, foi seminarista. Depois se tornou espírita. Minha mãe, que era, em Alagoa Nova, zeladora do coração de Jesus, terminou aceitando a religião do marido.
Ela tinha, quando moça, longos cabelos. Era a moda da época. E diziam que cabelo curto era para mulher vulgar. Pois não é que dona Pia, numa visita que fez à capital, notou que muitas mulheres estavam aderindo à nova moda, e não pensou duas vezes. E ei-la afrontando a sociedade de Alagoa Nova com o cabelo da moda.
Ela era assim: resoluta, corajosa, inteligente, otimista, cuja vida foi um exemplo de coragem, dignidade e responsabilidade. Adorava ler. Decifrava charadas e palavras-cruzadas como ninguém, e chegou a fazer versos. Outra coisa que ela adorava: música. Musica erudita. Muitas vezes a vi, já velhinha, com o rosto molhado de lágrimas, ouvindo Beethoven, Mozart, Chopin, seus compositores prediletos. Ela mesmo era uma musicista, pois tocava flauta. Fez questão que suas filhas Ivone e Iracema, aprendessem piano.
E a sua alimentação? Sóbria. Não dispensava o ponche diário de beterraba com laranja e cenoura. Comia pouco. Adorava vestidos coloridos. Toda semana estava no salão de beleza. E sempre me dizia: "meu filho, velhice quer trato". Era alegre e otimista. Costumava dizer: “não gosto de velho relaxado”. Uma casa velha com pintura nova é outra coisa.
Teve oito filhos. E era tão decidida que chegou a fazer um parto, sozinha, já que a parteira estava demorando, e quando chegou, o menino já estava fora, esperando apenas o corte do cordão umbilical. Que mulher admirável!
março 15, 2014
março 10, 2014
A h, as doenças! Quem não as teve, nesta vida, que começa num berço e termina num túmulo? Saber que nunca houve uma pessoa de saúde completa...
Ah, as doenças! Quem não as teve, nesta vida, que começa num berço e termina num túmulo? Saber que nunca houve uma pessoa de saúde completa! Mas estamos neste mundo para sofrer e aprender. E como a enfermidade ensina a gente! Eu tenho sido uma pessoa razoavelmente sadia, ao longo de minha bela existência.
Menino de 3 anos, fui operado de um caroço na nuca, cuja cicatriz ainda continua. E quem o tarjou foi um farmacêutico de Alagoa Nova.
Vamos a outra enfermidade: a asma ou “puxado”, que me deixava no leito noite adentro. Minha mãe suavizava a situação contando-me belas histórias, desde Branca de Neve a Ali Babá e os 40 ladrões. Minha imaginação delirava. A doença me deixava arquejante. Fiquei bom da asma, mas com saudade das histórias que ouvi na voz doce de minha mãe.
De lá pra cá, a saúde não foi mais afetada. Depois vieram o sarampo, a urticária e papeira. Doenças da moda. Eu me vangloriava dessas enfermidades. Há pessoas que adoram contar as doenças que já teve, como estou fazendo agora.
Continuei com uma saúde de ferro, até que apareceram umas tonturas. Tive de ir a um neurologista de Recife, Dr. Manuel Caetano. E as tonturas foram desaparecendo, e entrei num período de ótima saúde. Meu propósito, agora, era me preparar contra as enfermidades. Comecei a praticar as caminhadas, aqui em Tambaú e cuidar de uma boa alimentação. E quem nos incentivou para isso foi meu filho caçula, Germano, que conheceu a alimentação integral através de uma amiga. E viva os grãos e cereais que continuam acedendo meu apetite, sem esquecer a papa de aveia!
De lá para cá eu tive uma saúde de ferro. E tudo começou quando aboli o vício do cigarro. Não fosse isso, já estaria domiciliado no Cemitério da Boa Sentença. Quem não pode se livrar desse vício está se suicidando.
Mas vamos adiante. Nestes últimos tempos, fui acometido de uma estenose lombar. E a crise ocorreu justamente no início de uma viagem a Israel e Europa. Passei muitos dias com dificuldade de andar, mas, mesmo capengando, ainda deu pra conhecer vários lugares narrados pelo Evangelho, em Jerusalém. E cheguei até a me sentar numa pedra que, ao que se informou, recebeu as vibrações do Mestre.
Mas a estenose continuava a doer fortemente, a ponto de procurar uma cadeira de roda. Tive de fazer uns exames num grande hospital de Tel-Aviv. Sofri muito, até que chegou a vez de terminar o nosso circulo de viagem, em Londres. Não andava mais a pé e sim na cadeira de roda, que foi uma maravilha. Rodei várias ruas londrinas sentado na macia cadeira. E sabe quem me empurrava? Meu Germano.
Caminhando no chão de Londres eu vi como o seu calçamento é um prato. Não se vê um obstáculo ao deficiente naquela superfície de cidade supercivilizada. E vem, aqui, esta ilação: todo prefeito deveria andar numa cadeira de rodas, como instrumento de trabalho, para se informar do estado de conservação das calçadas. E viva meu “filho Babá”, e os cuidados de minha adorável Alaurinda!
A vida tem desses imprevistos, que se transformam em lições. E, aqui para nós, é na enfermidade que a gente reflete, e refletindo, amadurece.
Mas, viva a saúde, seja a do corpo, seja a do espírito, a mais importante!
março 10, 2014
março 09, 2014
M anhã de 8 de março, dia do aniversário dele. E pelo fone, logo cedo, me beijando e abraçando, o caçula foi dizendo que eu sou o maior pres...
Manhã de 8 de março, dia do aniversário dele. E pelo fone, logo cedo, me beijando e abraçando, o caçula foi dizendo que eu sou o maior presente para comemorar a significativa data. Enquanto ele me dizia isso, hoje homem feito, já realizado como arquiteto e como cronista, pus-me a me lembrar do seu nascimento, por via cesariana, aqui em João Pessoa, e já galego. Veio fazer companhia ao primogênito Carlos, nascido em Campina Grande e hoje PhD em Física, ora vejam só...
Mas, voltando ao meu aniversariante, ele foi autor de muitas travessuras e alturas. Tanto é assim que, com 7 anos apenas, pediu para subir, sozinho, numa roda-gigante e num “polvo” da Desta das Neves. E a mãe quase morreu de medo. O menino subiu e ainda pediu bis, no que não foi atendido.
Nunca foi castigado. Nem uma leve palmada sofreu. Era um peralta admirável, que fazia amigos com muita facilidade. Difícil não gostar dele. E, aqui para nós: o menino era bonito de morrer, como se costuma dizer.
Aprendeu a gostar de música erudita ainda criança, com a tia Iracema, que era pianista, e terminou se bacharelando em Música. E como eu gosto de ouvi-lo tocando “A Maré Encheu”, do nosso Villa-Lobos.
Inquieto por natureza, parece dizer: ”pernas para que te quero”. É um globe-trotter admirável. Conhece o mundo a fundo. E não satisfeito de levar suas impressões de turista culto e sensível para o jornal, ainda acha de contar tudo que vê nas viagens, no quadro Parada Obrigatória, do programa da RCTV, “Cá Entre Nós”, num interessante diálogo com a inteligente Rose Silveira,
Mas o diabo é que o caçula não quer viajar só, e acha de me levar em sua companhia, ao lado da boadrasta Alaurinda. E não ficou nisso. Achou de me dar um presente de aniversário: Escolheu Paris, minha cidade favorita, para passarmos este carnaval.
Pois é esse galego, meu caçula, que no seu aniversário o meu desejo era pegar um globo terrestre, envolvê-lo com um papel colorido e dizer-lhe: “está aqui o presente que você me deu e continua dando: conhecer o mundo lá fora”.
E viva o garoto das travessuras, e arquiteto das alturas, que só pára no programa de Rose, quando faz o Parada Obrigatória.
março 09, 2014
fevereiro 23, 2014
C onquanto a História não diga, mas a imaginação contou tudo que houve depois que Jesus deu o último suspiro na cruz e Satanás saiu, alegre,...
Conquanto a História não diga, mas a imaginação contou tudo que houve depois que Jesus deu o último suspiro na cruz e Satanás saiu, alegre, abraçando e agradecendo ao povo que o libertou. Só o “Bom Ladrão” não quis participar dos festejos, que, hoje, poderíamos cognominar de carnavalescos. O Bom Ladrão já estava no paraíso da consciência tranquila, como prometeu o meigo nazareno.
E decerto foi um festão depois que o crucificado expirou. E houve até blocos com bandas e seus pitorescos nomes, a exemplo de “Maçã Podre”, ”Coceira no sovaco”, e assim por diante.
E os grandões e poderosos armaram camarotes para assistir à festa do povo. Estavam, lá Pilatos, Herodes, Caifaz e outros. Sorrindo, Pilatos cochichava para os amigos, fazendo alusão ao povo: “Esta gente precisa se divertir. Afinal, são eles quem nos elegem, que pagam os impostos”
Lá no alto, a cruz estava vazia. O perturbador da ordem morrera, o homem que desejava ensinar o povo a aprender a verdade que liberta.
E haja excessos alcoólicos, haja gritaria, haja poluição sonora. O mais animado era Barrabás, que fora solto pelos políticos, no lugar do Cristo. Estava fantasiado de mulher. E chegou a gritar bem alto: ”Mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”...
Pilatos não cabia em si de contente: “O povo precisa desta alegria. O nazareno era um ingênuo, que nem soube responder à pergunta que lhe fiz - O que é a verdade?”
O barulho, ou melhor, a poluição sonora era enorme. O álcool enchia as consciências. É necessária a distração. A distração impede a reflexão. E viva o barulho, e viva a bebedeira, que a vida é passageira. Até rimou...
fevereiro 23, 2014
fevereiro 23, 2014
Em qualquer lugar do planeta, viajar de avião é sempre uma ótima comodidade. Na Europa, há um componente ainda mais vantajoso, pois muitas...
Em qualquer lugar do planeta, viajar de avião é sempre uma ótima comodidade. Na Europa, há um componente ainda mais vantajoso, pois muitas localidades, grandes e médias, são servidas por empresas aéreas de baixo custo. O problema é que o preço atraente traz uma contrapartida desagradável: o passageiro geralmente tem que se deslocar para aeroportos distantes e em horários prá-lá de inconvenientes.
fevereiro 23, 2014
fevereiro 22, 2014
C omo tudo na vida passa, o nosso paraíso haveria de acabar. E tudo começou quando ouvi um fiapo de conversa de meus pais. Eles falavam que ...
Como tudo na vida passa, o nosso paraíso haveria de acabar. E tudo começou quando ouvi um fiapo de conversa de meus pais. Eles falavam que o sítio ia ser desapropriado pelo Governo para dar lugar à construção de um colégio.
Não entendi bem esse negócio de desapropriação. Só sei que senti um forte aperto na garganta. Olhei para as mangueiras que, decerto, iriam ser derrubadas. Saí andando meio cambaleando pelo sítio, sentei-me no chão e chorei muito. As árvores pareciam me escutar. Os cachorros, Bunque e Iglô, chegaram perto de mim, balançando as caudas, como desejando me consolar.
Meus olhos se estenderam sítio afora. Meu paraíso ia ser destruído. E para onde iríamos? Talvez para uma casa lá no centro da cidade. Uma casa com quintal, apenas.
Neste momento meu pai passou perto de mim e foi logo indagando: “Que está fazendo, aqui, sozinho?” Tive pena dele. Sem dúvida estava sofrendo em silêncio. O sítio era tudo para ele. Quase tudo que existia ali, afora as fruteiras, saiu de suas mãos de agricultor.
O tempo foi passando e eis que, um dia, ele informou aos filhos: o governo ia desapropriar o sítio, e iríamos morar numa casa, na Rua Nova, uma das principais da capital. A casa era grande, tinha um sótão e ficava defronte do Convento de São Bento. E era na Rua Nova que se realizava a Festa das Neves. Essa informação consolou-me um pouco. Afinal, a vida é feita de mudanças.
No dia seguinte, meu olhar para o sítio era triste, de despedida. Um olhar molhado de lágrimas. Tive pena das árvores, que, por certo, seriam derrubadas, inclusive a casa, com seus longos alpendres. E eis que chegou um bando de meninos para brincar, que moravam em casas com seus quintais. Mas, silenciei em relação a saída do sítio. Sem dúvida, alguns deles iriam gostar. Muitos me invejavam.
Papai agora não era mais dono de um sítio. Iria ser burocrata. Deixava o campo pelo birô. Ia ser funcionário federal, secretário das Obras Contra as Secas.
E chegou o dia da mudança para a Rua Nova, com sua Catedral, seu silêncio histórico e místico.
Os cachorros não sabiam da mudança. Daí aquela alegria de rabo balançando. Tive pena deles. Adeus Lagoa, adeus adoráveis manhãs de domingo, adeus meu paraíso, adeus aquele cheiro de terra, as frondosas árvores, a paz paradisíaca...
Mas a vida é uma dança, a dança da mudança. Minha mãe, que adorava novidade, enfrentou a situação com muito otimismo. Ela vivia muito bem o presente. Já em papai, notei uma melancolia saudosista. Trocar o sítio por uma repartição pública...
Menino de calça curta, eu já ansiava por uma calça comprida. Disseram-me que na Rua Nova havia uma grande costureira chamada dona Eudócia. Isto me animava.
A Rua Nova tinha largas calçadas, que serviam de campos de futebol. Não faltavam meninos para isso. Havia os pés de fícus e oitizeiros que ornamentavam a rua. O resto eram só casas. E haja janelas para as conversas. Ali morava muita gente ilustre e rica. O ex-presidente e general Camilo de Holanda, o historiador Coriolano de Medeiros, fundador da nossa Academia de Letras, Gazzi de Sá, professor de piano e maestro de orfeão, o presidente Castro Pinto, escritor De Castro e Silva, o primeiro biógrafo de Augusto dos Anjos e assim por diante. Mas, e o sítio, que continua na minha memória? Impossível esquecê-lo.
O menino de sítio agora era menino de rua, vivendo entre casas ao invés de árvores, calçamento ao invés de terra, buzina de automóveis ao invés de pássaros cantando.
Quando fui dormir, o sítio apareceu na minha imaginação. Veio aquele nó na garganta, e um dilúvio de lágrimas. Chorei baixinho para ninguém ouvir. O sítio veio comigo. A minha tristeza era profunda. Tristeza que o carrilhão da Catedral, com suas místicas badaladas aumentou ainda mais...
fevereiro 22, 2014
fevereiro 15, 2014
S im, estou me referindo a Abelardo Jurema, que comemoraria um século de existência, se ainda estivesse aqui no mundo. O evento está sendo l...
Sim, estou me referindo a Abelardo Jurema, que comemoraria um século de existência, se ainda estivesse aqui no mundo.
O evento está sendo lembrado com muita saudade, porquanto Abelardo soube, como ninguém, fazer amigos. Era uma alma escancarada, aberta, fraternal, que todos os dias nos dava lições de amor à vida.
Fui seu aluno. Mais ainda: fui seu admirador. Aluno de que? Adiante eu conto. Continuemos na crônica.
Nosso querido Abelardo não sabia cultivar ódios, ressentimentos. Recorro à memória, que me traz a imagem desse homem de coração aberto. Ele me chamava Romero. E o Romero, em sua boca, soava bonito, pois a voz dele era de uma sonoridade que agradava aos ouvidos. Sempre elegante. Elegante no vestir, elegante no falar, elegante no ensinar, não esquecendo que ele foi meu professor. Professor de que? Mais adiante, digo.
Ele gostava de política, da boa política. Espremo mais a memória e vejo-o de camisa colorida, distribuindo sorrisos e abraços. Difícil não gostar dele. Nunca vi Abelardo triste, falando mal de alguém, Abelardo pessimista, Abelardo rosnando ódios.
Foi um paraibano ilustre, que desempenhou cargos importantes com a mesma fidalguia. Seja como Ministro da Justiça, Procurador da República, Prefeito, e Diretor do BNDES, como professor e diretor da Rádio Tabajara, onde se ouvia a sua voz, que era de uma imponente beleza. E saber que esse otimista foi exilado... E nesse exílio no Peru, deixou-nos um livro molhado de saudades, um livro comovente.
Sim, vou contar, Abelardo foi meu professor de Literatura Brasileira, no Lyceu Paraibano. Suas aulas eram gostosas. Ele confundia-se com os alunos. Nada de distância. Um homem que deixou um grande exemplo não só aos alunos mas a todos os paraibanos. Exemplo de otimismo, de amor à vida, de dignidade, de coragem diante das dificuldades.
Sua mão vibrou quando assinou o decreto que federalizou a nossa Universidade. Que grande presente, ele deu à nossa terra!
Pai de oito filhos que só lhe deram alegria, ele era uma alma aberta, que não conhecia a mesquinheza. E como era gostoso aquele seu abraço fraternal, como se quisesse abraçar o mundo!... Um homem elegante, bom e bonito.
fevereiro 15, 2014
fevereiro 09, 2014
C ontinuemos espremendo a memória, trazendo ao presente o paraíso de minha infância, aquele sítio lá da Lagoa, com suas fruteiras, seu silên...
Continuemos espremendo a memória, trazendo ao presente o paraíso de minha infância, aquele sítio lá da Lagoa, com suas fruteiras, seu silêncio, a terra molhada, sem esquecer o canto dos pássaros, o sussurro da brisa, o canto evocativo e triste dos galos, o latido ansioso dos cachorros, assustando-se com a queda das mangas... Ah, as mangas! Era gostoso a gente ouvir, altas horas da noite, as mangas caindo no chão. Mangas de todos os tipos. Rosa, espada, bacuri, do papo-roxo, baronesa, e assim por diante. E embrulhados em nossos lençóis, ficávamos ansiosos que chegasse logo a madrugada, quando, então, víamos o chão coalhado de mangas. E saíamos correndo para apanhá-las. Mais tarde chegavam os compradores de manga.
O sítio tinha seus trabalhadores. O chefe deles, seu Antônio, era ignorante, mas de toda confiança do meu pai. Não bebia e tinha um grande respeito ao seu chefe. Chamava-o de Seu Zezinho. E havia um Vitorino, criatura boníssima, mas que vivia sempre bêbado. Vendia as mangas, na rua, e voltava encachaçado dizendo que as mangas estavam podres...
O bom mesmo era trepar nas árvores, donde a gente via outros sítios. E adorávamos essa bisbilhotice no quintal alheio. Eu e minha irmã Ivone, companheira de infância, passávamos horas nessa distração. Ivone adorava fazer de tabuazinhas bonecas. E eu tinha de lhe fazer companhia, pois sua irmã Iracema, que me destronou da privilegiada posição de caçula, só chegou anos depois.
Havia muitas superstições. Dizia-se que, à meia-noite, aparecia uma mulher, uma alma do outro mundo, debaixo do pé de cajá, Isto me amedrontava. Mas depois desconfiei que a visão daquela alma foi invenção de minha mãe para que fossemos dormir cedo. Antes do sono, recitávamos o “Pai Nosso”. Acontece que toda vez que, na oração, pedíamos o “pão nosso de cada dia”, Ivone dizia:” eu quero pão”. Minha mãe terminou omitindo o pão da prece.
E as assessoras domésticas? Tinha muitas. Maria Benedita, que veio de Alagoa Nova; Zefa, ossuda, que, um dia, meus irmãos mais velhos mostraram-lhe a foto de uma bela artista de cinema, dizendo que era ela e a boba acreditou.
Como já dissemos, o sítio ficava de frente para a Lagoa, onde, à sombra de suas frondosas árvores, os músicos da Banda da Polícia Militar ensaiavam seus instrumentos. Babás com crianças tornavam aquele ambiente festivo.
Voltando às assombrações, havia o “Casaca de Couro”, um bicho horroroso, que, altas horas da noite, pulava nas costas das pessoas, mordendo-as. E eu me pelava de medo, só em pensar.
No sítio, as refeições eram rigorosamente disciplinadas. Café, almoço e ceia. Todos deveriam estar sentados, aguardando a chegada dos pais. O caçula gozava do privilégio de se sentar ao lado dos pais. O filho mais velho também. E o que é que se comia na ceia? Batata, macaxeira, cuscuz, inhame, que vinham do sítio, das plantações do meu pai.
E como o sítio era gostoso nos dias de domingo, quando recebíamos a visita de minha vó Quininha, diminutivo de Joaquina. Ela usava um vestido branco que cheirava a alfazema. Era um amor de vó. Irônica, perspicaz, inteligentíssima. Casou-se aos 13 anos com um comerciante de couros, muito inteligente, de nome Vicente, que, nas horas de descanso, tocava clarinete. Muitas vezes trabalhava com a jovem esposa sentada em sua perna..
Uma visita muito honrosa nesses domingos era a de um amigo de meu pai, muito gordo e maçon. Mal chegava, ia logo gritando: “quero cachaça”. E pedia “cachaça com sal”. Meu pai, que só tomava água de coco, atendia ao pedido do amigo.
Aos domingos, a Lagoa era uma festa. O menino do sítio não cabia em si de contente. Mas não era a lagoa que era uma festa. A vida ali é que era.
fevereiro 09, 2014
fevereiro 08, 2014
As marchinhas predominaram no carnaval brasileiro no século passado, principalmente entre as décadas de 20 e 60. Suas letras, bem curtas e...
As marchinhas predominaram no carnaval brasileiro no século passado, principalmente entre as décadas de 20 e 60. Suas letras, bem curtas e fáceis de decorar, refletiam o bom humor da época, algumas com mensagens inocentes e outras com manifestações de descontentamento político e social. Muitas delas continuam na memória dos foliões e são revisitadas nos eventos carnavalescos, animando blocos de rua e fazendo a alegria dos raros bailes de salão que ainda ocorrem no país. As melodias, que apresentam ritmo bem marcado, são sempre um convite para a dança leve e descontraída.
fevereiro 08, 2014
fevereiro 08, 2014
S ó em me lembrar dele, sinto um cheiro de terra. E terra lembra chuva. E chuva mata o calor. Minha mãe nunca avisou: “saia da chuva!” A chu...
Só em me lembrar dele, sinto um cheiro de terra. E terra lembra chuva. E chuva mata o calor. Minha mãe nunca avisou: “saia da chuva!” A chuva era sagrada. O sítio todo molhado não era mais um sítio, era um paraíso. E foi naquele paraíso que passei grande parte de minha infância. Lembro-me quando papai falou em comprá-lo, lá na lagoa, hoje Parque Sólon de Lucena.
Ele não pensava noutra coisa. Estava com saudade do cheiro da terra, lá do sítio de Alagoa Nova, onde cultivou café, por muitos anos. E dizia para minha mãe: “estou calvo devido ao cafezal, que arrancou meus cabelos com os seus ramos...” Sorrindo, ela dizia: “deixe de mentira, Zeaugusto. quem está arrancando teu cabelo é o tempo”. E haja risadas. Nada como o humor para adoçar a vida...
O plantador de café estava com saudade da terra, da natureza. O sítio da Lagoa amenizaria essa saudade. E eu não cabia em mim de contente. O coração batia ansioso. Os meus irmãos também. Deixar a Rua Nova, sua calçada, seu calçamento, seus automóveis, e passar a morar entre fruteiras, deixava-nos ansiosos.
E o que mais me entusiasmou foi quando vi meu pai contando as notas de mil reis, em cima da mesa. O dinheiro que iria comprar o sítio, que beleza! Quem nos vendeu o paraíso foi uma viúva, de nome Dona Zulima. Tive pena dela. Sim, paraíso não se vende...
Meu pai não cabia em si de contente. Nasceu para a vida do campo, embora, anos depois, fosse bater num birô de repartição. A praga que arrasou o cafezal do brejo, deixou meu pai sem emprego. E ele nasceu para o trabalho do campo.
A lagoa só tinha 3 sítios. As ruas empoçadas. Nada de calçamento. Nosso sítio rivalizava em tamanho com os sítios do senhor Porter e do senhor Dias Pinto, este pai do violinista Agmar, hoje, gozando uma tranqüila aposentadoria. Um homem fino, elegante, educadíssimo, cujo violino alegrou muitas noites.
Afinal, o nosso sítio foi comprado. Eu vi papai dando as notas a dona Zulma. Ela deixou-nos dois cachorros: "Bunque" e "Iglô". O primeiro branco e preto, muito ativo, o outro todo branco e preguiçoso. Como gostava deles! Bunque era o meu predileto. Inteligentíssimo. Só faltava falar. Foi meu companheiro de infância. Cheguei a confessar à minha mãe que desejaria ser cachorro...
O sítio ficava onde hoje é a rua Santos Dumont, na Lagoa. Ia desembocar ali perto do Tambiá Shopping. E como este paraíso de minha infância continua vivo na minha imaginação e na minha memória! Que cheiro bom ele exalava... Que silêncio... Centenas de árvores. Árvores de todas as frutas: manga, abacate, jaca, jambo, abricó, fruta-pão, goiaba, além de coqueiros, laranjeiras, sapotizeiros, oitizeiros, e tantas outras... Quando penso que todo aquele paraíso foi, um dia, destruído pelas casas e avenidas, sinto um nó na garganta.
E a nossa casa? Um elegante chalé, ladeado de longos alpendres, onde eu corria de velocípede imitando os bondes... E o bonito mesmo era a plantação de crótons, que meu pai aguava, todos os dias e cujo serviço passou para mim. Quando eu os aguava e os crótons balançavam agitados pela brisa, meu pai dizia: eles estão lhe agradecendo”. E eu acreditava.
E a Lagoa? Rodeada de fruteiras, inclusive de tamarindeiros, uma frutinha azeda de fazer careta. Ali acampavam os inesquecíveis circos, com seus palhaços, seus trapezistas, seus animais amestrados, não esquecendo aquela linda moça caminhando sobre um fio e segurando uma sombrinha colorida. E eu morrendo de medo que ela caísse. Se ao menos caísse em meus braços...
O sítio da Lagoa, meu paraíso da infância, depois conto mais...
fevereiro 08, 2014
fevereiro 04, 2014
S ão dois bustos. Não são bustos femininos, leitor curioso. São tradicionais bustos de bronze. Bustos de gente célebre, um almirante e um es...
São dois bustos. Não são bustos femininos, leitor curioso. São tradicionais bustos de bronze. Bustos de gente célebre, um almirante e um estadista. Ambos ocupando as extremidades da nossa principal avenida, que tem o nome do primeiro busto: Epitácio Pessoa, que fica no início desta grande e nobre artéria, quase um “boulevard”. Lá, vemos o estadista de dedo em riste, apontando para o fim da extensa via pública, donde antes se avistava o mar. Atrás dele, está a praça mais bela da nossa Capital: a Praça da Independência, onde o presidente João Pessoa morava, e, ainda manhã cedinho, costumava dar o seu passeio diário.
O busto de Epitácio aponta para o mar de Tambaú, a mais de seis quilômetros. Mas, ao mesmo tempo, simboliza um gesto histórico do estadista, quando na tribuna do Congresso apontava para a miséria da seca do sertão paraibano. E, agora, para onde o busto estaria apontando? Seria para a praia mais bonita do Nordeste?...
Mas vamos ao outro busto, o busto do almirante, que deveria estar olhando para o mar, e não de costas. Pensando bem, o almirante tem razão em dar as costas àquele mar, que está cada vez mais poluído. O busto parece querer expulsar os vendilhões do templo, com suas barracas, uma delas vendendo até frutas e comidas. E que dizer das barracas e táxis ali perto estacionados, obstruindo o final de nossa mais importante avenida? Já se viu isso em alguma metrópole que se preze? Já imaginaram a Champs Elysées, de Paris, com o Arco do Triunfo cheio de vendagem?
Mais ainda, já imaginaram aquela decantada e nobre avenida parisiense com seu terminal servindo de palco de tudo que é festança? E haja poluição sonora e mictórios fedorentos espalhados por toda a parte.
Agora, olhando o busto de Epitácio, do outro lado, parece que ele está apontando, não mais para a tragédia da seca, mas para tragédia da poluição em torno do respeitável busto do almirante Tamandaré. E ninguém protestando...
A avenida mais nobre, mais bonita, mais elegante da capital, que desemboca na bela Tambaú, transformada, no seu final, numa bagaceira, num sanitário. E ninguém está vendo isso...
fevereiro 04, 2014
fevereiro 02, 2014
E já que comecei, vamos espremendo a memória até ela ficar murcha, Afinal, já disse alguém que “recordar é viver”. Entremos, portanto, no b...
E já que comecei, vamos espremendo a memória até ela ficar murcha, Afinal, já disse alguém que “recordar é viver”. Entremos, portanto, no bonde da saudade à procura do que ficou para trás, Continuemos recordando nossos queridos familiares, hoje presentes nos retratos da parede e na nossa saudade.
Está aí o irmão mais velho da família, Eudes Barros, primogênito do primeiro casamento de minha mãe, que se tornou mais adiante no renomado poeta, jornalista, escritor e historiador. Nasceu em Alagoa Nova, cidade a que ele deu o título de “sítio público de mangueiras,” revelando logo cedo sua vocação poética.
O que mais impressionou minha mãe foi quando, ainda bem novinho, Eudes chamou-a para ver “uma flor chorando”... A mãe, curiosa e emocionada, foi ver do que se tratava: era um pingo de chuva escorrendo das pétalas de uma flor. Sorrindo, abraçou-o dizendo: “meu filho, você é um poeta”.
Eudes Barros começou sua vida literária escrevendo o livro de poesias: “Fontes e Paús” Foi um sucesso. E ele era um adolescente. Mas o livro que o consagrou como poeta foi “Cânticos da Terra Jovem,” em que se encontra seu famoso poema “Jesus Brasileiro”, cuja repercussão foi internacional. Sim, a BBC de Londres transmitiu o poema para todo mundo. Nesse poema ele conclui dizendo que Jesus foi crucificado, não numa cruz de madeira, mas numa cruz de estrelas. Era o Jesus brasileiro, Um Jesus de luz.
Outra grande vocação de Eudes Barros foi para o jornalismo. Chegou a editar um jornal, sozinho, cuja sede ficava na rua Direita, hoje Duque de Caxias. O nome do jornal era “A Rua”. Eu, menino, ia sempre lá, levado por Eudes, que me tinha como filho. Jornalista combativo, sem papa na língua, polêmico. Não foram poucos seus inimigos. Ele chegou a sofrer uma cilada por parte de oficiais da Polícia, pois escreveu numa manchete que a nossa Polícia estava tramando um golpe contra o governo, o que não foi provado. Quem estava no poder era Argemiro Figueiredo, que, tranqüilo, mandou chamar o jornalista para uma conversa, no Palácio da Redenção. E tudo se desfez em abraços e desculpas, Afinal, o jornalista precisava vender o jornal...
Certa vez, um desses inimigo achou de entrar na redação do jornal A Rua, de revólver em punho, Desejava matá-lo. Não o encontrou, porquanto Eudes roncava, tranquilamente, num quartinho fechado, lá no fundo do quintal.
Depois, Eudes trabalhou aqui, em A União, onde manteve uma coluna social muito lida, sob o pseudônimo Til.
E que dizer do historiador?: excelente! Seu romance histórico sobre a Revolução de 1917 foi um sucesso: “Dezessete”, ampliado depois para “Eles sonharam com a liberdade”.
Deixemos o Eudes poeta, jornalista, historiador, e falemos do excelente irmão que foi para mim. Um irmão-pai que me exerceu uma grande influência. Chegava, às vezes, a me passar carão.
Temperamento, às vezes, manso, às vezes violento, não chegou a se casar. Ainda se enamorou de uma moça da sociedade, mas não teve coragem de pedir a mão da moça ao pai, como era costume na época. Pediu ao meu pai José Augusto Romero, que o substituísse no pedido. Constrangido, papai levou a sério a incumbência. Não demorou um mês, Eudes rompeu o noivado. Ele era assim: imprevisível. Um cordeiro que, às vezes, virava leão.
E ele me adorava. E achou de me levar, um dia, para o Recife, numa viagem de ônibus, que durou cinco horas, E me dizia: “Você vai conhecer uma grande metrópole”. Foi um presente que ele me deu. O diabo é que eu morri de saudade de minha mãe e pedi a Eudes para voltar logo para casa. Saudade do meu sítio lá na Lagoa, que ainda hoje sinto...
fevereiro 02, 2014