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Iludidos, despreparados a enfrentar a solidão, buscamos no(s) outro(s) o cobertor que servirá como agente velador de nossos vazios existenciais. Afinal, “a fila anda” e a vida é muito curta para sofrer de amor. Na próxima esquina se encontrará um produto melhor. Muita oferta, muita procura, pouca permanência. Mas, a vida há de prestar contas. Quem não se firma em um lugar viverá sempre a procurar, como quem vagueia sem saber aonde ir. E não poderá se queixar de ser abandonado aquele que assim procede, pois “em vez de haver mais pessoas atingindo mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados”, como aponta Bauman em sua obra “Amor Líquido”.
“Fastlovers” não existem de fato. Quem não primar pela busca da gênese e consumir-se até a última flama não saberá o que é satisfação. Necessárias são a humildade, a coragem e uma disciplina hercúlea para enfrentar os entraves diários que um relacionamento promove. O amor deve ser um combustível para ser reabastecido e gasto até o seu limite. É um investimento de alto risco, demanda tempo, energia, dinheiro, libido. Mas, sobretudo, coração. E não há lucro garantido. Talvez, se calculado, o prejuízo seja maior. É... o seu temor é tão grande quanto a morte, mas sem este não há vida de fato realmente vivida. Esse medo é o que representa o viver,
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Quem quer amar quer expandir-se e, ao mesmo tempo, receia que seja correspondido, descrendo de que pode ser uma pessoa digna de afeto alheio. Não nos achamos dignos e andamos como crianças que clamam por atenção e que temem que seu brinquedo seja tomado a qualquer momento. Não assimilamos aquilo que nos é dado e vivemos a exigir provas. Juras. Pactos. Quem ama quer se perpetuar no outro. Essa é a maior vaidade que talvez possamos confessar entre os amantes. Porém, como poderemos perdurar na eternidade, se não nos modelarmos na intensidade dos dias, dosar os (des)afetos?
Queremos a segurança, mas somos cada vez mais instáveis. Seguimos o ritmo e percorremos a trama como se nossos relacionamentos fossem hiperlinks. Um dia, aquela mão amiga, noutro, exatamente no após, esta é deletada. Mas, que ninguém se engane: isso pode ser uma vitória, caso reflitamos se, realmente, havia cumplicidade nesse dar de mãos. Todo gozo é temporário, senão não o seria. Porém, que consolo há na derrota? Apenas sozinhos poderemos avaliar nossa bolsa de valores interior. Que onde antes havia ruídos, agora, no silêncio, possamos dimensionar um pouco daquilo que supúnhamos possuir. O quanto de nós foi sequestrado e agora, quem sabe, possamos resgatar. Doravante, nossas ansiedades serão depositadas em outras contas.
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