Como seria bom se pudéssemos compartilhar o que conhecemos e achamos relevante com as outras pessoas. Porém, também é frustrante qu...

Só sei que não sei...

arrogancia solidao autoridade dominacao
Como seria bom se pudéssemos compartilhar o que conhecemos e achamos relevante com as outras pessoas.

Porém, também é frustrante quando o fazemos e percebemos que o outro ou não compreendeu, ou — ainda pior — entendeu em um sentido totalmente diferente.

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É claro que não somos donos da verdade, mas também é inegável que existe um saber formal, uma formação intelectual, que nos faz enxergar muitas outras perspectivas da realidade. Mas, afora isso, falo da impossibilidade de compartilhar com pessoas muito queridas a profundidade de certas expressões artísticas, como uma música e seu conteúdo, de comentar um filme, de ter a alegria de falar sobre certa obra literária... ou de um pensador que mostra, em sua obra, uma visão de mundo a partir de critérios científicos e argumentações filosóficas.

A impressão que dá — a não ser que você passe a viver numa bolha habitada apenas por seus pares e suas ostentações acadêmicas — é a de que todo o esforço que você fez na vida para amealhar certo grau de conhecimento foi em vão.

De que adianta saber tanto de Marx, Sartre, Derrida, da Revolução Francesa e dos gregos, da poesia de Drummond, Caetano ou Jorge Mautner, se não há interlocutores interessados porque desconhecem o assunto?

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Mas essa solidão não é em vão. Se você não for um diletante, se sua profundidade intelectual for autêntica, vai encontrar sabedorias que jamais imaginaria existir e vai transformar os seus títulos em meros papéis burocráticos, reconhecendo doutores de outras academias e cátedras.

Claro que, se você está num ambiente onde não há eco para o seu nível intelectual, ainda assim ele é útil e faz de você uma pessoa equipada com os instrumentos adequados para ser um humano bem melhor. A variável para que essa fórmula dê certo é, justamente, o caráter.

A formação intelectual, os títulos acadêmicos, o domínio de saberes são instrumentos que podem elevar o nosso espírito, mas também podem nos alçar à arrogância e se transformar, nas mãos de certas pessoas, em armas de dominação.

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O conhecimento, em qualquer área, é instrumento de poder — isso é óbvio. Mas nem todo aquele que armazena informações científicas é um intelectual. Essa condição passa, necessariamente, pelas humanidades, seus questionamentos e conflitos. Sei, sim, que não sei... Nem o Ser, nem o Nada. Sartre há de me perdoar.

Recentemente li em um texto de autoria de um médico: "Fumar não é um simples hábito. Fumar é uma perversão. Perversão é dar às coisas da Criação funções para as quais nunca foram concebidas."

Nesse trecho, em especial, me senti um pervertido... Mas especificamente, na definição que foi dada a perversão. Ainda mais porque não foi uma escolha minha, foi uma condição da minha existência.

Só sei que não sei...

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