Há muitos fazendo poemas e, poucos, poesia. Explico: o que existe em profusão é a escrita feita através da disposição de versos, que pr...

Sobre o Fazer Poético

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Há muitos fazendo poemas e, poucos, poesia. Explico: o que existe em profusão é a escrita feita através da disposição de versos, que produzida em alta escala padece de uma linguagem mais elaborada, sem estranhamento, com pouca exploração das figuras de linguagem.

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Defendo que todo aspirante a poeta deve conhecer os recursos de linguagem e, sobretudo, ser um leitor de poesia. É preciso conhecer o que foi escrito desde as origens até os dias atuais. Não exijo que se conheça a fundo, tampouco que tenha lido centenas de livros, mas o básico é preciso. Senão será apenas mais um aventureiro das palavras.

Tenho acompanhado, à medida do possível, os livros de poemas publicados nesta década. Sinto que a maioria carece de filosofia, falta-lhes ritmo e muitos prescindem da necessária sonoridade tão cara à poesia, a qual não deve ser confundida com “rima”.

Fazer poemas com dor de cotovelo ou falta de dinheiro, como diria Drummond, não é fazer poesia. Todos nós já cometemos uns versinhos piegas e colegiais, fruto de namoros — correspondidos ou não — que resultam em versos melancólicos, povoados de clichês. Rimamos amor com dor. Estes até podem se constituir bons motes, mas não devemos permanecer apenas nesse ponto.

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É preciso duvidar de si mesmo. Ter a humildade da autocrítica. Quando escrevemos, seja em qual gênero for, mas principalmente no poético, tendemos a achar “o máximo”, num impulso ingênuo de autovalorização. É natural. É o calor da euforia. Um apego afetivo ao texto. Passado algum tempo, retornamos a ele, e vemos as tantas falhas praticamos. O texto precisa descansar. Requer que nos afastemos, como nos ensinou o teatrólogo Bertolt Brecht.

Outra: mostre seu texto a várias pessoas. Cuidado: não mostre para qualquer um. Confie seu texto a quem entende do assunto: professores e escritores. Se você é
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do tipo que engaveta os textos e não os submetem para ninguém, então lamento informar que, por conta desse mero engavetamento de seu trabalho, você nunca será um escritor respeitado. Não se evolui sem críticas. Não falo daquelas feitas por alguns jornalistas, que preferem detonar os neófitos, por absoluto despeito ou picuinha, quando deveriam ter a sensatez de apontar deficiências sem desconstruir o escritor em início de carreira. Refiro-me àquelas feitas por si mesmo e por quem está comprometido em ajudar. Não é fácil reconhecê-los.

Escrever é um ofício de resistência. Maus-caracteres existem em demasia no meio literário. Estes não conseguem enxergar o próximo como colega de ofício, veem os incipientes como inimigos e por isso tentam interditá-los, com má-fé de uma opinião desabonadora, pela política de bastidores, sempre maledicente. Melhor do que fazer carreira literária é fazer literatura.

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  1. Texto de professor - e de poeta. Disse muito bem, Leo: a distância entre o poema e a poesia frequentemente é grande. E a tristeza ou a dor de cotovelo é só o impulso para a escrita, mas em seguida vem a luta com as palavras de que falava Drummond. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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