Vou tratá-lo por João, nome que ele não tem no registro de nascimento. Já era homem feito quando eu ingressava na adolescência. Alto, atlético e bonito, chamava, naquele tempo, a atenção do público feminino por onde andasse. Sei de mocinhas apaixonadíssimas e de algumas disputas, quase aos tabefes, por aquele suposto coração de pedra. A muitas esse camarada parecia tão belo quanto desdenhoso, indiferente, seletivo.
Mais comum em crianças, a dislalia perseguiu meu amigo até a fase adulta. Nada, porém, que um bom fonoaudiólogo não fosse capaz de resolver. Seu caso foi tão bem resolvido que lhe rendeu Cristina, a moça mais bonita da cidade. Enquanto conversávamos, longe dela, evidentemente, sobre corações arrebentados em razão do seu aparente desprezo a uma fileira de admiradoras confessas, ou enrustidas, ele me contou do constrangimento num consultório médico, aos 20 e poucos anos de idade. O “trinta-e-três” que o doutor lhe pedia resultava em um “tlinta-e-tlês” imprestável à boa ausculta pulmonar. Nosso João, superado o problema, contava isso como uma anedota ao cabo da qual ele próprio era quem mais ria.
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A impaciência me fez desistir do gabinete do também cardiologista Nominando Diniz. Este último compôs como estagiário a equipe do Dr. Euryclides Zerbini, responsável pelo primeiro transplante de coração da América Latina, em 1968. A política empurraria Nominando para a vida pública e assim o faria, posteriormente, o Tribunal de Contas da Paraíba, ele no quadro de conselheiro e eu, também ali, no da Assessoria de Imprensa. Ou seja, topamos um com o outro quase diariamente.
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Ressalto que não resisti a outras consultas do gênero à mesma fonte. Perguntei se há expressões, ou palavras, em outros idiomas com idênticas equivalência e finalidade. “Sim”, foi a resposta que obtive.
Fale-se a língua que se falar, a técnica é a da broncofonia. E vieram os exemplos: “Say ninety-nine”, pediria um falante de inglês ao seu paciente. Se for francês, ao invés desse
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Pacientes e médicos espanhóis também preferem, às suas maneiras, nosso “trinta-e-três”. Os alemães, não. Estes vão mesmo de "neunundneunzig", o “noventa-e-nove” dos falantes de inglês, o que me permite supor que tais usos são próprios de cada ramo linguístico. Fecho esse entendimento ante o pedido do médico italiano àquele, ou àquela, sob seus cuidados: “Dica trentatré”.
Não me culpem os especialistas se assim não for. Garanto, todavia, que isso me foi dito pela IA por mim consultada. No caso dos desmentidos, abraçarei de vez a impressão do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (pioneiro nas pesquisas de interfaces cérebro-máquina e citado, portanto, entre os 20 mais importantes cientistas da atualidade), para quem essa coisa nem é inteligência nem artificial. Será minha vingança.





















