Contei para minha filha de dez anos a história do pai que, ocupado demais para brincar com o filho, rasgou uma grande página de jornal ...

Qual a maior felicidade?

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Contei para minha filha de dez anos a história do pai que, ocupado demais para brincar com o filho, rasgou uma grande página de jornal que trazia um mapa-múndi bastante complexo e a entregou ao menino como um quebra-cabeça improvisado. Pouco tempo depois, para surpresa do pai, o garoto voltou com tudo perfeitamente montado.

“Como você conseguiu montar o mapa do mundo tão rápido?”, o pai perguntou. O menino respondeu: “Foi fácil. Atrás do mapa tinha a figura de um homem. Quando eu montei o homem, do outro lado o mundo se encaixou.”

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Expliquei para minha filha que aquela história era uma metáfora: quando a gente se conserta, também é capaz de consertar o mundo ao nosso redor. Ela ouviu com atenção, mas manteve um certo ceticismo.

Então dei outros exemplos. Contei a história do colibri que, diante de um incêndio na floresta, insistia em carregar pequenas gotas de água no bico para tentar apagá-lo, enquanto todos os outros animais apenas fugiam. Contei também a do homem que caminhava pela praia e devolvia à água estrelas-do-mar que haviam sido arrastadas pela maré. O amigo, observando a cena, perguntou: “Mas qual a diferença? São tantas… você não vai conseguir salvar todas.” E o homem respondeu: “Para esta aqui, fiz toda a diferença.”

Quis mostrar a ela que, mesmo sozinha, uma pessoa pode gerar um impacto enorme. Lembrei, então, da história de Albert Sabin, o cientista responsável pela vacina contra a poliomielite. Uma pessoa. Um único talento. E um mundo inteiro transformado.

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Ela, muito inteligente e ainda pensativa, me olhou e disse:

“Mas, papai… são oito bilhões e trezentas milhões de pessoas. Uma só vai fazer diferença realmente em quê? Vai mudar o mundo como?” Fiquei em silêncio por alguns instantes. Pensei, pensei… e então respondi:

“Filha, é verdade: para uma única pessoa mudar o mundo, ela precisa ter talento, ter força interior. Tem de ser alguém muito especial… assim como você.” Então ela sorriu.

A maior felicidade da vida não se mede pelo que acumulamos, mas pelo que transbordamos.

O ato de felicitar e ajudar alguém, seja com uma simples palavra, um gesto, um serviço ou uma presença, é a forma mais elevada da realização humana. Tomás de Aquino definiu a caridade como a perfeição de todas as virtudes, aquela que ordena o ser humano ao propósito mais profundo de sua existência: amar e amar bem.

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A dignidade humana, tanto a nossa própria quanto a do outro, se manifesta quando não tratamos o próximo como meio, mas sempre como fim. Ajudar é exatamente isso: reconhecer naquele que sofre, naquele que precisa, naquele que se levanta ou cai, um semelhante cuja vida tem valor absoluto.

Tolstói, com a força moral de suas narrativas, insistia que a vida só tem sentido quando colocada a serviço da conversão interior e do cuidado.

Ao doar algo de mim, abro espaço por dentro. A alegria que perdura exige movimento, doação, circulação do bem. Somos todos necessitados e doadores ao mesmo tempo.

A vida se torna satisfatória quando se descobre um sentido que nasce da dedicação a algo ou alguém além de nós mesmos. O bem que fazemos ilumina nossa vida porque nos retira do centro do mundo e nos insere na trama da humanidade.

Ajudar alguém é construir um elo invisível que ultrapassa a lógica do interesse; é ser instrumento, ainda que por alguns instantes, da esperança de outro ser humano.

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Albert Schweitzer, filantropo e prêmio Nobel da Paz, dizia que o propósito da vida humana é servir, demonstrar compaixão e ajudar os outros.

O bem que fazemos aquece o coração porque desfaz o egoísmo. Fortalece a mente porque dá sentido. Cura feridas porque desloca a atenção do “eu sofrido” para o “outro que precisa”.

A satisfação mais profunda é aquela que permanece quando tudo o mais se foi. Está em saber que fomos úteis, que tocamos alguém, que aliviamos uma dor, que inspiramos esperança, que transformamos um instante sofrido na vida de alguém em algo mais leve.

Viver em estado de serviço é oferecer ao mundo o melhor que podemos ser. A felicidade não é um destino, mas um caminho que se constrói dia a dia com passos de bondade.

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Conta-se que, certa vez, um viajante chegou à noite a uma vila mergulhada na escuridão. Seus habitantes estavam tristes e não faziam nada além de lamentarem-se no escuro. Na bagagem, o viajante levava consigo uma bolsa cheia de velas. Ele tirou uma delas e a acendeu.

O dono da estalagem perguntou:
— Por que acender uma vela tão pequena se a noite é tão grande?
— Porque, enquanto houver uma chama acesa, a escuridão nunca vence — o viajante respondeu. Depois entrou em cada casa e pediu para que cada um acendesse sua própria vela. Em pouco tempo, toda a cidadezinha estava iluminada.

Quanto a mim, fiquei feliz por fazer minha filha feliz.

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