Riso e lã, rio e sal, luz e liberdade tramaram com sucesso se refugiar na palavra literária da lavra de Ângela Bezerra de Castro.
Foi lá. Onde a inteligência dá as mãos à técnica e ao sentimento, quando lutas e desafios da criação borbulhavam: aconteceu de a escritora paraibana preencher e expressar a totalidade de sua consciência crítica com a mesma e inexorável verdade do dia ao suceder a noite.
Foi lá. Onde a inteligência dá as mãos à técnica e ao sentimento, quando lutas e desafios da criação borbulhavam: aconteceu de a escritora paraibana preencher e expressar a totalidade de sua consciência crítica com a mesma e inexorável verdade do dia ao suceder a noite.
Alí, Ângela extrapolou limites ao extraordinário com a sua obra em progresso.
Do tempo sem fim abismado que contempla essa obra coesa no apego a certo jardim metodológico, obra diversa no empreendimento sensível da descoberta, entre o bem e o belo, do mais relevante a destacar no contexto da criação artística, recorto uma janela: vinte anos que se completam em outubro vindouro desde a eleição de Ângela Bezerra de Castro à Academia Paraibana de Letras.
A APL escolho enquanto sítio simbólico para dizer de outro aniversário, também um acontecimento vórtice.
Dizer da emulação sadia da sabedoria do tempo com o subjetivo do ser em riste na aventura do discernimento que acontece no referido outro aniversário, os dez anos desde o lançamento de "Um certo modo de ler".
Nessa coletânea de textos críticos, prefácios, discursos e conferências que não pode faltar à vida do amante das escalas da harmonia, a autora celebra uma aliança, a do prazer da leitura com a substância dos mistérios da realidade em sua plenitude de tempestades e enigmas.
Confirma protocolos canônicos do gênero que fundamentam o clássico necessário, rejeita anacronismos de tipos ideativos regressivos que apoucam o ser e elastece o campo do repertório imaginativo e argumentativo da atividade.
A crítica em Ângela produz a recepção interpretativa do texto também enquanto estilística "retorizada" da claridade.
Claridade que se constrói a partir das convicções hermenêuticas da autora inferidas a partir da obra que nos expõe: imanência textual, historicidade, frônese (phronesis, de Aristóteles: práxis moral e racionalidade para definir a consciência da realidade, uma sabedoria prática), uma sociologia da transformação e estetismo li bertário como fundamento da condição humana no trânsito entre símbolos.
Ângela se inscreve na galeria das ótimas ensaístas brasileiras, nomes a exemplo de Moema Selma D'Andrea, Genilda Azeredo, Heloísa Buarque de Holanda, Walnice Nogueira Galvão, Marilena Chaui, Madalena Zaccara, Telê Ancona Lopez, Ana Adelaide Peixoto... e sua produção constitui riquezas em camadas concêntricas que sempre têm a dizer algo novo sobre referenciais que pensávamos totalmente escavados, desnudados, compreendidos.
Em "Um certo modo de ler", a acadêmica e sempre professora Ângela Bezerra de Castro ao tratar da imortalidade, sob o influxo de menções a Fernando Pessoa, nos remete à invariância da incerteza que a morte nos apresenta, o que vem sem que saibamos quando. Há também a logicidade do humanismo cósmico que a consciência da universalidade da aldeia nos impõe. O cristal prismático da palavra criadora rebrilha o tempo todo na álgebra sutil da crítica da escritora paraibana. Com ela, fomos muito além do melhor.
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Do livro "45 poses da palavra" ■ Walter Galvão (*1957 - †2021)
Editora Ideia, 2021
Walter Galvão distribuiu alguns exemplares deste livro a alguns amigos e amigas, antes do desenlace. "Isso tem um lado que é bonito demais. Em meio a dor, é possível enxergar toda a poesia por trás do ato. É como se Walter Galvão já soubesse, já sentisse, já aceitasse o fato inescapável de que iria morrer em breve.E, na consciência da morte, do fim definitivo, distribuiu literatura aos seus (Phelipe Caldas)".
Walter Galvão distribuiu alguns exemplares deste livro a alguns amigos e amigas, antes do desenlace. "Isso tem um lado que é bonito demais. Em meio a dor, é possível enxergar toda a poesia por trás do ato. É como se Walter Galvão já soubesse, já sentisse, já aceitasse o fato inescapável de que iria morrer em breve.E, na consciência da morte, do fim definitivo, distribuiu literatura aos seus (Phelipe Caldas)".