No inverno austríaco de 1756 nasceu Wolfgang Mozart, meu milagre favorito, amor de vida inteira. Imagino isso como o sol iluminando a brancura da neve, dourando tudo, espalhando calor e esperança.
Clementine apareceu há um mês aqui em casa. Instalou-se sem pedir licença. Teceu uma teia comprida e agora fica pendurada, de cabeça pra baixo, entre a mesa de café da manhã e o pé de jasmim. É do tamanho da minha unha (do polegar da mão), incluindo as patas esticadas. A minúscula aranha canadense me ensina a arte de bem viver.
Nenhum lugar no Oiapoque me é mais querido:
aldeia Galibi, onde minha mãe foi professora.
O povo mais lindo e amado vive aqui.
Ontem visitei a aldeia Kunanã, do povo Karipuna. Um lugar cheio de beleza e paz, habitado por pessoas muito acolhedoras. As crianças são lindas, muito afetuosas e livres. Brincam em liberdade e segurança, tomam banho de chuva, nadam no igarapé Juminã, protegidas pela sua comunidade e estudando na escola local.
Um menino de treze anos, de rosto doce e olhar assustado, é acusado de matar uma colega de escola. A série Adolescência, que narra esse drama, tornou-se a mais assistida do mundo — não apenas por sua qualidade impecável, mas porque expôs feridas que fingíamos não ver.
Era previsível. Tudo em Washington agora é previsível, até mesmo o choque, até mesmo a sensação de que nada faz sentido, até mesmo a aniquilação metódica da verdade e de princípios éticos fundamentais. O encontro em 28/02 entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump, com J.D. Vance ao lado, aconteceu como acontecem os episódios inevitáveis da história: entre promessas nunca feitas para serem cumpridas e acordos costurados no subsolo. Zelensky esperava apoio, alguma demonstração de que a aliança forjada com sangue não se dissolveria ao sabor do pragmatismo.
Ira (mῆνις, menis)* é a palavra com que Homero inicia a Ilíada. Não é uma ira qualquer. Menis é uma emoção extrema, que ultrapassa a experiência cotidiana do humano.
De repente, o mundo virtual se tornou excessivamente ruidoso. Ou talvez eu tenha envelhecido demais no último ano.
Mas o certo mesmo é que meus dias andam cada vez mais curtos, assim como a minha paciência com o turbilhão incessante de informações que, em sua maioria, pouco me acrescentam.
Ojai, Califórnia. Um lugar onde o sol nascente pinta as montanhas de um vermelho hipnótico. O escritor e filósofo Jiddu Krishnamurti viveu e morreu aqui. Ele escreveu, pensou, falou — não sobre respostas, mas sobre perguntas. Não sobre conforto, mas sobre desconstrução. Sempre me intrigou esse tipo de mente, a que se recusa a se enraizar.
Há vinte anos morreu o meu pai, Manoel, botafoguense de boa cepa.
Com meu velho aprendi que ser botafoguense é um estado de espírito. É um não precisar se envolver com as miudezas da patuleia.
Botafoguense não anda: paira. Até ontem, estávamos cada vez mais etéreos. Os adversários nos provocavam, dizendo que andávamos minguados e minguantes. Que nosso fim estava próximo. Enganaram-se, claro. Voltamos e calamos todo mundo, porque ninguém cala o amor - especialmente esse amor. Somos raros mesmo. Aliás, raríssimos. Uns
Há momentos em que desejamos que a vida pudesse ser pausada e o tempo hesitasse um pouco, antes de prosseguir, deixando-nos suspensos entre o antes e o depois de uma partida. Quando alguém que amamos vai embora, algo dentro de nós implode. Não é apenas a despedida de um outro corpo, de uma voz ou de um toque; é o sonho desfeito, a expectativa quebrada e o adeus ao que poderia ter sido.
A brisa fria do outono sopra folhas sobre o jardim. Olho em torno e tudo hoje me parece um pouco despedaçado. Busco algum conforto em um poema de W. H. Auden – As I Walked Out One Evening – sobre o momento em que a verdade faz desmoronar as ilusões. O instante em que nosso verdadeiro eu, despojado de máscaras, se revela. Recorro a esse poema enquanto penso sobre a euforia desmedida da vitória e o desespero sombrio da derrota.
Encontrar alegria em si mesmo é confrontar o abismo que somos. Não o temido vazio que nos consome, mas o abismo cotidiano, o espaço entre o que desejamos ser e o que efetivamente somos. É uma dança sutil entre a consciência de si e a infinita vastidão do sentir.
Já há algum tempo decidi não escrever sobre política aqui no Facebook. Foi uma opção consciente. Meus textos políticos tinham bastante repercussão e engajamento. Naturalmente, alguns se serviam deles, contra a minha vontade, para alimentar a polarização — o que é sempre desagradável.
Envelhecer exige uma espécie de coragem peculiar. Não a coragem cinematográfica, heroica e ostensiva, mas aquela sutil e silenciosa, que é a de continuar existindo quando a realidade insiste em mudar corpo, mente e cotidiano. Caminho sozinha por ruas semidesertas neste final de verão. E enquanto ando, faço promessas a mim mesma.
Escolhi caminhar pelo mundo sem carregar pesos desnecessários. Fiz um pacto comigo mesma e expulsei a ideia de perfeição, essa gaiola dourada. Hoje, encontro grande tranquilidade em me reconhecer imperfeita. Não celebro minhas falhas, tampouco as oculto.
Deixar a terra natal é experiência de desafio e encanto, escolhas dolorosas e adaptação. Para sobreviver, é preciso afastar um pouco os olhos das saudades, das paisagens familiares, dos sabores gravados na memória.
O livro de Sonia Zaghetto, "Histórias escritas na água", é forte, denso e, muitas vezes, faz com que o leitor prenda a respiração imaginando a sequência de várias cenas. A maneira como a autora construiu o personagem do narrador, em contraposição com os demais que são habitantes de um Brasil profundo, é verdadeiramente magistral. E a presença da morte se evidencia como um fio condutor, não para contar uma tragédia, mas para desvendar vidas.
Carmen Lícia Palazzo (Doutora em História e Economista - RS)
Queridos amigos, é com muita emoção que lhes apresento meu primeiro romance. “Histórias Escritas na Água” será lançado primeiro no Kindle e já está disponível na Amazon. Concorre ao prêmio Kindle de Literatura e por isso ele está disponível por um valor razoável e para leitura gratuita aos assinantes do Kindle Unlimited. Peço o apoio de vocês para este projeto, que me é muito querido.
Tenho buscado propósitos e significados novos para a minha vida. É um esforço no sentido de ser feliz de forma muito simples. Tenho aprendido jardinagem, aquarela, técnicas japonesas de caligrafia e a fazer bonecas de papel, washi ningyo.
Não sei bem qual foi o instante exato em que me rendi a mim mesma. Sei apenas que chegou graciosamente essa rendição que atravessou a minha pele e passou a nadar no meu sangue, regulando o ritmo do coração, da respiração, dos desejos que sempre fervem. Mas o certo é que trouxe cor aos meus dias.