“Miranda July escreve com honestidade brutal e faro para o insólito. Isso torna este romance uma narrativa selvática e tragicômica sobre crescer depois dos quarenta anos. Com ecos de autoficção e expondo uma vulnerabilidade sedutora. De quatro faz com que nos apaixonemos diante da possibilidade de novos e belos destinos”
(da orelha do livro)
Assim se chama o segundo romance da escritora, roteirista, cineasta e performer americana Miranda July. Livro que causou rebuliço nos meios literários e feministas. E o porquê desse reboliço? tentamos falar disso no nosso Clube de Leitura – Frederica, neste mês de julho.
Durante séculos o desejo feminino foi silenciado. As relações lésbicas então, nem se fala. Assim como todas as questões que dizem respeito à vida, corpo, subjetividade feminina. Pois, De quatro fala do desejo feminino do ponto de vista de uma mulher na perimenopausa (período que antecede a menopausa).
GD'Art
Uma personagem (sem nome), que decide atravessar o país, os Estados Unidos, rumo a Nova York, de carro e sozinha. Mas na primeira parada perto de casa, num posto de gasolina, conhece Davey e o mundo vira de cabeça para baixo. Primeiro, a pergunta: “Quero saber como ser outra pessoa?” Quem nunca? Largar tudo, chutar o balde e deixar marido e filho/a (ela usa pronome neutro pois questiona o gênero como construção cultural). Para isso, aluga um quarto de hotel/condomínio, re-decora de forma kitsch e original, para que naquele espaço, vivenciasse os seus desejos além corpo, mente, comportamento, prisões, papéis sociais e sexuais.
Um quarto/teto todo seu que Virginia Woolf já havia teorizado lá no início do século XX, e Doris Lessing também, em To Room Nineteen e The Summer before the dark. Mas July vai além. Busca versões de si mesma, o seu “eu provisório”, e se
Quarto de Virginia Woolf
(East Sussex-EUA)
Hillary Kelly
(East Sussex-EUA)
Hillary Kelly
“Todo mundo acha que a posição do cachorrinho é muito vulnerável – disse Jordi (a sua melhor amiga), mas é uma das mais estáveis. Como uma mesa. É difícil cair quando se está de quatro.”
E nessa fala já no final do romance, temos a referência ao título; uma posição sexual e de vulnerabilidade na vida também. Talvez uma lupa para se mergulhar nas encruzilhadas da vida dessa mulher. Ou das mulheres?
GD'Art
Tudo extrapola tudo! Os segredos, os não ditos, as mentiras, as meias verdades, o escondido, o proibido, desaguam num desfecho, numa epifania Joyciana, como está dito ao final do romance:
“Se o quarto 321 estava em todo lugar, então todo dia era quarta-feira, e eu sempre poderia ser a pessoa que era naquele quarto. Imperfeita, sem gênero, brincalhona, sem vergonha. Tudo que eu precisava estava comigo, alma completa”
“... percebi que cada pessoa naquela plateia passava por uma versão da minha revelação, um acerto de contas com aquele eu que cada um carregava dentro de si até aquele momento. Eu não era a única emaranhada numa dor pungente; fazia parte da viagem. Resistir, depois ceder. Ele não estava mais ascendendo; alcançou o ápice e desabou rapidamente“
kinfolk.com/
“A viagem que se desenrola a partir daí, embora às vezes absurda ou estranha, é uma verdadeira recriação da vida amorosa, sexual e doméstica de uma mulher no século 21.”