Agradeço a Josenilda, minha amiga muito querida, e aos filhos — Josephine, Marco Antonio e Luciana — a deferência de me convidarem a falar nesta hora que não é de despedida, porque existe “uma outra forma de presença”: aquela que não tem fim, enquanto guardamos no coração a pessoa a quem estamos ligados pelo afeto verdadeiro e pela admiração de uma vida.
Em tratamento cardíaco, fui proibida de estar ao lado de meu grande amigo, Dr. João Batista Simões,
João B. Simões e Og Arnaud
Acervo da autora
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Depois, conversando com Og Arnaud, que se refere a Dr. João como um “segundo pai”, compreendi que nossa ausência, naquela cerimônia, cria a possibilidade de lembrá-lo sempre vivo: na alegria de seu suave sorriso, no abraço de sua serenidade benfazeja, no encontro de seu olhar, que era todo acolhimento e bondade.
Esse é o homem que fica — não apenas para os que tiveram a felicidade de privar de sua convivência, como familiares e amigos. Esse é o homem que fica também para todos que com ele estabeleceram contato na vida administrativa ou no atendimento à saúde.
Em quase 35 anos como diretor do Laureano, foi o administrador incansável, sempre presente em todos os recantos do hospital. Fase de muitas dificuldades financeiras, que soube enfrentar sem desânimo, encontrando sempre a melhor solução, aquela que não deixasse ao desamparo os doentes por quem se sentia responsável. Nele se refletiam, inseparáveis, o médico e o administrador, com igual competência, sensibilidade e a devoção de servir,
João Batista Simões
Acervo da autora
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Foi o que Dr. João fez, deixando seu prestigiado consultório de proctologia para entregar todo o seu conhecimento, energia e vitalidade aos que o destino marcou com a doença cruel. Mesmo quando tudo parecia impossível, ele era força e esperança na sustentação e consolidação do hospital, que hoje é referência no tratamento do câncer. Um orgulho para o nosso estado. Ele contribuiu decisivamente em mais de metade da existência do Laureano. Nenhum outro diretor tem sua dimensão histórica, pela marca fundadora de suas realizações. Deixando a Diretoria, quis permanecer como médico. Foram mais cinco anos. Até a véspera de Natal de 2018.
Mas essa data simbólica não significou uma festa de gratidão e despedida para a grande personalidade a quem o hospital e o povo paraibano devem tanto, pela grandeza de seu humanismo. Infelizmente, a instituição, de forma inexplicável e
João Batista e Josenilda Simões
com Ângela Bezerra (centro)
Acervo da autora
com Ângela Bezerra (centro)
Acervo da autora
É impossível calcular o número de beneficiários de sua luta admirável. Quantos conseguiu salvar? Quantas dores foram amenizadas? Quantos desesperos amparados? Referindo-nos a meio século, podemos pensar em milhares — e não estaremos exagerando. Corações que guardam lembranças imensuráveis. Corações que guardam uma perene gratidão, embora sem voz para expressar, mas esse nobre sentimento se integra à energia cósmica e se faz registro eterno, contra o qual nenhuma injustiça tem poder.
Cada depoimento de quem o conheceu tem um peso de enorme significação. É um documento fidedigno, fonte para a História, onde seu nome e suas realizações ficarão inscritos para a posteridade.
Fazer o elogio a Dr. João Batista Simões se resume à sentença de Saint-Exupéry, com a qual melhor se define o Humanismo:
“Ser homem é, precisamente, ser responsável. É sentir que, colocando sua pedra, contribui para a construção do mundo.”