Dona Nalva, minha mãe, precocemente partiu para outras dimensões, mas teve tempo ainda de guiar meus passos e os de outros três bacuris até quase ao fim das adolescências (as nossas e não, é claro, a dela). No que me diz respeito, não faltaram os bons conselhos, principalmente aqueles que me alertavam sobre quão importante é selecionarmos, de maneira criteriosa, os amigos; enfim, os camaradas que estarão conosco pelas jornadas da vida.
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“Diga-me com quem andas e direi quem és.”
“Cuidado! Ter muitos amigos é não ter amigo algum.”
“Que Deus me defenda dos amigos, que dos inimigos me defendo eu.”
“Cuidado com certas amizades.”
E por aí ia minha mãe, com essas e com outras máximas, alertando-me sobre a prerrogativa do livre-arbítrio e para que eu não fosse um “maria-vai-com-as-outras”, indo na onda de
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Se Moisés nos apresentou dez mandamentos, a tábua invisível de Dona Nalva tinha, com certeza, mais de vinte.
Tentei levar muito a sério seus conselhos e, devido a essas recomendações, os amigos que colecionei já em meus verdes anos eram pessoas da maior qualidade: Ninil e seu irmão Betinho; Aminthas (formou-se no ITA e faleceu em acidente num lançamento de foguete nas proximidades de Natal); os irmãos Ragazini (Luiz Roberto e José Carlos); Bosquinho e Severo, filhos de Seu Aristides. São os que me lembro.
No ginásio, o Ubiratã, de quem nunca mais soube; João Valentim; Alexandre Rennó; Márcio Buzanelli; Zé Eduardo Cardoso e outros poucos, porque, como recomendava minha progenitora, o rol não devia ser muito extenso.
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Depois, os amigos de giz: Osmar Junqueira, Celsinho, Zé Luiz, Zezão, Zé Laranja, Moge, Robinho, Wagner, Joãozinho. Nessa tropa com a qual convivi nos tempos de professor, tínhamos as meninas: Selma Siqueira, Neuza Mendes, Silvana Romani, Sônia Mozer, Neusa Zuim — e acho que está bom.
Os parças de hoje, acho de bom alvitre não listar. Esquecer de um só que seja (ou uma só) poderia trazer-me aborrecimentos daqueles que consomem muita energia e não nos trazem vantagem alguma.
Então, fazendo uso dos jargões jurídicos, vamos às alegações finais. Meus amigos leitores e amigas leitoras, conferindo esta lista — uma plêiade muito qualificada — ouso aqui fazer uma reclamação. Alguns escorregões em minha conduta, que não qualifico como desvio de
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Nunca um desses (ou dessas), em algum momento, me convidou para ir a uma padaria e tomar um copo de leite. Jamais me chamaram para uma novena, para rezar um terço. Não me convidaram para um culto ou uma missa, para um retiro espiritual, uma romaria a Aparecida do Norte, à Estátua do Padre Cícero — nem pensar. Para aqueles lugares onde os rapazes que nada fazem se encontram com as mocinhas que fazem tudo, eles — e não elas — já me convocaram um monte de vezes. Não fui porque nunca curti os lupanares.
Sempre ouvi: “Vamos tomar umas?”. No caso, “umas” é um eufemismo de “muitas”. Para uma injeção contra a gripe ninguém me chama, mas para ir ao bar do Lulinha molhar a palavra e fofocar não faltam convites.
Enfim, esses pequenos desvios de comportamento que possam me incriminar: acabei de apresentar a lista dos culpados. Não foi culpa de Dona Nalva. Perguntarão: e o livre-arbítrio? Bem, isso deixa para lá!





































