S im, se não fosse o vento, que seria da vida? O vento é que anima tudo. Vento parado, cognominado de calmaria, foi o grande medo dos nossos...

Sim, se não fosse o vento, que seria da vida? O vento é que anima tudo. Vento parado, cognominado de calmaria, foi o grande medo dos nossos descobridores. Graças ao vento, empurrando as nossas caravelas, é que descobriram as Américas.

O vento é um grande símbolo do otimismo, da alegria, de esperança, de fé na vida. Mesmo quando ele se transforma em furacão, é bem-vindo. Há necessidade, às vezes, de uma varredura, de uma lavagem na atmosfera. O Deus-natureza sabe muito bem o que faz.

Foi do medo de um furacão que, certa vez, os apóstolos se assombraram, temendo um naufrágio. Mas o Mestre estava atento e pediu que todos ficassem tranquilos, e tudo terminou bem. Não devemos esquecer que o medo é o avesso da fé.

Como eu disse, no inicio da crônica, se não fosse o vento, tudo estaria paralisado. As árvores, o mar, os rios, as nuvens, a própria vida. Quando respiramos, estamos trazendo o oxigênio para a nossa vida. E nunca temos consciência desse ato tão importante. O oxigênio, o maior alimento, que Deus nos deu, gratuitamente. Alimento sem sabor, mas de muito sabor, até rimou.

Se não fosse o vento, teríamos a morte ao invés da vida. A criança recém-nascida, quando recebe o primeiro ar pelas narinas, chora pelo impacto do primeiro ar que inspira. Os pulmõezinhos ainda não estão acostumados com tanto oxigênio.

Já imaginaram todas as árvores do mundo paradas que nem estátuas? Seria uma desolação total. As árvores dançam com o vento, sorriem com o vento, se cumprimentam com o vento. Ah, os cataventos! Pessoas sem ânimo, sem sorriso, pessimistas são como árvores paradas, sem vento.

E é o vento que limpa a calçada, onde as árvores, a exemplo das castanholas, jogam as folhas secas no chão, num exemplo de renovação e fé na vida.

O tempo é uma espécie de vento. Quanta coisa eles nos leva. E viva a calmaria para a reflexão e a tempestade para a nossa evolução.

Repitamos: Ah se não fosse o vento...

A h, foram muitas! Histórias de excitarem a imaginação do caçula. Seja na saúde, seja na asma, ela quebrava o silêncio do sítio com a sua vo...

Ah, foram muitas! Histórias de excitarem a imaginação do caçula. Seja na saúde, seja na asma, ela quebrava o silêncio do sítio com a sua voz terna e suave. Nunca deixei de ir para o leito, dormir, que não fosse com a cabeça excitada pelas histórias que ela narrava. Histórias de fadas, bichos que falavam de bruxas horrorosas, mistérios. Não sei onde ela foi aprender tanta coisa, pois era funcionária federal, concursada, com grande parte do tempo fora do lar.

Além dessas histórias de fadas e bruxas, vez por outra, vinha com uma leitura mais séria. Narrou-me trechos do “Menino de Engenho” do nosso José Lins do Rego, depois veio com “Doidinho” e assim por diante. E como sabia interpretar os personagens das histórias que contava! Imitava a voz de uma bruxa, de um animal de uma Branca de Neves, e até de uma sereia.

Mas, uma vez, ela me surpreendeu com uma leitura séria, cientifica, sobre a importância da alimentação, dos cuidados com o corpo, do perigo do fumo.

Lembro da história de um homem ignorante, do bicho Tiemunzenga, que morava no sítio do diabo. Só o nome dá para assustar. A história mais dramática era a da velha feiticeira, que terminou sendo queimada pelos netos. As chamas devorando-lhe a carne, e a feiticeira gritando: "Água, meus netinhos". E estes, sorrindo, só faziam dizer: "Azeite, senhora vó”.

Havia também aquela história de João e Maria, que saíram para a floresta, jogando milhos no chão, a fim de acertarem o caminho de volta. Mas chegaram os passarinhos e comeram o milho... Perdidos, os meninos choravam. E o choro chegou também aos nossos olhos. Mas, no final da história, minha mãe, sorrindo, nos consolava: “É tudo mentira”. E vinha aquela reiterada recomendação: "Vão rezar e dormir.”.

E aquela história de um menino que não queria estudar e terminou na miséria? Esta arrancou lágrimas da gente. Ao mesmo tempo serviu de advertência aos que não estudam, que não leem livros. Por fim, a bela história de Branca de Neve e os 7 anões, que muito nos comoveu.

Como minha mãe sabia interpretar os personagens das histórias que narrava!... E o bom mesmo era quando eu adoecia com asma, doença que tanto me torturou. Ela passava horas e horas comigo, na cama, eu ardendo de febre e respirando com muita dificuldade. Tanto era o carinho materno, que eu cheguei a gostar da doença...

Minha mãe era assim. Uma mulher extraordinária. Trabalhadora, otimista, corajosa, inteligente e culta. E muito bonita, mesmo com a idade avançada. Como já disse, ela cuidava muito da aparência. E dizia que deveríamos, vez por outra, dar uma olhadela no espelho, que não mente.

Morreu dormindo. Decerto, despertou para a vida espiritual com aquele seu habitual sorriso de ternura e de otimismo.
Dona Pia, Maria Pia, dona Piinha para os íntimos. Das frutas, a que mais apreciava era a pinha. E dizia, sorrindo, “gosto desta fruta não só pelo sabor, mas também por ter o meu nome”...

A esta altura já devem estar indagando: “e seu pai?” Meu pai, José Augusto Romero, de quem já falei em crônicas anteriores, se harmonizou muito bem com a esposa, inobstante a diferença de temperamentos. Ele, meio introspectivo, ela expansiva. Ele preocupado com os grandes problemas da vida, ela vivendo o “aqui e o agora”. Ela mais imanente, ele transcendente.
E eu feliz por tê-los como pais, cada um com o seu estilo de vida. Ambos souberam desempenhar, com muita responsabilidade, a tarefa que Deus que lhes confiou.

Mas antes de concluir a crônica, que tal um lenço para enxugar as lágrimas do cronista? Ainda bem que começou a chover. Minhas lágrimas se misturam com as lágrimas que caem do céu...

E screvi, há alguns dias, uma crônica sobre o “Jesus-luz”. Mas há quem prefira o “Jesus-cruz”. Tanto é assim que ele continua, como lembranç...

Escrevi, há alguns dias, uma crônica sobre o “Jesus-luz”. Mas há quem prefira o “Jesus-cruz”. Tanto é assim que ele continua, como lembrança, pregado numa cruz. Dir-se-ia uma lembrança meio masoquista e nada cristã. Gostaria de ver, ao invés de Jesus sangrando numa cruz, Jesus de braços abertos, sorrindo, pregando, bendizendo as criancinhas, exortando-nos a olhar os lírios do campo!

Mas deixemos a luz e fiquemos com a água, elemento que serviu de didática do Evangelho. E tudo começou com o batismo na água do rio Jordão. E como começou a sua jornada? Numa festa, onde transformou água em vinho. O vinho como símbolo de alegria e confraternização.

Lembrar ainda que ele convocou seus primeiros apóstolos à beira-mar, justamente no momento em que estavam pescando. Nenhum deles recusou o convite daquele homem bonito, sereno, de olhos profundos e bons. Iriam deixar a água pela terra.

Mas o encontro mais significativo da didática evangélica foi naquele encontro de Jesus com a mulher samaritana. Ela ia ao chafariz, buscar a água que mata a sede. Foi aí que o Mestre lhe ensinou que água verdadeira, a água viva, era o seu Evangelho, que mata a sede para sempre.

E que dizer daquela caminhada no mar, deixando os apóstolos assustados? Ele pisava sobre as ondas como se estivesse sobre um tapete. Pedro ficou maravilhado. Não estava acreditando no que via. Aí se animou em acompanhar o Mestre. E este, sorrindo, fez aquele amável convite: "vem Pedro até onde estou". E o apóstolo foi. Chegou a dar alguns passos sobre as ondas. Veio, porém, o vento e ele se assustou. E se assustando teve medo. Não fosse o Mestre e teria se afogado. “Ah, homem de pouca fé” - disse Jesus.

É isto, não existe fé onde existe o medo. O medo é a fé pelo avesso. O mar serviu mais uma vez de didática, a água do mar... Até mesmo na cruz, quando ele suando, morto de sede, pediu água e lhe deram vinagre... Portanto, assim como a luz, a água ilustrou muito de seus ensinamentos.

S im, parece incrível, mas aconteceu. Minha mãe viveu mais de um século. Saiu dessa longa existência com a consciência tranqüila. Dir-se-ia ...

Sim, parece incrível, mas aconteceu. Minha mãe viveu mais de um século. Saiu dessa longa existência com a consciência tranqüila. Dir-se-ia sorrindo, porquanto pessimismo não era com ela.
Já estou ouvindo ela dizer: “para que estar contando essas coisas para o jornal?" E haja muxoxo. Mas pouco importa, pois sua existência foi um curso de fé na vida.

Nasceu numa terra chamada Canafístula, aqui perto de Pilar. Nome que depois foi mudado para Caldas Brandão, um político, o que a fez fazer não sei quantos muxoxos de protesto. “Canafístula, o nome de uma árvore”...

Mas vamos a dona Pia, nome que ela mudou para Maria Pia. E me dizia, sorrindo: "nome de rainha" Casou-se muito moça com Alfredo de Barros, que morreu jovem, devido a uma pancada de vento, manhã cedo, ao abrir a porta. Dele teve dois filhos: Alfredo e Eudes, que foi poeta, jornalista e escritor.

Com dois filhos e muito bonita, sua viuvez durou pouco. Seu pai Vicente, negociante e tocador de clarinete, desejava que ela se casasse logo. Minha mãe, inimiga da ociosidade, inteligente e corajosa, tratou logo de arranjar um emprego federal, mediante concurso, isto numa época em a mulher, por força dos preconceitos, não deveria trabalhar fora de casa. Dona Pia fez concurso para telegrafista. E a viuvez não demorou muito. Logo lhe apareceu um homem muito elegante, bonito e culto. Era o meu pai, José Augusto Romero, que foi agricultor, dedicando-se ao plantio e colheita do café, para depois se tornar professor, preparando os jovens para o exame de admissão no tradicional Lyceu Paraibano.

Meu pai, como já contei, foi seminarista. Depois se tornou espírita. Minha mãe, que era, em Alagoa Nova, zeladora do coração de Jesus, terminou aceitando a religião do marido.

Ela tinha, quando moça, longos cabelos. Era a moda da época. E diziam que cabelo curto era para mulher vulgar. Pois não é que dona Pia, numa visita que fez à capital, notou que muitas mulheres estavam aderindo à nova moda, e não pensou duas vezes. E ei-la afrontando a sociedade de Alagoa Nova com o cabelo da moda.

Ela era assim: resoluta, corajosa, inteligente, otimista, cuja vida foi um exemplo de coragem, dignidade e responsabilidade. Adorava ler. Decifrava charadas e palavras-cruzadas como ninguém, e chegou a fazer versos. Outra coisa que ela adorava: música. Musica erudita. Muitas vezes a vi, já velhinha, com o rosto molhado de lágrimas, ouvindo Beethoven, Mozart, Chopin, seus compositores prediletos. Ela mesmo era uma musicista, pois tocava flauta. Fez questão que suas filhas Ivone e Iracema, aprendessem piano.

E a sua alimentação? Sóbria. Não dispensava o ponche diário de beterraba com laranja e cenoura. Comia pouco. Adorava vestidos coloridos. Toda semana estava no salão de beleza. E sempre me dizia: "meu filho, velhice quer trato". Era alegre e otimista. Costumava dizer: “não gosto de velho relaxado”. Uma casa velha com pintura nova é outra coisa.

Teve oito filhos. E era tão decidida que chegou a fazer um parto, sozinha, já que a parteira estava demorando, e quando chegou, o menino já estava fora, esperando apenas o corte do cordão umbilical. Que mulher admirável!

A h, as doenças! Quem não as teve, nesta vida, que começa num berço e termina num túmulo? Saber que nunca houve uma pessoa de saúde completa...

Ah, as doenças! Quem não as teve, nesta vida, que começa num berço e termina num túmulo? Saber que nunca houve uma pessoa de saúde completa! Mas estamos neste mundo para sofrer e aprender. E como a enfermidade ensina a gente! Eu tenho sido uma pessoa razoavelmente sadia, ao longo de minha bela existência.

Menino de 3 anos, fui operado de um caroço na nuca, cuja cicatriz ainda continua. E quem o tarjou foi um farmacêutico de Alagoa Nova.

Vamos a outra enfermidade: a asma ou “puxado”, que me deixava no leito noite adentro. Minha mãe suavizava a situação contando-me belas histórias, desde Branca de Neve a Ali Babá e os 40 ladrões. Minha imaginação delirava. A doença me deixava arquejante. Fiquei bom da asma, mas com saudade das histórias que ouvi na voz doce de minha mãe.

De lá pra cá, a saúde não foi mais afetada. Depois vieram o sarampo, a urticária e papeira. Doenças da moda. Eu me vangloriava dessas enfermidades. Há pessoas que adoram contar as doenças que já teve, como estou fazendo agora.

Continuei com uma saúde de ferro, até que apareceram umas tonturas. Tive de ir a um neurologista de Recife, Dr. Manuel Caetano. E as tonturas foram desaparecendo, e entrei num período de ótima saúde. Meu propósito, agora, era me preparar contra as enfermidades. Comecei a praticar as caminhadas, aqui em Tambaú e cuidar de uma boa alimentação. E quem nos incentivou para isso foi meu filho caçula, Germano, que conheceu a alimentação integral através de uma amiga. E viva os grãos e cereais que continuam acedendo meu apetite, sem esquecer a papa de aveia!

De lá para cá eu tive uma saúde de ferro. E tudo começou quando aboli o vício do cigarro. Não fosse isso, já estaria domiciliado no Cemitério da Boa Sentença. Quem não pode se livrar desse vício está se suicidando.

Mas vamos adiante. Nestes últimos tempos, fui acometido de uma estenose lombar. E a crise ocorreu justamente no início de uma viagem a Israel e Europa. Passei muitos dias com dificuldade de andar, mas, mesmo capengando, ainda deu pra conhecer vários lugares narrados pelo Evangelho, em Jerusalém. E cheguei até a me sentar numa pedra que, ao que se informou, recebeu as vibrações do Mestre.

Mas a estenose continuava a doer fortemente, a ponto de procurar uma cadeira de roda. Tive de fazer uns exames num grande hospital de Tel-Aviv. Sofri muito, até que chegou a vez de terminar o nosso circulo de viagem, em Londres. Não andava mais a pé e sim na cadeira de roda, que foi uma maravilha. Rodei várias ruas londrinas sentado na macia cadeira. E sabe quem me empurrava? Meu Germano.

Caminhando no chão de Londres eu vi como o seu calçamento é um prato. Não se vê um obstáculo ao deficiente naquela superfície de cidade supercivilizada. E vem, aqui, esta ilação: todo prefeito deveria andar numa cadeira de rodas, como instrumento de trabalho, para se informar do estado de conservação das calçadas. E viva meu “filho Babá”, e os cuidados de minha adorável Alaurinda!

A vida tem desses imprevistos, que se transformam em lições. E, aqui para nós, é na enfermidade que a gente reflete, e refletindo, amadurece.

Mas, viva a saúde, seja a do corpo, seja a do espírito, a mais importante!

M anhã de 8 de março, dia do aniversário dele. E pelo fone, logo cedo, me beijando e abraçando, o caçula foi dizendo que eu sou o maior pres...

Manhã de 8 de março, dia do aniversário dele. E pelo fone, logo cedo, me beijando e abraçando, o caçula foi dizendo que eu sou o maior presente para comemorar a significativa data. Enquanto ele me dizia isso, hoje homem feito, já realizado como arquiteto e como cronista, pus-me a me lembrar do seu nascimento, por via cesariana, aqui em João Pessoa, e já galego. Veio fazer companhia ao primogênito Carlos, nascido em Campina Grande e hoje PhD em Física, ora vejam só...

Mas, voltando ao meu aniversariante, ele foi autor de muitas travessuras e alturas. Tanto é assim que, com 7 anos apenas, pediu para subir, sozinho, numa roda-gigante e num “polvo” da Desta das Neves. E a mãe quase morreu de medo. O menino subiu e ainda pediu bis, no que não foi atendido.

Nunca foi castigado. Nem uma leve palmada sofreu. Era um peralta admirável, que fazia amigos com muita facilidade. Difícil não gostar dele. E, aqui para nós: o menino era bonito de morrer, como se costuma dizer.

Aprendeu a gostar de música erudita ainda criança, com a tia Iracema, que era pianista, e terminou se bacharelando em Música. E como eu gosto de ouvi-lo tocando “A Maré Encheu”, do nosso Villa-Lobos.

Inquieto por natureza, parece dizer: ”pernas para que te quero”. É um globe-trotter admirável. Conhece o mundo a fundo. E não satisfeito de levar suas impressões de turista culto e sensível para o jornal, ainda acha de contar tudo que vê nas viagens, no quadro Parada Obrigatória, do programa da RCTV, “Cá Entre Nós”, num interessante diálogo com a inteligente Rose Silveira,

Mas o diabo é que o caçula não quer viajar só, e acha de me levar em sua companhia, ao lado da boadrasta Alaurinda. E não ficou nisso. Achou de me dar um presente de aniversário: Escolheu Paris, minha cidade favorita, para passarmos este carnaval.

Pois é esse galego, meu caçula, que no seu aniversário o meu desejo era pegar um globo terrestre, envolvê-lo com um papel colorido e dizer-lhe: “está aqui o presente que você me deu e continua dando: conhecer o mundo lá fora”.

E viva o garoto das travessuras, e arquiteto das alturas, que só pára no programa de Rose, quando faz o Parada Obrigatória.

C onquanto a História não diga, mas a imaginação contou tudo que houve depois que Jesus deu o último suspiro na cruz e Satanás saiu, alegre,...

Conquanto a História não diga, mas a imaginação contou tudo que houve depois que Jesus deu o último suspiro na cruz e Satanás saiu, alegre, abraçando e agradecendo ao povo que o libertou. Só o “Bom Ladrão” não quis participar dos festejos, que, hoje, poderíamos cognominar de carnavalescos. O Bom Ladrão já estava no paraíso da consciência tranquila, como prometeu o meigo nazareno.

E decerto foi um festão depois que o crucificado expirou. E houve até blocos com bandas e seus pitorescos nomes, a exemplo de “Maçã Podre”, ”Coceira no sovaco”, e assim por diante.

E os grandões e poderosos armaram camarotes para assistir à festa do povo. Estavam, lá Pilatos, Herodes, Caifaz e outros. Sorrindo, Pilatos cochichava para os amigos, fazendo alusão ao povo: “Esta gente precisa se divertir. Afinal, são eles quem nos elegem, que pagam os impostos”

Lá no alto, a cruz estava vazia. O perturbador da ordem morrera, o homem que desejava ensinar o povo a aprender a verdade que liberta.

E haja excessos alcoólicos, haja gritaria, haja poluição sonora. O mais animado era Barrabás, que fora solto pelos políticos, no lugar do Cristo. Estava fantasiado de mulher. E chegou a gritar bem alto: ”Mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”...

Pilatos não cabia em si de contente: “O povo precisa desta alegria. O nazareno era um ingênuo, que nem soube responder à pergunta que lhe fiz - O que é a verdade?”

O barulho, ou melhor, a poluição sonora era enorme. O álcool enchia as consciências. É necessária a distração. A distração impede a reflexão. E viva o barulho, e viva a bebedeira, que a vida é passageira. Até rimou...

Em qualquer lugar do planeta, viajar de avião é sempre uma ótima comodidade. Na Europa, há um componente ainda mais vantajoso, pois muitas...



Em qualquer lugar do planeta, viajar de avião é sempre uma ótima comodidade. Na Europa, há um componente ainda mais vantajoso, pois muitas localidades, grandes e médias, são servidas por empresas aéreas de baixo custo. O problema é que o preço atraente traz uma contrapartida desagradável: o passageiro geralmente tem que se deslocar para aeroportos distantes e em horários prá-lá de inconvenientes.

C omo tudo na vida passa, o nosso paraíso haveria de acabar. E tudo começou quando ouvi um fiapo de conversa de meus pais. Eles falavam que ...

Como tudo na vida passa, o nosso paraíso haveria de acabar. E tudo começou quando ouvi um fiapo de conversa de meus pais. Eles falavam que o sítio ia ser desapropriado pelo Governo para dar lugar à construção de um colégio.

Não entendi bem esse negócio de desapropriação. Só sei que senti um forte aperto na garganta. Olhei para as mangueiras que, decerto, iriam ser derrubadas. Saí andando meio cambaleando pelo sítio, sentei-me no chão e chorei muito. As árvores pareciam me escutar. Os cachorros, Bunque e Iglô, chegaram perto de mim, balançando as caudas, como desejando me consolar.
Meus olhos se estenderam sítio afora. Meu paraíso ia ser destruído. E para onde iríamos? Talvez para uma casa lá no centro da cidade. Uma casa com quintal, apenas.

Neste momento meu pai passou perto de mim e foi logo indagando: “Que está fazendo, aqui, sozinho?” Tive pena dele. Sem dúvida estava sofrendo em silêncio. O sítio era tudo para ele. Quase tudo que existia ali, afora as fruteiras, saiu de suas mãos de agricultor.

O tempo foi passando e eis que, um dia, ele informou aos filhos: o governo ia desapropriar o sítio, e iríamos morar numa casa, na Rua Nova, uma das principais da capital. A casa era grande, tinha um sótão e ficava defronte do Convento de São Bento. E era na Rua Nova que se realizava a Festa das Neves. Essa informação consolou-me um pouco. Afinal, a vida é feita de mudanças.

No dia seguinte, meu olhar para o sítio era triste, de despedida. Um olhar molhado de lágrimas. Tive pena das árvores, que, por certo, seriam derrubadas, inclusive a casa, com seus longos alpendres. E eis que chegou um bando de meninos para brincar, que moravam em casas com seus quintais. Mas, silenciei em relação a saída do sítio. Sem dúvida, alguns deles iriam gostar. Muitos me invejavam.

Papai agora não era mais dono de um sítio. Iria ser burocrata. Deixava o campo pelo birô. Ia ser funcionário federal, secretário das Obras Contra as Secas.
E chegou o dia da mudança para a Rua Nova, com sua Catedral, seu silêncio histórico e místico.

Os cachorros não sabiam da mudança. Daí aquela alegria de rabo balançando. Tive pena deles. Adeus Lagoa, adeus adoráveis manhãs de domingo, adeus meu paraíso, adeus aquele cheiro de terra, as frondosas árvores, a paz paradisíaca...

Mas a vida é uma dança, a dança da mudança. Minha mãe, que adorava novidade, enfrentou a situação com muito otimismo. Ela vivia muito bem o presente. Já em papai, notei uma melancolia saudosista. Trocar o sítio por uma repartição pública...
Menino de calça curta, eu já ansiava por uma calça comprida. Disseram-me que na Rua Nova havia uma grande costureira chamada dona Eudócia. Isto me animava.

A Rua Nova tinha largas calçadas, que serviam de campos de futebol. Não faltavam meninos para isso. Havia os pés de fícus e oitizeiros que ornamentavam a rua. O resto eram só casas. E haja janelas para as conversas. Ali morava muita gente ilustre e rica. O ex-presidente e general Camilo de Holanda, o historiador Coriolano de Medeiros, fundador da nossa Academia de Letras, Gazzi de Sá, professor de piano e maestro de orfeão, o presidente Castro Pinto, escritor De Castro e Silva, o primeiro biógrafo de Augusto dos Anjos e assim por diante. Mas, e o sítio, que continua na minha memória? Impossível esquecê-lo.

O menino de sítio agora era menino de rua, vivendo entre casas ao invés de árvores, calçamento ao invés de terra, buzina de automóveis ao invés de pássaros cantando.

Quando fui dormir, o sítio apareceu na minha imaginação. Veio aquele nó na garganta, e um dilúvio de lágrimas. Chorei baixinho para ninguém ouvir. O sítio veio comigo. A minha tristeza era profunda. Tristeza que o carrilhão da Catedral, com suas místicas badaladas aumentou ainda mais...

S im, estou me referindo a Abelardo Jurema, que comemoraria um século de existência, se ainda estivesse aqui no mundo. O evento está sendo l...

Sim, estou me referindo a Abelardo Jurema, que comemoraria um século de existência, se ainda estivesse aqui no mundo.

O evento está sendo lembrado com muita saudade, porquanto Abelardo soube, como ninguém, fazer amigos. Era uma alma escancarada, aberta, fraternal, que todos os dias nos dava lições de amor à vida.

Fui seu aluno. Mais ainda: fui seu admirador. Aluno de que? Adiante eu conto. Continuemos na crônica.

Nosso querido Abelardo não sabia cultivar ódios, ressentimentos. Recorro à memória, que me traz a imagem desse homem de coração aberto. Ele me chamava Romero. E o Romero, em sua boca, soava bonito, pois a voz dele era de uma sonoridade que agradava aos ouvidos. Sempre elegante. Elegante no vestir, elegante no falar, elegante no ensinar, não esquecendo que ele foi meu professor. Professor de que? Mais adiante, digo.

Ele gostava de política, da boa política. Espremo mais a memória e vejo-o de camisa colorida, distribuindo sorrisos e abraços. Difícil não gostar dele. Nunca vi Abelardo triste, falando mal de alguém, Abelardo pessimista, Abelardo rosnando ódios.

Foi um paraibano ilustre, que desempenhou cargos importantes com a mesma fidalguia. Seja como Ministro da Justiça, Procurador da República, Prefeito, e Diretor do BNDES, como professor e diretor da Rádio Tabajara, onde se ouvia a sua voz, que era de uma imponente beleza. E saber que esse otimista foi exilado... E nesse exílio no Peru, deixou-nos um livro molhado de saudades, um livro comovente.

Sim, vou contar, Abelardo foi meu professor de Literatura Brasileira, no Lyceu Paraibano. Suas aulas eram gostosas. Ele confundia-se com os alunos. Nada de distância. Um homem que deixou um grande exemplo não só aos alunos mas a todos os paraibanos. Exemplo de otimismo, de amor à vida, de dignidade, de coragem diante das dificuldades.

Sua mão vibrou quando assinou o decreto que federalizou a nossa Universidade. Que grande presente, ele deu à nossa terra!

Pai de oito filhos que só lhe deram alegria, ele era uma alma aberta, que não conhecia a mesquinheza. E como era gostoso aquele seu abraço fraternal, como se quisesse abraçar o mundo!... Um homem elegante, bom e bonito.