O filme Uma Casa à Beira-mar ( La Villa , França, 2017), tem início com um homem que, sozinho na varanda, contempla o cenário idílico da...

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O filme Uma Casa à Beira-mar (La Villa, França, 2017), tem início com um homem que, sozinho na varanda, contempla o cenário idílico da paisagem marítima do sul da França. Seu êxtase e silêncio diante daquela paisagem também nos invade. Imerso na beleza do lugar, o senhor idoso se inundará também de sangue ao extremo. Sofre um acidente vascular cerebral e emudece. Literalmente.

O Afeto era jovem e belo, talvez um pouco triste... e, passando para além de suas serras, encontrou a Criatividade, com um sorriso maroto....

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O Afeto era jovem e belo, talvez um pouco triste... e, passando para além de suas serras, encontrou a Criatividade, com um sorriso maroto. “O afeto está sempre à deriva” (Lacan). O amor estendeu o laço e o irmão autorizado abençoou. A simplicidade foi convidada para juntos, constituir uma família, baseada nos princípios morais e religiosos. O acordo assinado incluía a felicidade do estar junto, dividir um sonho, não querer o que além do possível fosse... “A sabedoria não existe na razão, mas no amor” (André Gide).

Numa fresca manhã de outono do ano de 79 d.C., o vulcão Vesúvio acordou de um prolongado sono de mais de 500 anos. Aos seus pés, florescia...

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Numa fresca manhã de outono do ano de 79 d.C., o vulcão Vesúvio acordou de um prolongado sono de mais de 500 anos. Aos seus pés, floresciam vinhas e uma pequena cidade voltada para as alegrias da cama e da mesa: Pompeia. Em poucos minutos, fogo e cinzas sepultaram copos de vidro, jarras coloridas, estátuas de jardim e pães recém-saídos do forno. As casas decoradas com mosaicos e afrescos tornaram-se o túmulo de milhares de habitantes da cidade que cultuava dois mundos – o da morte e o dos prazeres.

O que dizer daquelas almas artísticas mais operosas, abundantes na história da Arte ocidental e que, mais do que avanços artísticos, firma...

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O que dizer daquelas almas artísticas mais operosas, abundantes na história da Arte ocidental e que, mais do que avanços artísticos, firmaram marcos civilizacionais que até hoje, representam um legado cultural de quase transcendência, encerrados que estão em grandes museus quais ícones em templos sagrados, enfileirados em seus nichos e à espera dos indecisos fieis que venham preencher parte do vazio deixado em suas almas por um cristianismo soterrado de contradições? De Giotto a Grunewald, dos Brueguel a Reembrandt, passando por Ticiano e Velásquez, para citar alguns, é razoável supor terem esses abnegados, em algum momento de seus percursos de aprendizado para os cúmulos da maestria, formatado internamente seu amálgama de conceitos pelo somatório de um conjunto de impressões sobre tendências gerais traduzidas e personalizadas, e intimamente acrescidas de novas contribuições subjetivas, fazendo brotar através das referidas obras, num jorro de lava, fulgor mais ou menos incandescente, e esse processo, condensado numa crisálida formal, eclodido para tornar-se o novo basalto, a nova matéria e plataforma atualizada de um novíssimo trato civilizatório.

A calçada é ou era uma extensão da casa, feita e conservada pelo proprietário, mas de uso garantido e disciplinado pelas Posturas Municipa...

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A calçada é ou era uma extensão da casa, feita e conservada pelo proprietário, mas de uso garantido e disciplinado pelas Posturas Municipais. Temos uma Lei de Posturas sancionada há 26 anos pelo então prefeito Francisco Monteiro da Franca.

Lembrei-me da existência dessa lei ao descer do carro, esta semana, no início da Pedro I, logo atrás do Palácio do Carmo, e ser impedido de tomar a calçada. Não existe calçada, toda ela, de uma esquina a outra, um farelo esburacado, destroçada pelo abandono, reduzida a um montão de cacos, ínvia como diria a mais catedrática titular do português

Hoje, domingo pela manhã, acordei cedo e fui caminhar na orla, como é de costume. Antes de voltar para casa fui ao supermercado comprar b...

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Hoje, domingo pela manhã, acordei cedo e fui caminhar na orla, como é de costume. Antes de voltar para casa fui ao supermercado comprar banana, minha fruta preferida. Aproveitei para comprar ricota, presunto de parma, um vidrinho de molho de caponata e um vinho tinto português. Depois de fazer a limpeza habitual dos alimentos por causa da pandemia e logo após o banho, preparei um coquetel de tequila Jimador com Le Jirop de Monin de gengibre, um xarope francês e suco de um limão. Preparei os ingredientes, fui para a sala de visitas e liguei o YouTube na minha TV. Imediatamente sintonizei o vídeo de Chico César

O suicídio é uma atitude condenável há muito tempo. No mais das vezes, por razões religiosas. No Fédon (Φαίδων), Platão é incisivo quando...

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O suicídio é uma atitude condenável há muito tempo. No mais das vezes, por razões religiosas. No Fédon (Φαίδων), Platão é incisivo quando trata do assunto e põe na boca de Sócrates, personagem do diálogo, a afirmação de “dizerem o suicídio não ser permitido pela lei de Thêmis”, lei que servia a regular as ações dos deuses e dos mortais (οὐ γάρ φασι Θεμιτὸν εἶναι, 61c). Se o suicídio é proibido, porque, então, Sócrates se suicida? Há, pelo menos, três explicações para o fato: o Fédon não foi lido; o diálogo foi lido, mas não foi entendido; apesar de lido e entendido, prevaleceu a simplificação – Sócrates tomou a cicuta, então, ele suicidou-se.

No meio da manhã as lágrimas da noite chuvosa já haviam secado na praça. O vento espiçava com força suave seus tentáculos fortes e invisív...

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No meio da manhã as lágrimas da noite chuvosa já haviam secado na praça. O vento espiçava com força suave seus tentáculos fortes e invisíveis sobre a grama, os balanços, os bancos de pedra e os galhos das mais altas árvores. No mais, era o silêncio. Uma paz ruidosa que se fazia presente em embalagens plásticas que rolavam sobre a calçada de cimento, nas folhas arrastadas aqui e acolá, no motor a impulsionar um veículo distante que se afastava cada vez mais até se perder do alcance dos ouvidos. E tão importante, a tranquilidade poderosa da voz do rádio a cantar mitologias, sertões, filosofias, pulsações. Zé Ramalho evocando deuses, mitos e sonhos delirantes e reais de Brejo do Cruz, do mundo anterior e interior em expansão.

Estreia amadurecida a de Antônio Mariano no gênero romance. E amadurecida porque “Entrevamento” (Kotter Editora, Curitiba, 2021) tem como...

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Estreia amadurecida a de Antônio Mariano no gênero romance. E amadurecida porque “Entrevamento” (Kotter Editora, Curitiba, 2021) tem como lastro, como suporte, o contista de “O Dia em que comemos Maria Dulce”. Quer dizer, Mariano não é um neófito em termos de ficção, pois a sua experiência vem de longe.

Por outro lado, se o conto e o romance são gêneros distintos, isso não quer dizer que sejam antípodas, que deixem de possuir algumas afinidades, tanto que o narrador carreia para o interior de “Entrevamento” alguns recursos estilísticos comuns aos dois gêneros. Mas nesse romance também está presente a poesia, uma vez que todos os gêneros se consorciam e conjugam esforços para a conquista de um objetivo comum: o de emprestar ao texto um caráter polifônico, múltiplo, regido por muitas e diversas vozes. Aqui, cabe não esquecer a tendência açambarcadora do romance, a sua pretensão de “oferecer uma imagem total do universo”.

Tempos atrás escrevi nesta coluna uma manifestação de protesto em desagravo a uns vizinhos que tinham vindo morar aqui ao lado. Entre eles...

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Tempos atrás escrevi nesta coluna uma manifestação de protesto em desagravo a uns vizinhos que tinham vindo morar aqui ao lado. Entre eles e os aqui de casa apenas um muro fazendo fronteira. Do outro lado, uma menina que chorava dez horas por dia e um galo que começava cantar as três da matina. Nem duraram seis meses e Deus deve ter ouvido minhas fervorosas preces e ajeitou para que eles se mudassem. Desapareceram. Bernadete, a menininha, deve estar arrastando suas manhas noutras vizinhanças; já o galo... Se não virou um guisado deve estar atormentando outras gentes, em outras freguesias. Ufa!

O choro é um estado emocional que pode ser provocado, tanto por manifestação de alegria, quanto de tristeza. É uma característica exclusiv...

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O choro é um estado emocional que pode ser provocado, tanto por manifestação de alegria, quanto de tristeza. É uma característica exclusivamente humana. O pranto do sofrimento, no entanto, é resultado da vivência de angústias, decepções, dores, medo, indignação e saudade. Nesses casos o choro é involuntário. Há quem entenda que ao chorar a pessoa demonstra que não tem capacidade para lidar racionalmente com uma situação indesejada. Não concordo com esse ponto de vista. Tem sentimentos que dificilmente podem ser reprimidos ou sufocados. É preciso que eles sejam expressos de forma a acalmar um coração pesaroso.

Jamais havia feito qualquer cirurgia. O medo da anestesia sempre me perturbou, principalmente depois que assisti ao melhor filme já feito ...

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Jamais havia feito qualquer cirurgia. O medo da anestesia sempre me perturbou, principalmente depois que assisti ao melhor filme já feito sobre julgamentos e tribunais; “O veredicto”, por sinal com um ator que minha mãe achava minha cara, Paul Newman. Não fosse aquela violenta febre que me atacou aos 10 anos, meus olhos ainda seriam azuis e meu cabelo continuaria liso e louro. Mas vamos ao que importa.

Deparo-me, comumente, com certas leituras dos mitos imbuídas de anacronismos e que desconsideram completamente a aura sagrada do universo ...

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Deparo-me, comumente, com certas leituras dos mitos imbuídas de anacronismos e que desconsideram completamente a aura sagrada do universo mítico, como também a hierarquia existente entre as próprias divindades, assim como entre deuses e humanos.

Equívoco é atribuir apenas às figuras femininas o lugar de vítimas da ação dos deuses. É ignorar a história de Ganimedes, raptado por Zeus. Também de Jacinto, objeto do amor de Apolo, ou de Circe, de quem Odisseus não pode escapar.

Embora seja um personagem romântico, mundialmente disseminado a partir do clássico Drácula , do escritor Bram Stoker, a natureza do vampi...

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Embora seja um personagem romântico, mundialmente disseminado a partir do clássico Drácula, do escritor Bram Stoker, a natureza do vampiro é, em sua essência, trágica (na maldição que carrega), medonha (na forma em que se apresenta há mais de um século) e, em muitas vezes, maléfica (na maioria da literatura e da filmografia em que o personagem é destacado, sua figura, invariavelmente, vem das trevas e é o vilão da narrativa).

Pretextei uma consulta para rever, conversar, nem tanto com o médico que me atura há décadas, mas o cultor sensível da paisagem humana e c...

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Pretextei uma consulta para rever, conversar, nem tanto com o médico que me atura há décadas, mas o cultor sensível da paisagem humana e cultural da João Pessoa que ele adotou desde a passagem pelo nosso Liceu, vizinho de carteira e parceiro de cineclube de Martinho Moreira Franco.

- Nosso Martinho... não é, Gonzaga!

Não havia outro modo de nos rever senão o exclamativo. Jaime (falo de doutor Manuel Jaime Xavier Filho), como eu, não deve ter ido se despedir do amigo de tantas afinidades.

Manhã de supermercado. Vagueio por entre gôndolas quando me chegam os acordes de um hino que eu costumava ouvir aos meus 11 ou 12 anos. Pr...

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Manhã de supermercado. Vagueio por entre gôndolas quando me chegam os acordes de um hino que eu costumava ouvir aos meus 11 ou 12 anos. Pronto, bastaram as primeiras notas para eu recordar, de imediato, os versos que supunha perdidos num recanto qualquer da memória:

"Senhor meu Deus, quando eu maravilhado contemplo a tua imensa criação. A terra e o mar e o céu todo estrelado me vêm falar da tua perfeição. Então, minha alma canta a Ti, Senhor Grandioso és tu”.