A chuva da última sexta só fez aumentar a minha dívida com a amplidão acolhedora de Campina Grande. Naquela cidade me fiz; de lá sa...

Minha dívida com Campina

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A chuva da última sexta só fez aumentar a minha dívida com a amplidão acolhedora de Campina Grande.

Naquela cidade me fiz; de lá saí para o que tinha de ser. Um pequeno caboclo de sítio, tirado de um socavão de desfiladeiros e matas fechadas que estreitavam a terra e o céu, o horizonte, a pequena porção de terra de um pai que não sabia ler, que assinava em cruz, no entanto consorciado com minha mãe, uma ex-beatinha da Casa de Caridade do padre Ibiapina, que a tudo via com energia e com os olhos feitos no Evangelho.

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Casa de Caridade Padre Ibiapina (Campina Grande-PB) Deptº Imprensa Nacional
Um Evangelho, ressalte-se, que começava pela varinha de Anchieta a alargar e apontar horizontes além do que cingia aquele nosso mundo povoado da mais primária sobrevivência.

Imaginem os jovens senhores deste século sem limites de tempo ou de espaço. Tempo e espaço nos quais, onde estivermos, aí está o mundo inteiro, desde que não nos falte o celular, o bem de consumo mais integralmente distribuído nesses nossos quinhentos anos de civilização e progresso.

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GD'Art
Pois bem, hoje, com 92 anos, ainda sinto — não sei se encanto ou alvoroço — daquele menino de sítio que, depois das subidas e descidas de quem vem do Brejo, vê destampar-se, num clarão de vida, a maior cidade do seu mundo. Bem maior do que a propagada por fereiros, tropeiros ou viajantes. E que nunca mudou de tamanho nem de espírito, por mais que outras praças da região afluam na concorrência.

Numa página de Notas do meu Lugar, a propósito de discurso de vanglória pela água que se botava em Campina, escrevi, faz meio século:

“Campina Grande não se formou nem cresceu de nenhum alvará da Corte. Cresceu de si mesma, por sua própria conta ou pelo que a Paraíba lhe deve. (...) Praça internacional do algodão, praça nacional de couro, de minérios, praça regional do varejo e do atacado. A rua Presidente João Pessoa, um acostamento nacional, um congresso múltiplo e vário de placas, siglas próximas e longínquas.”
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Gonzaga Rodrigues
Era o que eu via da janela de interno do Pio XI. E, da mesma janela, vendo por cima, nunca saí. Não sei como larguei tudo isto.

Tive a intenção de entrar no Rebate, jornal do professor Luiz Gil, mas lá não havia folha de pessoal. Sem queda para o comércio, migrei para João Pessoa, em 1951, atrás da vaga que o Rebate não podia oferecer. Lá circulavam quatro jornais: A União, do governo; A Imprensa, dos padres, tendo padre Odilon como diretor; O Norte, da campanha de Zé Américo; e A Tribuna, de Epitacinho.

Graças a essa opção de vida e de trabalho, meus vínculos com Campina se tornaram ainda mais fortes e mais se ampliaram ao sabor do tempo e de duas gerações: a de Epitácio Soares, João Viana, Antônio Mangabeira, Raimundo Gadelha, Nilo Tavares, João Nogueira de Arruda
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Rua Floriano Peixoto (Campina Grande)
@cgretalhos
(Pinta Cega), Raif Ramalho; e a de Juarez Farias, Evaldo Gonçalves, Babá e Evaldo Cruz, Orlando Tejo, Raimundo Asfora, Luís Mota, Figueiredo Agra, Manuel Cunegundes, Raimundo Adolfo, Antônio Carlos Escorel, Carlos Martins Leite, Geraldo Nogueira, Noaldo Dantas, Amir Gaudêncio, José Neiva Freire, e a presença solidária e amiga de Chico Pereira, Gleryston Lucena, Leidson Farias — somando-se a tudo isto o privilégio de ser acolhido (por que não dizer?) jovialmente pela geração de Bruno Gaudêncio, Thélio, Thomas Bruno.

Mesmo sem poder ir abraçar os amigos de Campina, impossibilitado pela chuva da última sexta, não posso deixar de expressar minha gratidão às almas generosas que, mesmo quando nada mais lhes posso oferecer, se contentam com a pobreza do meu afeto.

Obrigado, presidente Thélio Queiroz Farias, chanceler Dalton Gadelha, amigos José Mário da Silva Branco, Chico Pereira, Vladimir Neiva!

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