Flaubert disse, em um trecho de sua correspondência com sua namorada, a poetisa Louise Colet: “Não é nada fácil ser simples.” Complicar é mais fácil porque acompanha o fluxo natural da mente: pensar demais, seguir devaneios, florear, criar justificativas e abrir desvios que se acumulam como camadas de poeira.
A complicação não exige responsabilidade, não obriga a decidir, não força a escolher o que realmente importa; é um modo de se esconder atrás de palavras, conceitos e nebulosidades.
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É difícil porque nos expõe e nos obriga a assumir uma posição clara, firme e vulnerável. Além disso, o ego gosta da complicação porque ela confere uma impressão de profundidade.
A simplicidade, por outro lado, pede humildade, força e a capacidade de dizer “é só isso” sem que o pensamento perca sua densidade. O essencial é sempre pequeno, discreto, escondido; por isso, simplificar é um trabalho de escavação, enquanto complicar é só deixar tudo como está.
Clarice Lispector disse: “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade na escrita através de muito trabalho.” De fato, é assim.
Mario Quintana também valorizava o que era simples e rejeitava a complicação. Criticava os estilos excessivamente ornamentados, que, para ele, lembravam alguns altares barrocos: tão cheios de anjinhos que quase impedem de
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Luís Fernando Verissimo comentou certa vez, em uma entrevista, que se desdobrava para criar as situações cômicas dos seus escritos. Ele confessou que se dedicava a trabalhar o texto até alcançar uma simplicidade e uma leveza que dessem a impressão de que tudo havia sido escrito sem esforço algum.
O essencial da vida e do bem nunca precisa de enfeites. A palavra clara e honesta toca mais fundo que qualquer ornamento. Alcançá-la, contudo, dá trabalho.
A simplicidade verdadeira é fruto de disciplina, humildade e renúncia à vaidade, seja no falar, no escrever ou no agir. Na literatura, é enxugar as palavras; e, na vida, é lapidar a alma.
Numa parábola zen, o jovem aprendiz de caligrafia passou anos tentando escrever um único ideograma com verdadeira beleza e simplicidade. Seus traços eram sempre desiguais, inseguros ou artificiais; ora complexos demais, ora rígidos, ora excessivamente ornamentados.
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— Mestre, por que é tão difícil ser simples?
Ao que o mestre respondeu:
— Mostre-me o seu melhor ideograma.
O jovem desenhou com todo esmero, calculando cada movimento. O resultado ficou sofisticado, mas frio.
Ele então tentou outra versão, e outra, e mais outra, durante horas.
Por fim, já cansado, sem pensar muito e sem tentar “impressionar”, o aprendiz pegou o pincel e escreveu o ideograma com um gesto natural e fluido, fruto de centenas de dias de treino silencioso.
O mestre sorriu e disse:
— Aí está. Finalmente, a simplicidade.
O jovem, confuso, perguntou:
— Mas eu não me esforcei dessa vez...
— Você passou anos se esforçando. O gesto simples é o topo da montanha, não o início da caminhada — disse o mestre.
























