Para utilizar de uma expressão de Antônio Carlos Secchin sobre João Cabral de Melo Neto, direi que Amador Ribeiro Neto é um “poeta do men...

Amador: o poeta do menos




Para utilizar de uma expressão de Antônio Carlos Secchin sobre João Cabral de Melo Neto, direi que Amador Ribeiro Neto é um “poeta do menos”, uma vez que investe – como o faz neste “Poemail” (Editora Patuá, São Paulo, 2019) e nos livros anteriores – numa linguagem ideográfica, icônica, semiótica, ao tempo em que, ainda na esteira do Concretismo, explora o espaço em branco do papel e atribui voz ao silêncio, tornando-o substantivo, antirretórico por excelência.

Vale ressaltar que Cabral e Amador ocupam espaços próprios no contexto da poesia brasileira, embora o ato de escrever consista num procedimento dialógico, numa conversa a muitas vozes, que ora se rejeitam, ora se assimilam, formando um burburinho no qual fica difícil delimitar onde começa a voz de um poeta e onde termina a do outro.

Em última análise, Cabral é um dos poetas das “afinidades eletivas” de Amador, assim como o foram, do poeta pernambucano, Murilo Mendes e Drummond. Já o Concretismo, é a maior referência de Amador Ribeira Neto para a criação de sua obra poética.

Com “Poemail”, escrito quase todo ele sob a égide do racionalismo, o autor
sofre o risco de ser considerado um poeta desprovido de sentimentos, como se a inteligência que preside e rege a sua poesia não representasse uma prova cabal, eloquente, da mais pura sensibilidade.

Outra de suas recorrências estilísticas é a de não fazer concessões ao fácil, a de escrever criando dificuldades, sem contorná-las, isto é, sem sair pela tangente, já que o próprio ato de escrever, para ele, “(...) se transforma, paradoxalmente, em um método de evitar a poesia”. Ou seja, de embargar a poesia enquanto efusões meramente sentimentais, tão
ao gosto daqueles que – nunca é demais repetir – regam as flores da retórica com o orvalho da inspiração, mas descuram do lastro imprescindível, tonificante, da linguagem.

Pois bem. Amador, corroborando o sábio conselho de Verlaine, “torce o pescoço da eloquência”, o que repercute negativamente junto ao leitor afeito a fruir um tipo de literatura “sorriso da sociedade”, de mero e fugaz entretenimento.

“Poemail”, enfim, não é um livro para principiantes.


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