O que chamamos de Universo, hoje, abrange toda a forma de matéria possível. Não há mais espaço para o “nada” da metafísica, na Física atual. Quando nos referimos a “matéria”, incluem-se além das partículas elementares, que têm massa, os campos responsáveis pela interação entre essas partículas. Em outras palavras, incluem-se também a luz e qualquer outro tipo de radiação eletromagnética ou gravitacional.
Stephen Hawking ▪ 1970s ▪ Imagem: The Franklin Institute
A teoria do “big bang” teve enorme sucesso em explicar muitos fenômenos conhecidos, a exemplo da existência de uma radiação misteriosa que permeia todo o Universo, conhecida como “radiação de fundo”. Além disso, consegue dar uma maravilhosa explicação para a formação dos elementos químicos desde o hidrogênio até os mais pesados, para a formação de galáxias etc. No entanto, atualmente há uma forte tendência dos cosmólogos em considerar que esse modelo tem seus limites, e que deve ser substituído em breve,
Roger Penrose ▪ Imagem: Wikipedia
Hoje em dia, porém, quando se fala da matéria, deve-se considerar também a matéria num nível microscópico, porque antes havia noções apenas em relação ao mundo macroscópico. Impenetrabilidade da matéria é um conceito que faz apelo à nossa experiência sensível, ligada à percepção tátil. No nível atômico, a realidade é outra. Tudo aquilo que podemos chamar de “corpo material” é na verdade composto por átomos, os quais estão separados por enormes vazios. Por outro lado, não existe uma localização precisa desses átomos, embora possamos falar de uma configuração espacial média. Além disso, a física quântica atribui à matéria, além de um caráter corpuscular, um comportamento ondulatório e entre ondas pode, sim, haver interpenetração. Na verdade aquela idéia de matéria como “substância”, dotada de solidez, perde cada vez mais sentido quando investigamos a estrutura íntima da matéria.
A massa é atributo da matéria, no entanto, a Física Moderna não descarta a possibilidade de haver partículas sem massa. De fato, até pouco tempo pensava-se que o neutrino, uma partícula elementar, não possuía massa. Uma questão interessante e bem atual é saber se existe algum mecanismo na Natureza capaz de gerar massa para todas as partículas.
A história da Física mostra que muitos fenômenos considerados completamente distintos se revelariam mais adiante como sendo da mesma natureza. Newton foi o primeiro a se dar conta disso, ao mostrar que a mesma força que faz cair uma maçã faz também a Terra orbitar em torno do Sol. Depois, Maxwell mostrou que os fenômenos óticos, elétricos e magnéticos são manifestação de uma única força, a força eletromagnética. Einstein, por sua vez, unificou a gravitação com a geometria do espaço-tempo. Nos anos oitenta do século passado, as forças nucleares foram unificadas com o eletromagnetismo. No século XXI, o sonho de uma parcela significativa dos físicos teóricos é encontrar uma teoria unificada de todas as interações da Natureza. Se tal for conseguido, estaremos muito perto de saber se os componentes íntimos da matéria provêm de um único elemento...
Então, as propriedades da matéria como as percebemos no nosso mundo macroscópico vêm basicamente dos arranjos atômicos e moleculares dos corpos.
As moléculas constituem uma aglomeração estruturada de átomos. Esses átomos se arranjam geometricamente no espaço e são responsáveis por várias propriedades, tais como a reatividade química, cor, propriedades óticas e magnéticas, e até mesmo atividade biológica. Hoje em dia, dispomos de alta tecnologia para determinar a geometria das moléculas, usando principalmente métodos de espectrografia e difração. Não existe vazio absoluto entendendo-o como ausência total de matéria e radiação. Mesmo nos chamados vácuos intergalácticos, encontra-se aí um plasma muito rarefeito de íons de hidrogênio e radiação eletromagnética.
Portanto, para concluir e filosofando um pouco, poderíamos dizer que o “nada” da Metafísica não tem mais lugar na Física Moderna.