Ontem acordei ouvindo o canto de um colibri bem próximo à minha jan...

Do canto de um colibri

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Ontem acordei ouvindo o canto de um colibri bem próximo à minha janela. Tomei isso como um sinal de tempos menos agressivos do que os que temos vivenciado nos últimos meses. O ser humano tem a tendência de atribuir a certos eventos um valor simbólico. Embora em si eles não signifiquem muita coisa, concedemos-lhes o poder de antecipar bons ou maus momentos. Isso explica a associação que fiz entre a ave e a possibilidade de dias melhores.

Confesso que não sabia se o pássaro era um colibri. Sei que trinava nervosa e insistentemente. Para tirar a dúvida, fiz uma pesquisa no Google. Lá aprendi que o colibri é um gênero ao qual pertencem os beija-flores e que ele tem um papel “superimportante” na natureza.

Christian Coquet
Explica-se: “Indo de flor em flor à procura de néctar, o colibri acaba fazendo a polinização necessária para transformar a flor em fruto”. Essa caraterística, diz ainda o texto, aproxima-o do corretor de imóveis, que faz a intermediação entre as fases de compra e venda das unidades habitacionais. Com isso ele colabora para proporcionar a vendedor e comprador mais conforto e segurança.

Achei curiosa essa aproximação, pois em princípio um pássaro e um corretor são entidades inconciliáveis. Com todo respeito pela profissão, a corretagem parece ter muito pouco a ver com a gratuidade com a qual a ave desempenha o seu papel. Ela faz isso de forma espontânea, descomprometida. E sem cobrar comissão.

O fato é que o canto do colibri (ou que outro pássaro fosse) representou uma espécie de prólogo a um dia mais leve. Para estender essa impressão ao máximo, evitei ligar cedo a televisão. Sabia o que me esperava se apertasse o botão do controle remoto: notícias intermináveis sobre a agressão da Rússia à Ucrânia, imagens de catástrofes ambientais, índices assustadores da inflação, que vai intensificar a penúria dos pobres.

Carolina Zanini
Preferi fugir das más notícias, decidi vestir a bermuda e ir à praia. Nada como caminhar a esmo, chutando as marolas e imprimindo na areia fofa a marca dos nossos calcanhares, para perceber que a vida pode ter um sentido. Ou, melhor ainda, que ela não precisa ter sentido nenhum. O simples ato de viver plenamente explica tudo.

Para ser honesto, devo dizer que meu estado de ânimo mudou ao longo do dia; a realidade, afinal, impõe-nos deveres e restrições que não cedem ao lirismo do canto de pássaros nem à descontração das caminhadas na praia. Mas não foi nada que desmentisse o bom augúrio trazido pela ave. Tanto é assim que fui me deitar com a esperança de ser de novo acordado pelo colibri (até prova em contrário, estou convencido de que era mesmo um!).

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