O assunto não é dos meus, mesmo à falta de um João Manoel, daquela coerência e força de argumentação que marcaram a luta infatigável d...

Aumento fora de hora

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O assunto não é dos meus, mesmo à falta de um João Manoel, daquela coerência e força de argumentação que marcaram a luta infatigável do seu jornalismo. E do homem inteiro.

Mas custa calar ante o despropósito desse aumento de vencimentos encaminhado pelos ministros do Supremo em seu próprio favor numa hora crítica de fome, desemprego e do mais agudo aprofundamento de desigualdade social sofrido na modernidade pelo povo brasileiro.

Clayton Berg
Um ministro do STF percebe, atualmente, o subsídio de R$ 39,3 mil, sem contar as vantagens comuns ou da praxe do exercício do cargo. Com os 18 % passará a R$ 46,3 mil, deflagrando um aumento em cascata não só ao Judiciário mas à cúpula dos três poderes.

Isto num país e num momento em que as câmeras de televisão escolhem a hora das nossas refeições para nos constranger com as filas imensas de famintos urbanos acudidos pelo isopor, a versão dos novos tempos da velha cuia esmoler que mais prospera quanto mais aumenta a concentração de riqueza enxertada nas raízes do Brasil.

P. Stropasolas
Quanto mais rica a cidade, a exemplo de São Paulo, maior a concentração de exilados do próprio país. Na Europa eslava, saxônica ou latina os patrícios são desterrados pelas bombas, pelo poder dos canhões; entre nós, em pleno século 21, num país que abastece de alimento as mais ricas nações do mundo, os miseráveis naufragam nessa condição por cederem, sem saber, os seus direitos à saúde, à alimentação, à educação que o governo, na composição dos três poderes, é obrigado a lhes assegurar.

Evidente que a folha do Supremo, por si só, não abocanha o quinhão dos 30 ou 40 milhões de famintos apontados nas estatísticas.
HS Naddeo
A Corte apenas faz parte de um regime visto pelos de cima como o regime ideal, e que, pela crença que o povo deposita e espera da Justiça, até pela sua boa fé, seria de pensar três ou mais vezes antes de propor esse aumento em hora tão perigosa para a democracia. Hora em que o salário mínimo de pouco mais de 1 mil reais não pôde ser corrigido além de 2 por cento. Seu maior índice de correção, três ou quatro anos atrás, chegou a 5 por cento.

Será que o Supremo, a Corte exemplar, não se constrange em oferecer esse exemplo de insensibilidade aos monitores do lucro e da usurpação consentida e consagrada pelo capitalismo?

Os preços da cesta básica são impiedosos, seguem uma lei acima de todas as leis, mas é de supor que R$39 ou R$ 40 mil dariam de sobra para manter as regalias do imperador se o regime de Pedro II se mantivesse. E volto atrás, o regente da “democracia coroada”, conforme se lê, ele próprio pesava pouco aos cofres da nação. Gastava mais com viagens que terminavam dando prestígio ao país, ganhando epítetos de deuses como Victor Hugo.

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