O abraço é uma generosidade das mais carinhosas para se dar ou receber em um encontro. Sabe aquele contato corporal sem vigor? Acho-o totalmente sem graça. Além de constrangedor, pode gerar no interlocutor uma reação paralisante. A mesma coisa vale para o aperto de mão. Se analisarmos a intensidade desses toques, é possível medir se existe na outra pessoa entusiasmo ou total ausência de emoção. Costumo dizer que a frieza num cumprimento tem sabor de picolé de jiló. Mesmo sem nunca tê-lo provado.
Um bom abraço é o tipo de coisa que me traz as melhores lembranças. Faço questão que o meu seja forte. Sempre que ganho um bem apertado, gostoso, imediatamente me vem à mente Júnior (nosso cocker spaniel muito esperto que morreu aos 14 anos de idade, em 2018). Ele era o tipo rabugento que conseguia nos demonstrar uma devoção infinita. Seu abraço canino era revigorante. Uma confirmação plena de que o amor pode e deve ser incondicional. Duque e Rex (os cockers cegos adultos que adotamos recentemente) são outros exemplos de total entrega na hora do contato físico. A efusividade deles quando nos encontram é de um exagero absurdo. Nunca se importam se ficamos um dia fora ou apenas dez minutos. A alegria é plena. Ao adotarmos, já sabíamos que se tornariam parte do nosso mundo.
Mas, afinal, os cães são assim: vivem cada momento tão intensamente por que têm a urgência de quem precisa ensinar. Ou eles sabem quão passageiro é a vida entre nós.
@franccilunguinho
Diariamente vejo reações idênticas nos mais de 30 cães que treino. Pastores, dobermans, rottweilers, yorkshires, berneses, chihuahuas, pit bulls, bullies, vira-latas e uma infinidades de raças, de portes e temperamentos diferentes que abanam o rabo desesperadamente de alegria quando me veem. Nenhum deles é capaz de me tratar com indiferença, mesmo quando são agressivos ou medrosos. Só quem convive com essa espécie pode se sentir constantemente abraçado. Eles estão cem por cento do tempo à nossa disposição. Sem preconceito, sem arrependimento. E a recepção calorosa que fazem quando avistam seus responsáveis é a coisa mais linda de se ver. Eles nunca chegam com um abraço vazio, isso é feitio dos humanos.
Não, não quero dizer aqui que prefiro os cães. Na verdade, prefiro os humanos que abraçam como eles. Mas, penso que seria de grande valia se imitássem-los. Os humanos precisam urgentemente abraçar uns aos outros do jeito dos seus melhores amigos.
