Durante muitos anos, vivi as eleições intensamente. O marido candidato participava das reuniões, das campanhas, depois perifericamente, e, mais adiante, de forma ausente. Pensava em marketing, santinhos, frases. Tudo uma loucura. Desgastante. No dia da votação, passava o dia todo vestida a caráter. Camiseta, boné, broches, bunners. Plantada nas esquinas dos colégios fazendo boca de urna. Silenciosa ou ativamente. Não pode! Ficava tensa. Mas tudo em nome da revolução! — me dizia Juca. E eu, mesmo reticente, ia.
ArteFlávio Tavares
Hoje, quando vou votar, não tem como não lembrar de Juca e de toda a sua vida política. Sua entrega! Sua impregnação na vida política da cidade, do estado, do país. Aprendi muito. Absorvi mais. Mesmo afastada, em casa, acompanho pela TV, pela vida, os destinos políticos da nossa gente. E fico a pensar: em que pé de estado estaria ele? Com certeza, rodando no meu cadilac pelos bairros e seções, sentindo o pulsar das eleições, como tanto gostava.
Por longos anos não pude votar, devido à ditadura militar. Desde a redemocratização do país que votar, para mim, é uma festa. E uma emoção. Fico tensa. Lágrimas aparecem e, na hora daquela musiquinha, algo dentro de mim se cristaliza. Votei. E por isso mesmo que prezo e respeito as forças democráticas.
Durante todo este mês, observo dois homens em andaimes no prédio vizinho, a rebocar suas paredes. Eu tomo café, almoço e lancho na minha sala confortável ou na minha varanda, acomapanhando a vida daqueles trabalhadores.
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Outra cena: o caminhão do lixo, que passa com o fedor do seu carregamento, para em frente ao prédio onde moro. Os trabalhadores cantam, conversam alto. Deve ser para digerir melhor o cheiro forte, o trabalho incansável. Antes deles, um outro Senhor chega todos os dias, logo cedo, e cascavilha o lixão do edifício. Aqui, fazemos separação dos resíduos e ele, com certeza, vem buscar o que dá: latas, vidros e papelão ou, quem sabe, algum resto de comida, algum iogurte vencido que nós, que podemos olhar as datas, aviamos fora. Não suporto essa cena. A fome tem pressa. Quanta desigualdade! Uns têm picanha, e outros somente o lixo.
Domingo acabou. E o segundo turno está aí. A festa da democracia quer eleições pacíficas e respeitosas. Mas reconheçamos – está difícil. O mundo vira à direita. O Brasil tenta esse movimento extremado.
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Eu desejo um caminhar progressista ao Brasil, aos trabalhadores rebocadores, aos agentes de limpeza, aos famintos, às famílias tradicionais e progressistas, aos homens e mulheres que fazem este país pulsar e crescer. Legítimo. Que honre o nosso voto. Eu desejo um Brasil bonito.
Viva o Brasil!





















