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Mas continuemos evocando minha mãe, esta mulher extraordinária, cuja vida foi um exemplo de dedicação, coragem e grandeza moral. Minha grande confidente, foi ela quem me despertou para as letras, contando histórias lindas, noite a dentro. Histórias de fadas e de bruxas, que excitavam a minha imaginação. E quando a asma me levava para a cama, aí que era bom ouvi-la.

Sim, sofri de asma, na minha adolescência. Não houve remédio que desse jeito. Até que surgiu uma comadre de minha mãe, aconselhando que ela me desse um remédio, cujo nome eu não devia saber: chá de barata. Minha mãe sorriu e agradeceu a informação, debaixo de muitos sorrisos.

Mas o bom da doença era ficar na cama, ouvindo suas belas e acalentadas narrativas, noite a dentro. Minha mãe lia muito. E foi ela quem leu para mim todo o romance de José Lins do Rego “Menino de Engenho”. Charadista de primeira, ela adorava decifrar enigmas, charadas e resolver palavras cruzadas. Enquanto meu pai era um apaixonado pela Natureza, ela sonhava em morar numa cidade grande. Sua alimentação era muito saudável. Não dispensava o suco de cenoura com beterraba e laranja, depois da refeição matinal. Daí ter atravessado mais de um século de existência com muito apetite. Gostava dos vestidos alegres e estampados. E sempre me dizia: “Meu filho, velhice quer trato”. Nada, portanto, de relaxamento. Otimista, dona Pia nunca perdeu sua jovialidade.

E meu pai? Nunca as diferenças se uniram e se harmonizaram tanto. E eu adorava vê-los aos beijos. Eles tinham grande respeito entre si e aos outros.

E agora a história do castigo, que deu título à crônica. Eu mantinha um jornalzinho manuscrito denominado “O Riso”, que circulava na Rua Nova, onde morávamos. Pois bem, só porque chamei, no jornal, uma moça, nossa vizinha, de “fogosa”, meu pai, constrangido porque os pais dela foram lhe tomar satisfações, me deu uma dúzia de “bolos”. Minha mãe não gostou. Lembro que este foi o único castigo que recebi dele. Mas o jornalzinho manuscrito continuou saindo. Agora com outro nome: “O Choro”, ao invés de “O Riso”. Minha mãe deu uma boa gargalhada.

Meus pais! Como eu os adorei e os compreendi... Difícil evocá-los sem aquele nó na garganta...

E, aqui para nós, eles adoravam o caçula, que, infelizmente, foi destronado pela irmãzinha Iracema, o que me deixou no canto. Mas a vida é assim, cheia de novidades, encantos e desencantos.

Meu pai era homem de muito amor, mas um zero à esquerda em humor. Ele levava tudo a sério, era o contrário de minha mãe, sempre bem humorada. Certa vez, estávamos tomando banho, aqui em Tambaú, e meu pai na areia, quando minha tia Ninália, muito irônica, olhou para o nosso mestre e fez o desafio: ”Zé Augusto, você que é um homem de fé, venha andando sobre as ondas, como fez Jesus! Todos sorriram. Mas ele não deixou de escapar nem um meio sorriso.

Bebia muito... Mas só água de coco. Um dia, chegou a dizer: ”como é que se troca uma bebida dessa por cachaça ou uísque...”

E ficam aqui essas recordações de meus pais, que tanto enriqueceram a minha vida.

Em virtude de suas possibilidades técnicas, o piano é considerado um instrumento completo. Sua sonoridade abrange registros que vão dos ma...


Em virtude de suas possibilidades técnicas, o piano é considerado um instrumento completo. Sua sonoridade abrange registros que vão dos mais graves aos mais agudos. Por isso, sempre foi o preferido dos compositores ao longo da história da música, que o utilizaram para compor óperas, sinfonias, concertos, cantatas...

C omeço pela maledicência, esse vício de falar mal dos outros. E o maledicente sempre pretende ser melhor do que os ausentes, de quem se fal...

Começo pela maledicência, esse vício de falar mal dos outros. E o maledicente sempre pretende ser melhor do que os ausentes, de quem se fala. Maledicência é baixeza de caráter. Fuja do maledicente como se ele portasse doença contagiosa, pois vibração negativa, às vezes, nos contamina.

Tenho pena dos impacientes, que estão sempre reclamando do que acontece na vida, aparentemente, de errado. Se estão num trânsito congestionado, haja palavrão, haja irritação. Irritação até quando o sinal está vermelho, esquecido de que para os outros, a sinalização está verde. Mas o diabo é que muita gente que só pensa em si. E quanto ao congestionamento, por que não aproveitar essa oportunidade para ouvir uma boa música, e, se não estiver ao volante, ler um livro, ou aproveitar para uma reflexão, coisa que poucos estão fazendo: conversar consigo mesmo.

Lamento as pessoas mal humoradas, que olham a vida como se o mundo estivesse fedendo. Nada de um sorriso, que tanto alegra a alma.

Não gosto de cigarro perto de mim, conquanto tenha sido um fumante inveterado, mas que deixei o vício bem a tempo, graças a uma forte taquicardia. Se não estivesse abandonado o fedorento mau hábito, teria apressado minha morte. Agora esta reflexão: já imaginaram ou sentiram o hálito do fumante, manhã cedo, ao acordar?... Nem queira. Aqui fica o conselho: Aprenda a respeitar a sua saúde. Saúde e paz são nossas melhores riquezas.

Também lamento as pessoas que não cumprimentam as outras, como se fossem robôs. Que não sabem dar um “bom dia” ao entrar num elevador. Como é saudável um cumprimento!

Gosto dos otimistas, que alegram a vida, que carregam amor e entusiasmo na alma. As grandes descobertas dependeram do entusiasmo, que, etimologicamente, é Deus dentro de nós.

Gosto dos que gostam de ler, dos que estão sempre bem informados, dos que preenchem os vazios do tempo com um livro sob os olhos.

Gosto de viajar. A viagem nos dá experiência e nos multiplica. É salutar conviver com novos costumes, novas pessoas, novos climas. Isto nos torna mais humanos, mais maduros, mais compreensíveis.

Por fim, confesso que não gosto de mim, se porventura cometo alguns deslizes apontados acima. Afinal, saber reconhecer seus próprios é a maior das virtudes.

Não é raro a gente ouvir que uma cidade está sendo invadida por dunas, pelas águas do oceano ou pelas labaredas de um incêndio. Mas é inus...



Não é raro a gente ouvir que uma cidade está sendo invadida por dunas, pelas águas do oceano ou pelas labaredas de um incêndio. Mas é inusitado que uma pequena aldeia seja literalmente 'engolida' por rochas imensas!

S im, agora chegou a vez de falar de minha mãe, a abnegada companheira de meu pai, que lhe deu oito filhos, sendo que dois saíram da vida, c...

Sim, agora chegou a vez de falar de minha mãe, a abnegada companheira de meu pai, que lhe deu oito filhos, sendo que dois saíram da vida, cedo, Hamilton e Hilda.

A verdade é que meu pai soube escolher a esposa, Pia de Luna Freire, uma mulher lindíssima. Mais do que isto: inteligentíssima. Muito jovem ainda, achou de se inscrever num concurso público para funcionária dos Correios e Telégrafos, e saiu-se muito bem. Isto numa época em que o preconceito social fazia restrições à mulher como funcionária pública. Lembrando que o preconceito é uma praga denunciada até pelo genial Einstein, que chegou a dizer: “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. E Dona Pia não quis saber, submeteu-se ao concurso federal, foi aprovada e pronto. Nada de ser pesada ao marido.

Mas não durou muito o seu estado de solteira, o que não é de se estranhar, pois se tratava de uma linda mulher. Linda e inteligente. Inteligente e culta, sem nunca ter passado pelos bancos de uma universidade. Sua caligrafia, de que ela muito se orgulhava, chamava a atenção de todo mundo, inclusive de Delmiro Gouveia, famoso comerciante de Alagoas, que, ao ver a escrita de minha mãe, foi logo dizendo ao meu avô Vicente de Luna Freire, com quem comerciava couro: “Que bela caligrafia a de sua filha!“

Pois bem, minha mãe casou-se em suas primeiras núpcias com Alfredo Barros, que lhe deu dois filhos: o escritor e historiador Eudes Barros e Alfredo. E ficou viúva, pois o marido morreu em conseqüência de uma pancada de vento frio, manhã cedo, ao abrir uma porta, e, como disse no inicio, não demorou muito sua condição de viuvez. José Augusto Romero, diante daquela beleza, não pensou duas vezes, e, por outro lado, o homem era um bom partido. Alto, corpo de atleta e de um olhar sério e sereno. Um olhar que via longe...

Meu pai já era espírita e minha mãe, católica, a quem cabia a responsabilidade de zeladora do Coração de Jesus, lá na igreja. Não demorou muito e ela deixou o Catolicismo pelo Espiritismo. Não resistiu à dialética de seu segundo marido. Não foi uma espírita militante, mas adorava Chico Xavier, cujos livros psicografados lia com profundo interesse. Estava sempre presente às palestras na Federação Espírita Paraibana.

Minha mãe tinha uma personalidade muito forte. Foi uma das primeiras mulheres a cortar o cabelo bem curtinho, o que causou estranheza na sociedade de Alagoa Nova. Acontece que ela, vez por outra, ia à Capital, onde já era moda o cabelo curto. As matutas preconceituosas de então não gostaram da novidade e Dona Piinha foi muito criticada.

A verdade é que o casal se deu muito bem, conquanto os temperamentos fossem bastante diferentes. Dona Pia – já ia me esquecendo – era louca por música erudita e exímia flautista. E seu pai Vicente, meu avô, clarinetista. Melómana, minha mãe tinha uma sensibilidade admirável. Seu ídolo era Chopin. Muitas vezes vi lágrimas correndo pelo seu rosto, ao ouvir os concertos do famoso polonês.

Apesar da diferença de temperamentos e gostos, o casamento de meu pai foi um exemplo de abnegação. E o caçula adorava os dois, conquanto a mãe fosse sua grande confidente e a quem deve o gosto pelas letras, pois ela foi uma grande contadora de histórias!

S e não estou equivocado, a observação é de José Américo, que me retifique a escritora Lourdinha Luna: “Chegar à janela é como ir pra rua s...


Se não estou equivocado, a observação é de José Américo, que me retifique a escritora Lourdinha Luna: “Chegar à janela é como ir pra rua sem sair de casa". Ora, ora, no tempo em que não havia televisão nem computador as pessoas viviam debruçadas nas janelas para um bate-papo com os vizinhos ou com os que iam passando na calçada.

A janela propiciava uma fuga momentânea no cotidiano, por sinal muito humano. E haja fofocas. A janela era a TV de outrora. E não era apenas a solteirona que se debruçava na janela. Os mais idosos adoravam aquela diversão sem sair de casa. Lembro-me que, na antiga Rua Nova, onde as casas não tinham terraço, vi muita gente ilustre debruçada sobre as janelas olhando a rua lá fora, a exemplo do ex-presidente do nosso Estado, general Camilo de Holanda, e o historiador Coriolano de Medeiros, ilustre fundador da nossa Academia Paraibana de Letras. O general não chegava a se debruçar na janela. Tomava uma posição militar, de pé, como se estivesse assistindo a um desfile.

Mas tinha vez que as janelas não eram suficientes para os bate-papos, os colóquios, os disse-me-disse, as fofocas, que existem, desde que o mundo é mundo. Nessa circunstância, a solução era colocar cadeiras na calçada... Aí os papos iam longe.

Casas com janelas, com sala de visita. Visita que se pagava. Muita gente dizia: “estou devendo uma visita a fulano ou fulana”. Casa sem vigilantes, bastava chegar à porta e gritar: “Ô de casa!” E vinha a voz de dentro: “Ô de fora”...

Hoje, não vemos mais janelas, e sim, longos edifícios, todos apostando altura. Edifícios tapando a visão dos horizontes, humilhando a vegetação cá em baixo, obstaculando paisagens, interceptando a passagem do vento. Mas, todos com suas áreas de lazer, piscina, esporte, repouso, que a vida precisa ser vivida com muito luxo. Só não vejo área para a leitura, espaços para reflexão, uma conversa consigo mesmo.

E os apartamentos? Excelentes, mas as pessoas estão loucas para entrarem no elevador e sair daquela prisão de não sei quantos andares, porquanto a rua ainda é uma atração, com seus restaurantes, shoppings e outros entretenimentos. E sair sem esquecer o celular, para dar adeus àquela prisão de não sei quantos andares, onde ninguém se debruça na janela...

T odo fim de ano tem cheiro de saudade. E saudade é sede de presença, presença que virou ausência. Nesta passagem do ano, que tal reservar u...

Todo fim de ano tem cheiro de saudade. E saudade é sede de presença, presença que virou ausência. Nesta passagem do ano, que tal reservar um momento para umas reflexões, pensar nos que se foram? Pensar no que fizemos de bom ou de mau?

E se você tem um saudável hábito de conservar na parede as fotos dos que se foram, muito bem. Mas são tão poucos os que conservam esse hábito, os que não mataram em si a saudade dos ausentes. Que apenas costumam, no Dia dos Mortos, ir ao cemitério para acender uma vela no túmulo dos seus familiares e amigos. Ainda pensam que os seus mortos estão ali, debaixo da terra, aguardando a sineta do Juízo Final, quando será decidido o seu destino, isto é, se vão para o céu, para o inferno ou purgatório. E não me digam que não é assim que muitos pensam...

Mas, como eu ia dizendo, a passagem de um ano mexe um pouco com a gente. Parece que o tempo está nos perguntando, o que fizeste de tua vida? Continuas com os mesmos vícios, os mesmos erros? Só os animais ficam indiferentes à passagem de um novo ano. Mas o homem, este animal que pensa, que reflete, que indaga.

Afinal, o que estamos fazendo no mundo? Que pergunta para mexer com a gente, hein?... Aliás, toda pergunta leva a uma reflexão. E o grande Sócrates perturbou muita gente com as suas indagações.

Um novo ano está para chegar. Quais são nossos planos? Será que vamos repetir os mesmos erros? Que tal uma fugidinha da vida e nos recolhermos um pouco dentro de nossa interioridade? Que tal uma conversa íntima?

Mas para isso é necessário certa coragem e ao mesmo tempo humildade. Afinal, a vida tem um sentido? Por que estamos no mundo? Se você despertasse , dentro de um navio, qual seria sua primeira pergunta? Evidente que interpelaria: para onde estão me levando, o que estou fazendo, aqui

Vamos, portanto, assistir à passagem silenciosa do novo ano e procurar nos renovar, interiormente, porquanto você é um animal, mas racional. E não esqueçamos: toda passagem de ano tem um cheiro de saudade, de adeus, de mistério, o insondável mistério: por que estamos neste mundo?...

A ópera é uma manifestação artística que combina diversas formas de expressões culturais, reunindo, em uma só obra, música sinfônica, cant...



A ópera é uma manifestação artística que combina diversas formas de expressões culturais, reunindo, em uma só obra, música sinfônica, canto lírico, dramaturgia, literatura, dança e cenografia.

U m dos orgulhos de meu pai, José Augusto Romero, o bom orgulho, saliente-se, é ter sido correspondente assíduo do maior médium do mundo, Fr...

Um dos orgulhos de meu pai, José Augusto Romero, o bom orgulho, saliente-se, é ter sido correspondente assíduo do maior médium do mundo, Francisco Cândido Xavier, o boníssimo Chico, quase cego, de cultura primária, mas, assim mesmo, psicografando obras de caráter científico, que eu mesmo encontro dificuldade de entender, a exemplo de “Mecanismos da mediunidade”, de André Luiz, “Evolução em dois mundos”, e “Pensamento e vida”, de Emmanuel.

José Augusto Romero foi eleito por aclamação e presidiu a Federação Espírita Paraibana durante 44 anos. Só deixou o cargo por questões de saúde. E que delícia de passes magnéticos ele me dava. Tolerante, sereno, responsável, severo em algumas coisas, sobretudo quando soube que, para me casar com a minha primeira esposa, Carmen, esta me pediu para que eu fosse batizado na igreja católica. A princípio relutei, mas o amor venceu a barreira que se antepunha entre nós dois. Resolvi atender à rogativa da noiva.

Para o batismo exigia-se uma preparação. E foi um bispo, amigo da família da noiva, que se encarregou deste ofício. O simpático sacerdote fez uma ligeira preleção sobre o batismo. E, sabedor de que eu era espírita, muito me surpreendeu quando disse que simpatizava muito com o Espiritismo e que o importante era amar a Deus.

Do meu pai nenhuma reação. Compreendeu a situação e foi um dos primeiros a comparecer ao meu batismo, lá na Igreja das Graças, em Recife. Aí eu vi como eram grandes a sua tolerância e compreensão. Assistiu ao ato religioso com muita serenidade. Minha noiva, Carmen, não cabia em si de contente. E uma de suas tias, por sinal muito carola, quando me viu depois de batizado, abraçou-me e disse: “Você agora está sem pecados. Você agora é um anjo”. E eu cheguei a sentir que estava criando asas...

Toda reação ao meu estado de pagão foi da família da noiva, principalmente de minha sogra Isaura, viúva do grande arquiteto Clodoaldo Gouveia. Ela era muito católica e fanática. Não queria falar em Espiritismo, mas depois que Carmen desencarnou, foi a primeira a indagar: “alguma notícia dela?” Ela já estava acreditando no intercâmbio mediúnico. Não quis acreditar no que estava ouvindo...

Voltemos a falar sobre meu pai que morreu de câncer de próstata. Fui ao sepultamento de seu corpo, lá no Cemitério da Boa Sentença, numa manhã de muito sol. Muita gente compareceu ao enterro. Eu não cheguei a chorar, fui possuído de uma profunda serenidade. Fiz uma ligeira oração. E terminei dizendo: “Até logo, papai”. Na saída, vieram os pêsames dos amigos presentes, inclusive do governador e meu conterrâneo de Alagoa Nova, Pedro Gondim, que me disse, num cochicho: !que beleza de religião a sua! Quanta força ela lhe deu... ”

Não olhei para baixo. Não, meu pai não estava, ali. Elevei o olhar que me mostrou um céu muito azul e sereno. Cheguei a ouvir um passarinho cantando sobre um túmulo, como que saudando aquela manhã de sol. Imaginei meu pai, na vida espiritual, sendo muito bem recebido. E, sem dúvida, com muita saudade do caçula que ele tanto amou.

Para amenizar as saudades dele, selecionei suas crônicas publicadas, neste jornal, no livro “Lições da vida maior”. Não me esqueço de uma confissão que ele me fez, certo dia: “Meu filho, a grande lei da vida é a da reencarnação. A única que tem resposta para o problema do ser, do destino e da dor”.

S im, depois que ele assistiu a uma sessão mediúnica e leu o livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis, tornou-se espíri...

Sim, depois que ele assistiu a uma sessão mediúnica e leu o livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis, tornou-se espírita até os ossos. E haja palestras, artigos doutrinários, inclusive neste jornal, conversa com os espíritos, sessões mediúnicas, aulas de evangelização. O homem não queria outra coisa na vida.

Ele era muito elegante, quer no traje, quer no comportamento. Elegante só, não. Meu pai era muito bonito. Tanto é assim, que, numa palestra lá na Federação Espírita Pernambucana, uma senhora, no auditório, indagou à minha mãe, sentada ao seu lado: “Donde é aquele senhor? E minha mãe: “É o presidente da Federação Espírita Paraibana”. A mulher não pensou duas vezes, foi logo dizendo: “Bonitão!

E ele era elegante em tudo. Não só na maneira de falar, de se vestir, de se portar. Sério, sem ser sisudo. De sua boca, ouvia sempre a palavra “caráter”, que para ele era tudo num homem... Não admitia desonestidade, mormente no que tange à administração pública.

A Federação, então sediada lá na rua Treze de maio, era agora a sua segunda casa. Teve bons assessores, a começar por José Pereira da Silva, conhecido por “Seu Zuza”, alto funcionário da Alfândega, e a quem foi confiada a farmácia homeopática. Seu Zuza era calado, responsável e de uma mansidão admirável.
Pelo Natal, “Seu Romero” - era assim que o chamavam - promovia o Natal dos Pobres, com a distribuição de roupas. A fila tomava toda a extensão da rua.

Foi ele quem apresentou o extraordinário médium Divaldo Franco à Paraíba. Divaldo era um jovem de 18 a 20 anos. Muito bonito, cujo verbo botou e continua botando muita gente no Espiritismo. O médium se hospedava na nossa casa, lá em Tambiá, na Odon Bezerra.

Depois a Federação mudou-se para o Parque Sólon de Lucena, num terreno doado pelo espírita e paraibano Artur Lins de Vasconcelos, residente no Paraná, onde comercializava madeira.

José Augusto não desejou outra coisa na vida: dedicar-se, inteiramente, à Doutrina codificada por Allan Kardec. E tudo ia muito bem, quando o jornal católico “A Imprensa”, sediado na Praça do Bispo, trouxe um artigo violento do padre Hildon Bandeira, sob o título “Guerra ao Espiritismo”. O artigo era o início de uma série.

O fato chegou ao conhecimento do manso José Augusto Romero, que não era homem de polêmica. Constrangeu-se muito com o fato. Sua consoladora doutrina não merecia aquelas violentas catilinárias. Foi aí que José Augusto Romero convidou o advogado espírita Horácio de Almeida para responder ao padre, já que o convidado adorava uma polêmica. E começou a guerra dos artigos, Horácio neste jornal, A União, e o padre no matutino católico. O resultado é que Dom Adauto, arcebispo na época, diante das fortes acusações à Igreja, baseadas na História, feitas pelo Dr. Horácio, findou determinando que aquela guerra acabasse. E eu fico imaginando se o nosso atual e ecumênico arcebispo, Dom Aldo tivesse assistido tal polêmica, ele que, hoje, juntamente com o pastor Estevam Fernandes, assistem reuniões na Federação Espírita Paraibana, ouvindo, encantados, o verbo eletrizante do médium Divaldo Franco...