O livro A Bagaceira , que revela as aflições de retirantes sertanejos, apresenta o Brejo como a região para onde corriam os esfomeados das...

As árvores do Laranjeiras

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O livro A Bagaceira, que revela as aflições de retirantes sertanejos, apresenta o Brejo como a região para onde corriam os esfomeados das secas. Igualmente, outros escritores em gênero literários diferentes também relatam a dor e o sofrimento dessa gente tangida pelas estiagens. Em meado do século XIX, com olhar caridoso, padre Ibiapina acolhia em casas de caridade os desvalidos e degredados do Sertão, oferecendo oração, pão e água.

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Das páginas da obra de José Américo brotam o verde e a bonança dos canaviais, dos córregos e das várzeas que forneciam a água que saciava a sede de todos. Lembro, no lugar onde vivíamos, também no Brejo, há mais de cinco décadas, de uma pequena cacimba, numa aba da serra, rodeada de coqueiros e vegetação nativa, quase capoeira, na qual muitas famílias eram abastecidas de água doce. Bem cedo ou no entardecer, moças e crianças com potes de barro ou galão de duas latas penduradas por corda em um pau sobre o ombro, iam até a fonte apanhar água.

O tempo passou e bem recentemente voltei às minhas origens, visitei a fonte que nos dava água para beber. Grande foi a minha surpresa! Encontrei a cacimba soterrada e, ao redor, nem uma árvore e muito menos vegetação. Do lugar de onde retirávamos nossa água de beber, havia apenas as imagens na memória. Estava soterrada. O que seria normal em regiões semiáridas, agora estava perto de nós. Para ter água destinada ao consumo humano, meu primo perfurou um poço e outros recorrem ao carro-pipa, um comércio que cresce na região.

Mais uma vez escuto falar que nesta época do ano falta água no Brejo. Certa indignação toma conta de alguns porque, há seis décadas, pelos menos, mesmo com estiagens prolongadas, como a que aconteceu na década de 1950, com duração de uns quatro anos, a água escasseava, mas nunca ao estágio presente.

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O governo fala em recuperar as nascentes do nosso maior rio, o Paraíba do Norte, que principia nas encostas de Monteiro com pequeno rego, recebe água de riachos e segue em debanda do mar. Rio poético e louvado por nosso maior romancista em mais de um livro, mas que vem sendo maltratado, transformado em depósito de dejetos, que teve surrupiada toda sua riqueza. A iniciativa governamental pode fazer esse rio sorrir e garantir a vida a milhares de famílias.

Fico lembrando que semelhante iniciativa podia se estender a outros mananciais, pequenos rios e os arredores de barragens que ajudam no abastecimento de cidades e povoações rurais. Muita coisa mudou entre o tempo presenciado por José Américo e o que descreveu José Lins. A população cresceu e aumentou o desprezo pela preservação ambiental, a educação que deveria começar na escola e na família, na broca do mato para o roçado. Mas essa paisagem mudará com a conscientização de jovens e crianças ainda em fase escolar e com iniciativa igual a que o governo anuncia.

Tomei conhecimento que o governo pretende estender o asfalto que vem de Arara até Serraria, antiga reivindicação, e estendê-lo pela rua principal da cidade, o que não deixa de ser uma boa iniciativa. Mas fico pensando se não seria mais útil para a população recuperar nascentes e a barragem que abastecem a população, com a parte dos recursos gastos com essa obra na área urbana, já que conta com calçamento.

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Em nossa cidade temos um bonito exemplo, no Engenho Laranjeiras, onde seu proprietário Francisco Barreto, amparado na experiência de economista e ativista político que tantas vezes apontou caminhos, recuperou mais 100 hectares de terra e, como resultado, a natureza devolveu dezenas de olhos-d'água que jorram sem cessar.

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  1. Lamentavelmente esta é uma situação com a qual nos deparamos a todo o instante em que circulemos nas periferias das cidades maiores ou, mesmo, nas vias principais das menores, onde vemos que embora a tecnologia avance em passos largos, em todos os aspectos da sociedade, os nossos políticos, ditos administradores eficientes, vivem, como dizem os "matutos", dando ré pra trás, no exercício dos mandatos que os "pobres" cidadãos, quase sempre iludidos com procedimentos fantasiosos, lhes conferem.
    Como exemplo, apenas para acicatar o pensamento de alguns mais centrados no dia a dia de uma cidade de pequeno porte ou da periferia de uma cidade um pouco maior, lanço a pergunta: o que se faz em relação a saneamento nessas áreas?
    Nada!
    E assim seguem-se as perguntas e indagações que começam no campo e terminam por desaguar nas aglomerações urbanas, de qualquer porte...
    Parece até que a educação ambiental é conceito medieval, não consentâneo com nossos ares de civilização.

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  2. Nunes, e cabe ainda destacar que Barreto reformou o Engenho Laranjeiras com recursos próprios, exclusivamente. Imagine se na região do Brejo muitos fizessem o mesmo...

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  3. Está de parabéns, o amigo Francisco Barreto, pela sua belíssima iniciativa!

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