Sossego como azeite para o palestino : correria solta de menino pés no chão, barro batido por trás da casa, o açude banhan...

Nuvens escuras neblinam a manhã

 
 
 
Sossego
como azeite para o palestino : correria solta de menino pés no chão, barro batido por trás da casa, o açude banhando mãe, banhando filho, banhando primos tudo nu, sem malícia e nem milícia na casa grande, a avó com panelas chiando fogo e janelas abertas para o silêncio na cadeira de balanço, o avô sentado por baixo do grosso chapéu o jeito todo seu de ralhar até com o céu ( - eita, moleque, cabelo grande é coisa de mulher) na distração dos adultos meninos correndo feito loucos e sertão abrindo cancelas fechando o curral para barulhos e bois no sítio, ninguém sabia que existiam guerras do outro lado do azul.
(Isso não é um poema)
isso não é um poema nem poderia ser temperado que está com sal nostálgico da dor que não cessa : são essas nuvens escuras que neblinam a manhã tão comum sou mais um, um petergast nunca serei, estou mais para ghost - do outro lado da poesia comendo pão com fantasia, fermentos de minhas saudades lá fora, o trânsito pára - a vida parou ou foi o automóvel? cota zero para as buzinas que reverberam a manhã silenciosa a televisão conversa sozinha (não é hora da novela, novelos que nos guiam) um jingle anuncia o são joão não o das fogueiras, traques e milho verde farto sim o dos salamaleques eletrônicos onde a última coisa a lembrar é que estamos no período junino e eu, menino, querendo respirar mais que 140 caracteres tudo formatado, compactado, defasado, mesmo quando pensa que é novo isso não pode ser um poema porque o mundo cansou de tantos poetas que já não são tão loucos nem românticos nem byrônicos (bom é quando tínhamos baygon para matar as baratas!) como ser digerido na boca do inferno se o inferno não está mais nas flores maléficas de baudelaire? (alguém aí já comeu baudelaire?) isso jamais será um poema a chuva parou, sim a campanhia tocou, também a companhia se foi (além) alguém tem que pegar o trem e pagar a conta da luz alguém tem que clarear esta manhã daltônica alguém tem que fazer um poema…
(poema do livro, ainda inédito, “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”)
Xerox
quero ser diferente, original mas como isso pode acontecer quando não consigo nem ser comum? sou um ser raro fácil de ser encontrado em qualquer esquina em qualquer bar sou mais descartável do que a calça desbotada que uso quero ser original mas não passo de uma xerox não autenticada de mim mesmo.

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  1. Maravilha, Linaldo. Gostei muito de todos os desta série. Lembraram-me Juarez da Gama Batista me dizendo que arte é aquele instante em que a pedra , atirada para cima. para um momento, antes de cair. "Isso não é um poema", por exemplo, é isso.

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