A tristeza é um tipo de tatuagem. Nunca mais sai da pele. Não impede a alegria, mas fica por lá. Impregnada com suas formas e cores. A tristeza, assim como a tatuagem, nasce com o nosso consentimento. Nunca existe um culpado. A nossa tristeza apenas revela a autonomia do acaso. Geralmente é fruto de uma sedução estremecida ou de um equívoco só nosso. Por isso as alegrias podem até sobrepor a tristeza como a espuma e a água podem sobrepor momentaneamente a tatuagem. Mesmo que a tatuagem permaneça inalterada.
Logo a pele revela novamente a mesma tristeza tatuada. Só que esse movimento não determina a tristeza. Essas tatuagens são como cicatrizes de uma cirurgia de onde extirpamos um mal que cresceu dentro de nós.
Georges Michael
Pessoas tristes, todavia, são as que não reconhecem as próprias tatuagens. As pessoas tristes, no máximo, acariciam alguma cicatriz que ainda sangra. Inventam risos que não existem porque para elas a alegria é apenas um tipo de representação. Um vazio imprescindível. Um oco necessário. Mas, a alegria verdadeira é a melhor expressão de uma alma livre. Coisa de quem reconhece as próprias tristezas e não tenta escondê-las. Por isso existem pessoas alegres com sorriso triste.
A tristeza não se expressa na ausência do sorriso, mas no olhar. Pessoas tristes também sorriem. A alegria verdadeira consiste, sobretudo, no reconhecimento de ter sobrevivido aos olhares mais tristes. E muito mais aos olhares fugidios, covardes. Olhares que não se revelam jamais. A alegria é uma impermanência e por isso nos salva da tristeza oferecendo a oportunidade de reconhecê-la. Cada tristeza é, na verdade, um mundo reconhecível. A alegria, ao contrário, são pequenas carícias do destino.
Georges Michael