O menino atira o olhar em forma de flecha pela janela e atinge muitos tempos. Das eras dos outros garotos, dos velhos nas praças, d...

Olhar menino

infancia olhar crianca
O menino atira o olhar em forma de flecha pela janela e atinge muitos tempos. Das eras dos outros garotos, dos velhos nas praças, do motorista da condução apressado, do sorveteiro concentrado no equilíbrio dos negócios para que não derretesse, da menina sonhadora da outra janela. E mirou máquinas modernas e ultrapassadas que se encontravam nas esquinas, nos desenhos e nos destinos.

Os olhinhos iam de um lado para o outro concentrados na busca de detalhes. E as imagens se sucediam em sequência cinematográfica, musical como as letras crônicas que captam diversas cenas ao redor e mais além pelos cérebros pupilas dos visionários Rauzito, Zé do Brejo do Cruz, Belchior ou Chico de Catolé do Rocha.

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Andrew Seaman
Olha o menino num recanto, enxerga como um gigante observador. Ele coleciona cenas. Como o catador que reúne latinhas dos tambores de lixo, sem instrumentos além das mãos, que tentam tocar a vida. O olho busca a rua que também tem flores em jardins, possui infâncias e sorrisos.

Por todos os lados, segue a orquestra. Ora o besouro em voo ermo em quarteto, ora a desiludida estrada não mais riscada pelo cavalo de ferro, em duas paralelas, em outro momento como uma velha composição, pois o trem soa musical. E tudo gira repetidamente por entre as pálpebras que metralha olhares que desvendam mundos, pequenos e grandes.

Inocente olhar menino. Avançam também imagens más. Das guerras declaradas e silenciosas de cada dia, de todos os dias, de muitos cantos e recantos, em frentes de batalhas distantes, por detrás das suposta lei e da ordem. Guerra e morte não são iguais a jogo de futebol, feitas torcidas apaixonadas que opiniões desconexas explodem no ar. É preciso declarar trégua, silenciar sobre culpas e silenciar as armas antes de assinar declarações. O pássaro da paz não pode voar penso.

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Félix Batista
O tiro do olhar menino é sopro de luz, é diálogo em silêncio com o próprio eu do poeta, é questionamentos para respostas já prontas ou em formação. E mesmo os desvios do caminho integram lições, aprendizados.

Impecável olhos sérios do menino ao cruzar com outros olhos. E dispara reflexos de mãos, bocas, sorrisos. De repente, é menino adolescente a olhar pelas encruzilhadas dos ponteiros dos relógios, máquinas de controlar tempos, tão falíveis quanto fantásticas.

O menino atira o olhar no mundo e encontra seres, máquinas e os tempos de ontem e de hoje. Mergulha em vazios de multidões. E busca, com as miras giratórias dos olhos, possíveis saídas, caminhos, paz, libertações.

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