Utopia Não basta a alegria, tampouco o prazer Que o tempo concede em fugazes abraços Eu quero mais. Eu quero o aman...

Naufrágio de afetos

poesia paraibana milfa araujo valerio
 
 
 
Utopia
Não basta a alegria, tampouco o prazer Que o tempo concede em fugazes abraços Eu quero mais. Eu quero o amanhecer No ritmo, no compasso No pulsar do coração. Ver o amor florescer. Eu quero muito mais. Quero as muralhas de Jericó E Anjos tocando trombeta Anunciando uma nova e feliz vida. Eu quero o fim da guerra e as dores curadas. Eu quero ainda mais. Não apenas os sonhos bons nas madrugadas Quero a transfiguração desse planeta E a vitória do reino da paz.
Sísifo
A cada manhã apanho as sobras da noite Restos caídos embaixo da mesa Porque não valem a pena. Alguma ternura mesclada de tristeza Marés de dúvida, horas serenas Desabafos mudos, propósitos de papel... Recolho tudo para a oferta rotineira Tão pobre e tão inútil Que nem sobe ao céu. Depois, retomo a trilha traiçoeira Sobre os mesmos passos A cada manhã.
Por conta do inverno
Luto Contra o canto da chuva que não passa Contra os fantasmas de um mundo descolorido E o arrastar dos dias sem sabor. Luto Contra palavras vazias de sentimento Contra um tempo sem magia, entorpecedor Contra o naufrágio de afetos no mar esquecimento. Contra a guerra que traz à vida inferno Contra lembranças há muito descartadas Que a saudade traz a cada inverno... Luto Mas não por causa da estação de fora Há um pesado inverno interior Que não quer ir embora…
Parto
Trago o coração pesado de perguntas! Irrespondíveis questões Inevitável fardo que vou levando pelos atalhos. Pesa-me mais sofridamente O resultado desse trabalho parto, labor. Amor, espada na imatura carne. Ficou a mão crispada sobre o seio esquerdo Esquerda razão. Esquerdos o momento, o fato, a ação. E mais esquerdo ainda O fruto de tudo - nada! Trago o coração pesado de perguntas!
Para escrever um poema
Impossível esquecer, se estás em tudo Até nas telas do ocaso, em que te vejo Como um poema velado... Olhos no céu, contemplo agradecida No abismo dessa falta o que me dava vida Tua presença, tua calma, tua voz Todo o caminho com alegria partilhado. Sinto falta do olhar que revelou - me outro mar E me fez impulsiva navegar sem medo Por teu amor e teu carinho inspirada. Hoje, apenas marés, ressacas e tormentas Para escrever um poema… sobre nada.
Amor
Quando te olho Quero dizer-te O indizível Quando em ti penso Ouso sonhar O inconcebível Quando te encontro E quando estou contigo Quero viver o impossível Porque não há palavras Gestos ou emoções capazes de exprimir O quanto te amo. Pois desconheço A medida de amar Por que o amor quer sempre mais?
Oferenda
Trago-te feito laço Em buquê de sargaço O sal de amar. Trago-te Porque estão em mim talhadas E não posso apagá-las sem sangrar Imagens lindas e perfumadas. Recendendo a saudade, a teimosia Jardim selvagem onde cresceram flores De cumplicidade e poesia. Trago-te ousada, na palma da mão O Prêmio exausto de angustiantes mergulhos A estrela-coração que há anos-luz espera Congelando em invernos A nova primavera em floração. Trago-te enfim a pedra rolada Do primeiro clarão até o anoitecer. A pedra do amor decisivamente tombada No abismo do ser.

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