PERTENCIMENTO Eu, que atentei contra as lendas, devo participar calado da ceia dos ausentes. (O brilho do dia nad...

Sombra e brisa

poesia capixaba jorge elias neto
 
 
 
PERTENCIMENTO
Eu, que atentei contra as lendas, devo participar calado da ceia dos ausentes. (O brilho do dia nada sabe sobre o vazio que se desprende nas asas sem destino, dos trocadilhos dos fartos, da soberba que ofusca no horizonte o templo dos desesperados, do pânico dos ascensoristas buscando um andar que caiba o homem) Não me pertence o celibato dos anjos sem memória mas sim a profusão de porquês inúteis: Cabe vestígios de sombra no infinito do mar? O que importa da origem das pedras se elas tem beleza e o cheiro da resignação? A insistência do poema é uma exigência ou privação de ar? Este abafamento que resta é o desmedido do inconsciente ou arrependimento de não ser?
DIMINUTO GIGANTE
Como se contasse sobre o terror dos novelos, A medida interrompida das coisas, O ócio inabalável do cascalho, A infidelidade do buraco da agulha, O inusitado dos presentes perdidos. Isto tudo, se soubesse contar o que o dia desfaz.
VOU JÁ DIZENDO
Quero a ordem dos lençóis desavisados Estes retorcidos corpos que não cumprem as palavras divinas Quero o que não entendo, o que não pertence as preces O que roda distorcendo o reto, o disperso no redemoinho do verso O que retorna do arrependimento , a ronda, o objeto doce e um mote, um curso, o moto-contínuo do Universo.
SOMBRA E BRISA
Desabou a parede de retratos. Nada mais restava de pé. Há anos repassava as mesmas imagens com o olhar de máquina de escrever manual. Até que as teclas emperraram… A letra A do nome dela que agarrou-se ao S de separação. Não pôde mais sair, ficou diante da parede a indagar respostas. O mundo desconstruindo-se ao seu redor e ele não medindo esforços para manter-se erguido sobre os escombros, que o espremiam cada vez mais de encontro à parede. Tão exíguo tornou-se o espaço que seus óculos se arranhavam na moldura de vidro. Os pelos da barba crescida entravam pelo vidro estilhaçado e roçava as belas coxas por debaixo do vestido branco. A ausência de espaço não poupara nem mesmo as sombras. Mas agora, todo passado era escombro. E uma brisa irritante feriu-lhe os olhos através da lente quebrada dos óculos.

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