Atemporal e corajoso. Atemporal porque é eterno, está além do tempo, existirá, sob mil disfarces, enquanto existirem os humanos e o sentimento amoroso que lhes é próprio. Corajoso porque publicizado em poemas reunidos em livro sem nenhum temor – ou pudor. Admirável romantismo que se expõe em tempo tão antirromântico como o nosso, tempo em que até se ri do romantismo, tido por obsoleto por amantes que talvez desconheçam o amor enquanto lirismo, posto que limitados ao rés do chão do sexo casual; amantes que, mal informados - e mal formados -, confundem romantismo com pieguice e não entendem absolutamente a sutil distinção feita por Rita Lee em célebre canção: “sexo é prosa, amor é poesia”.
Roman Kraft
Mas situemos o leitor. O poeta Leo Barbosa acabou de publicar seu mais recente livro de poemas, intitulado (A)Temporal, Editora Ideia, João Pessoa, 2023. O volume enxuto (são 43 poemas) vem bem recomendado: as orelhas são de Hildeberto Barbosa Filho, o prefácio é de Larissa Rodrigues, o posfácio é de Tiago Germano e a contracapa é de Sérgio de Castro Pinto. Excelente companhia, sem dúvida. Mas nem precisava, pois os poemas falam por si e o poeta vale por ser quem é, já reconhecido em (e por) obras anteriores. E para o eventual leitor que ainda não o conhece, apresento-o em rápidos traços a seguir.
Leo Barbosa @LeoBarbosa
Por sua formação acadêmica e seu labor profissional, Leo naturalmente sabe lutar com as palavras, não importa a precariedade dessa luta, como alegou Drummond em O Lutador, poema sempre lembrado. Pois não é outro o desafio de quem escreve, principalmente dos poetas, mesmo sabendo que “o inútil duelo jamais se resolve”. Nessa peleja vã e sem fim, que continua até mesmo pelas “ruas do sono”, o escritor às vezes ganha e quase sempre perde. Mas esse é o seu ofício, a sua sina, a sua maldição - e o seu gozo (porque escrever também gratifica). Que fazer, então, senão continuar escrevendo?
É o próprio poeta que confessa: “... meu mal é me acometer romântico”, conforme escreve no poema “Autenticamente Nu”. E mais à frente, no poema “(Contra)Corrente”, acrescenta: “Meu coração: campo minado/cujas bombas eu mesmo/aterrei”. Sim, o poeta é corajosa e assumidamente romântico, não há dúvida. Mas é também sentencioso, no sentido filosófico da palavra, quando compõe: “Maturidade é o poder de transformar/gota em oceano,/oceano em gota/quando julgarmos necessário”. E ainda:
“Não é porque é o amor
da sua vida
que tem que ser/a razão do seu viver”
E mais:
“Amor é fogo.
Depois vira cinza.
Pó de sexo.”
Versos que pedem uma parada para reflexão.
Se as cartas de amor costumam ser ridículas, como afirmou Fernando Pessoa, que aliás escreveu várias para a sua Ophélia, não o são nunca os poemas de Leo, sempre contidos e comedidos em nome da sobriedade, da madureza e da elegância formal, requisitos de quem é realmente escritor e não um imaturo apaixonado em busca de expressão.
Por ser jovem, Leo Barbosa deve ter uma comprida caminhada pela frente, é o que lhe almejo. Na literatura, continuará a lutar com as palavras, isto é certo. No amor, sabe Deus. Nas duas frentes tortuosas, desejo-lhe muito êxito, se é que é possível tal simultaneidade venturosa.