O glorioso São José Esporte Clube, já foi no passado o Esporte Clube São José. Agremiação fundada em São José dos Campos no distante 19...

O crepúsculo

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O glorioso São José Esporte Clube, já foi no passado o Esporte Clube São José. Agremiação fundada em São José dos Campos no distante 1933. Em sua primeira versão, o ECSJ, tinha sua sede social na rua XV de Novembro e seu estádio na Rua Antônio Saes, arquibancada de madeira e capacidade para algo próximo de 5 000 espectadores, contando é claro, com a geral, separada do gramado por um alambrado. Este setor, mais popular, ficava na outra lateral, lado oposto das arquibancadas e ainda com uma parte atrás de uma das duas traves onde se posicionam os goleiros durante uma contenda.

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Era então, o glorioso “Formigão do Vale” de uniforme alvinegro. Começou suas atividades profissionais, na segunda divisão do Campeonato Paulista em 1º de maio de 1964, ali no antigo Martins Pereira enfrentando o Burro da Central num histórico empate de 1 a 1 com o Esporte Clube Taubaté. Quem marcou pelo “Esporte” foi Pedro Bala que depois se tornaria vereador pela ARENA. À época, nas arquibancadas, gritava-se: Esporte! Esporte! Esporte!...O Formigão era assim tratado por sua torcida.

Acontece que o nosso esquadrão acumulou mais dívidas do que gols e para livrar a agremiação de uma bancarrota, foi feita uma manobra fiscal que envolvia o nome da entidade: Virou em 1976 o São José Esporte Clube. O uniforme passou a ser nas cores branco azul e amarelo, com o emblema igual ao da bandeira joseense e o Estádio Martins Pereira mudou de endereço; foi parar no Jardim Paulista e sua capacidade, mais que triplicou, disparou para 16 500 espectadores. O mascote deixou de ser a formiga para ser a águia. Deduz-se que para quem era uma mera formiga-cortadeira e passou a ser uma ave de rapina foi um progresso e tanto, mas o desempenho esportivo continuou com seus altos e baixos, muito mais baixos de que altos e o então agora. SJEC, nunca chegou à elite do nosso futebol.

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Celyn Kang
Mas o que vou contar agora aconteceu no velho Martins Pereira, lá na Antônio Saes. Eu e meu irmão, o Cacau, não perdíamos uma contenda do Formigão. Ficávamos ali espremidos junto ao alambrado. Fazíamos parte da turma dos “geraldinos”, grana curta, era esse o ingresso que podíamos pagar. Eu não me importava, comparecia sempre atrás de uma das metas e ficava atento às defesas de Sergio Valentim. Eu nos meus 13 anos. O keeper, Sérgio, anos depois iria para o São Paulo Futebol Cube e ali seria nada mais e nada menos que o “São Sérgio”, naqueles dias, pelo corte dos cabelos deveria estar fazendo o Tiro de Guerra. E por que eu gostava dessa posição na geral? Era para ficar vendo a atuação dos goleiros. Eu queria ser um. Não deu certo, pois faltou-me de altura uns 10 centímetros e nem sei quanto de talento.

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Celyn Kang
Mas, certa vez a grana deu para nos empoleirarmos lá do outro lado e foi quando observei o fato. Um ambulante, vendedor de amendoins, resolveu encerrar suas atividades comerciais e decidiu assistir ao jogo. Ficou ali, em pé, grudado ao alambrado; e, é claro, obstruindo a visão de alguns, atrás dele e sentados nos primeiros lances da arquibancada. Logo alguém gritou:

— Sai da frente!

Nosso corpulento ambulante (esse detalhe é muito importante) nem tomou conhecimento da solicitação. Logo outro torcedor reclamou:

— Dá para sair da frente, cidadão?

Nada, nem se mexeu. Mais um resolveu fazer sua petição, já mais irritado que os anteriores:

— Sai da frente, imbecil.

Nada. Então aquela chuva de xingamentos:

— Sai daí, seu f.d.p.

— Vai ficar aí na frente, seu corno?

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E por aí foram com tantos impropérios que nem ouso revelar nesta respeitável gazeta. Foi um tal de jogar bagaço de laranja no infeliz e até um conguinha (calçado barato e bem popular naquela década de 1960) jogaram nas costa do pobre. Mas ele na mais glacial indiferença.

Até que alguém gritou:

— Sai da frente, crepúsculo!

Aí, o homão ficou nervoso. Virou para a arquibancada e foi logo mostrando sua valentia:

— Quem me chamou de crepúsculo?

— Foi esse aqui – disse um gordo careca, apontando um outro careca, só que magro. Nem devia ser ele, mas eu mesmo achei que foi maldade do gordo careca.

Então o valentão partiu para cima do careca magro e tome socos e tabefes na cara do infeliz.

— Isso é para não me chamar mais desse nome.

Quando voltei para casa, para eliminar alguma dúvida, fui correndo ao dicionário.

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