Numa definição exígua, o poder consiste na capacidade de influenciar ou controlar o comportamento, as ações ou as decisões de outras ...

O poder

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Numa definição exígua, o poder consiste na capacidade de influenciar ou controlar o comportamento, as ações ou as decisões de outras pessoas ou grupos.

No âmbito político, ele foi considerado sob diferentes perspectivas, das mais idealistas às mais pragmáticas.

Aristóteles abordou o tema em sua obra "Política", definindo poder político como sendo a capacidade de influenciar a tomada de decisões em uma determinada comunidade ou sociedade. Em sua perspectiva, o poder não é apenas uma questão de dominação, mas também envolve a capacidade de contribuir para o bem comum. Para ele, o bem é aquilo a que todas as coisas tendem e no qual o bem humano é o fim.

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Aristóteles Brian Daly
O filósofo macedônico diferenciou, em sua obra, várias formas de governo, como a monarquia, a aristocracia e a democracia, e discutiu como elas poderiam ser virtuosas ou degenerar em suas contrapartes menos desejáveis. Ele via o poder como algo intrinsecamente ligado à busca por justiça, enfatizando sempre a importância da virtude na liderança política.

Já Maquiavel, em "O Príncipe", abordou diversas questões sobre o poder de maneira mais aplicada e “realista”, afirmando que o governante deve ser pragmático e focar na eficácia, mesmo que isso signifique adotar estratégias moralmente questionáveis para manter o poder, sugerindo que o governante deve estar disposto a usar a astúcia, a dissimulação e a crueldade quando necessário para manter o controle, e sublinhando, ainda, a importância da estabilidade política e da manutenção do poder, mesmo que isso envolva ações impopulares e controversas. Segundo ele, em certos contextos, a crueldade controlada é mais eficaz do que a generosidade excessiva.

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Nicolau Maquiavel Santi di Tito
A seu turno, Montesquieu, em "O Espírito das Leis", contribuiu para a teoria da separação dos poderes políticos, argumentando que a divisão entre executivo, legislativo e judiciário evita a concentração excessiva de poder, promovendo a liberdade e a justiça.

A filosofia política de Rousseau enfatiza o contrato social e a vontade geral como fontes legítimas de poder. Em seu entendimento, o poder derivado da vontade popular deve ser usado para promover o bem comum e a igualdade.

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Quizizz
Por outro lado, Thomas Hobbes, no seu "Leviatã", oferece uma visão mais sombria da natureza humana, argumentando que o desejo pelo poder é inerente aos seres humanos. Sua famosa descrição da vida sem um contrato social é marcante: "o homem é o lobo do homem". Para ele, o soberano centraliza o poder para evitar o caos. Já Locke, no "Segundo Tratado sobre o Governo", defende a ideia de direitos naturais e a limitação do poder governamental, o que influenciou fortemente a concepção moderna de governos constitucionais, enfatizando a proteção dos direitos individuais. Marx, em "O Capital", concentrou- se na dinâmica de poder nas relações de classe, denunciando o controle exercido pela classe dominante sobre os meios de produção, em sua busca constante por determinar e impor uma estrutura social conforme o seu interesse.

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Hanna ArendtCC0
Hanna Arendt, em "Origens do Totalitarismo", analisa o poder em contextos autoritários, explorando como, em tais regimes, o controle é exercido sobre a população, destacando a importância do engajamento e da participação cidadã para evitar e conter abusos.

Michel Foucault explorou como o poder opera através de discursos, normas e instituições, moldando as relações sociais e individuais. Em suas obras "Vigiar e Punir" e "A História da Sexualidade", examinou como o poder se manifesta nas instituições sociais, como prisões, escolas, hospitais e igrejas, influenciando o comportamento e a subjetividade das pessoas. Ele rejeitou a visão tradicional do poder como sendo algo exercido de cima para baixo, por uma única autoridade central. Em vez disso, propôs uma abordagem descentralizada, destacando como o poder se insinua em todos os aspectos da vida cotidiana. Uma de suas contribuições mais significativas foi o conceito de "biopoder", que explora como ele está envolvido no controle dos corpos e na vida cotidiana das pessoas.

O "panopticon", conceito introduzido por Jeremy Bentham e reinterpretado por Foucault, representa visualmente essa distribuição do poder. A ideia é que a vigilância constante, mesmo que não seja imposta diretamente, leva as pessoas a internalizarem normas e comportamentos desejados.

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Prisão Panopticon Romain Veillon
Foucault destacou a importância dos discursos na formação do poder. Ele argumentava que o conhecimento e as práticas discursivas moldam as percepções da realidade estabelecendo normas sociais, o que cria um ambiente em que o poder opera não apenas por meio de repressão, mas também pela produção e disseminação de conhecimento.

Pessoas imaturas, com características egoístas e controladoras, têm uma necessidade profunda de subjugar e de dominar os outros.

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Edvard Munch
Indivíduos egoístas não possuem empatia. O poder lhes oferece uma plataforma para agir de acordo com seus próprios interesses, sem considerar ou mensurar os danos para os outros. Buscam o poder apenas como forma de experimentar uma sensação de validação pessoal e de status, e para compensar suas próprias inseguranças. Quanto mais autocentrada uma pessoa é, mais ela deseja exercer controle sobre as outras.

Livros que fornecem técnicas de influência e de persuasão costumam frequentar as listas de best-sellers.

Em vez de buscar compreender a natureza do poder e as razões pelas quais os indivíduos o buscam, alguns se preocupam apenas em persegui-lo de modo indiscriminado.

"O poder é como o fogo; é uma ferramenta útil, mas quando mal gerido, pode causar destruição", disse Terry Goodkind. O fogo, nas mãos de um ferreiro talentoso, é um meio para forjar as melhores peças de metal. Contudo, se manipulado por alguém sem habilidade nem experiência, só produz estragos.

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"Perfume: a história de um assassino" é um romance escrito pelo autor alemão Patrick Süskind, que trata do tema em lide através de uma abordagem bastante original e peculiar.

A trama gira em torno de Jean-Baptiste Grenouille, um jovem nascido na França do século XVIII com um olfato extraordinário, e que se torna obcecado em criar o perfume perfeito. Para alcançar esse objetivo, ele recorre ao assassinato de jovens mulheres para extrair o cheiro dos seus corpos. Após provocar uma série de mortes, Grenouille obtém uma fórmula que, quando usada por alguém, confere a essa pessoa um poder quase absoluto sobre todos os que sentem a fragrância exalada.

Mesmo tendo usando meios cruéis para obter sua poção, o jovem assassino, por fim, parece refletir sobre as inevitáveis consequências nefastas da sua criação e derrama sobre si mesmo seu invento, sendo devorado por uma multidão ensandecida.

A metáfora criada por Süskind sugere que o poder total sempre resultará na crueldade desmedida de um homem sobre os outros.

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Peter P. Rubens
Em "Prometeu Acorrentado", Ésquilo retrata o poder como uma força cega, que simplesmente obedece a quem lhe ordena. Em seu diálogo com Prometeu, o personagem Poder explica ao seu prisioneiro, enquanto o acorrenta, que é apenas um instrumento, e que somente cumpre ordens.

No caso da peça de Ésquilo, "Poder" representa a autoridade e o domínio dos caprichosos deuses do Olimpo, ofendidos pela preocupação de Prometeu com o sofrimento dos homens. A imagem do titã cruelmente acorrentado à uma rocha no Cáucaso, e sujeito a mutilações constantes, destaca a tenacidade do poder arbitrário sobre aqueles que ousam desafiar a ordem estabelecida.

Em sua escultura, hoje exposta no Louvre, Nicolas-Sébastien Adam retratou a agonia de Prometeu, em sua punição eterna por tentar ajudar a humanidade. A expressão de tormento, esculpida por Adam, retrata a dor lancinante do condenado ao ter seu fígado devorado diariamente por uma águia.

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Heinrich Friedrich Füger
Os deuses gregos são ampliações dos mesquinhos apetites humanos. São ilustrações contundentes daquilo de que são capazes seres volúveis com poderes ilimitados.

Homero, no Canto Canto VIII da Ilíada, diz que Zeus "exultante de glória, sentado no alto cimo, contempla a cidade troiana e as naus gregas". Preocupado apenas consigo mesmo e observando, indiferente, a matança que logo se seguiria entre troianos e helenos, a atitude descomprometida do “pai de todos” simboliza o poder inútil, e sem qualquer sentido construtivo, daquele que sempre deseja ser servido sem nunca servir.

Embora imbuído de um proto-humanismo, herdado talvez de seu mentor Aristóteles, Alexandre tinha o poder como um vício. O "bem comum", ministrado por seu mestre, estava muito abaixo, em sua lista de prioridades, de sua busca desmedida por glória pessoal através da expansão territorial do império macedônico, que é ressaltada pela narrativa de Plutarco, segundo a qual Alexandre chorou quando contemplou a extensão dos seus domínios.

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Felice Giani
Tolstoi comparava o poder ao estrume, que pode servir como fertilizante, mas, se concentrado, vira monturo e fede. Na mesma linha, o filósofo transcendentalista norte-americano Ralph Waldo Emerson disse que "o poder não é uma posse para manter, mas uma função para desempenhar".

Sem um propósito edificante, o poder está sempre na companhia da Violência, como na tragédia de Ésquilo. Ele é uma ferramenta que deve estar a serviço do bem, e não da pequenez de espírito. Não presta se for obtido e exercido sem escrúpulos e com crueldade, a respeito do que diz todo pragmatismo político.

Há quem se orgulhe de atrapalhar os sonhos dos outros, e de sabotar os planos alheios; há quem se enalteça por ser capaz de ludibriar e de manipular as pessoas, causando-lhes os piores prejuízos; há quem se ensoberbeça por sua severidade para com os semelhantes. Porém, o poder, exercido dessa forma, é um instrumento que, por fim, ferirá também a quem o usa. De nada adianta utilizar o poder para ser querido, enaltecido e amado se, no fim das contas, ele resultará na infelicidade e na destruição de quem o exerce.

O poder bem empregado é aquele usado na promoção da felicidade dos outros.

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Ary Scheffer
Em Mateus 16:26 e Marcos 8:36, encontramos a grave advertência Feita por Jesus sobre ganhar o mundo e perder a alma. Foi Jesus que também Revelou o verdadeiro sentido do poder em Mateus 23:11-12: "Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado", sublinhando, ainda, em Mateus 6:13, que o "Reino, o poder e a glória" Pertencem somente a Deus, e não aos homens.

Certa vez, o pastor João Pereira Gomes Filho, relatou-me uma de suas experiências evangelísticas. Disse-me que, numa ocasião, visitou o oficial reformado de uma força de segurança em sua granja, a pedido de uma parente. Foi até lá de boa vontade, portando um exemplar da Bíblia para presentear ao homem.

Após ser recebido de modo relutante, ouviu do anfitrião o seguinte:

"Pastor, não perca seu tempo e nem desperdice o meu. O meu 'deus' é essa pistola Imbel GC MD1, de uso restrito da polícia e das forças armadas. Este sim pode tudo e resolve qualquer problema para mim"... Pastor João saiu cabisbaixo e humilhado e seguiu seu caminho.

Anos depois, na condição de capelão de um hospital de tratamento de câncer, visitava alguns pacientes terminais, quando reencontrou o velho oficial num leito, com o pescoço todo enfaixado, devido a uma enorme ferida que lhe consumia a laringe.

O antigo portador da potente arma de fogo lhe solicitou, então, sussurrando, o mais alto que conseguiu: "Reverendo, ore por mim..."

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