Velho, não
entardecido talvez
Antigo sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
e eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.
(Mia Couto)
(Mia Couto)
Essa velhice do nascedouro tem ambiguidades pontiagudas a juventude sem compromisso e a maturidade latente do peito da mãe que se doa. Carências e ofertas. Tudo junto. Mistura entre lírico e samba, entre tango e frevo. E o torturante fado a me acompanhar. Entre o calar e o gritar.
(Albiege Fernandes)
(Albiege Fernandes)
Sou Ana Adelaide Peixoto Tavares – Viúva, mãe de Lucas e Daniel, avó de Luísa. Professora Doutora da UFPB, aposentada – Departamento de Letras Estrangeiras Modernas. Escrevo crônicas no jornal A União e no blog Ambiente de Leitura Carlos Romero. Gosto de viajar e de não fazer nada. De cinema, ler e de dançar. De comer massa com pão de alho. De moda e de música. Não necessariamente nessa ordem... E de contemplar a vida... e todas as horas! “A prontidão é tudo”! Com poesia. Sempre! Já tive os cabelos vermelhos. Hoje não mais.
Ana Adelaide Peixoto Tavares Acervo da autora
Sou aquariana e amante da liberdade. E do sossego. Sou muito grata por ter nascido em meados dos anos cinquenta e ter assistido a transformação inimaginável do mundo. Final do século XX e começo do XXI. Quantas mudanças! e a tecnologia e junto com ela, a gente com um celular na mão e uma loucura na cabeça. Mas tenho que admitir que, sem essa maquininha, a minha vida e transformações íntimas não teriam sido possíveis – ficar viúva, ninho vazio, e morar sozinha. Essa simultaneidade das coisas e instantaneidade me dão companhia e a ilusão de pertencimento, mas, a essa altura, quem quer saber da verdade? Contento-me com a ilusão.
Com tantas décadas no lombo, vamos mudando também. Vou ficando mais parecida com meu pai, ensimesmada. Mas sem o seu xadrez, infelizmente. Sempre fui caseira, mas tinha um pé no mundo. Hoje bem menos. Ainda gosto da rua, mas o calor me deixa dormente.
Festa? Lembro da personagem de Virginia Woolf, Mrs Dalloway, que vivia a dar festas. Uma forma de uma mulher naqueles tempos londrinos observar o mundo, se expressar e viver o mundo público. Eu já gostei muito de festas. Não por esses motivos. Mas também para me expressar dançando, beijando os meninos bonitos, e explodindo as alegrias da juventude. Lembro que nos meus 50 ofereci uma festa para a família e amigos chegados, no Parahyba Café, e amanhecemos o dia, eu e Juca dançando Caetano: “E agora, que faço eu da vida sem você?...você não me ensinou a te esquecer”.
Nos 60, eu estava enlutada e tivemos só um bolinho para a família no aconchego da minha casa. Hoje, com mais uma volta ao sol, completando essa data redonda, 70 anos, quadrada e triangular, agradeço – Gracias a la vida! Que me há dado tanto. E celebro com meus filhos, companheiras, neta, irmãs, sobrinhos e cunhados, a minha vida. Recentemente, tive sustos na saúde, sustos que chacoalham a nossa existência e temos que tirar forças outras para enfrentar a vida: que não vai te tratar bem...
A finitude? Assusta sim. Os cabelos brancos nos lembram sempre dessa data num futuro próximo, mas gosto de pensar num futuro perdido nas nuvens, que não tenho controle, que ele só aconteça.
E como as lobas das Mulheres de Clarissa Estés Pinkola, celebro:
“Coma
Descanse
Perambule nos intervalos
Seja Leal
Ame os filhos
queixe-se ao luar
Apure os ouvidos
Cuide dos ossos
Faça amor
Uive sempre".