O ano de 1975 chegava ao fim com um início de verão muito quente. Após o banho na praia de Tambaú, a turma subiu a Avenida Epitácio Pessoa até o bairro de Miramar, para desfrutar da piscina do Clube Cabo Branco.
Estavam quase todos os amigos do xadrez: além de Anfrisio estavam os irmãos Rato, Macaca e Jacaré e Pavão, e Amerigo Bonisera. Não faltaram Belo-Jardim, Lulu-Babau e Cara-de Cu (CC).
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Pela lotação do ônibus, cedo da noite daquele domingo de verão, prometia-se muito agito nos templos do centro da cidade. Gradativamente, ao longo da Avenida Epitácio Pessoa, a cada parada subiam mais fieis.
As mulheres com as inconfundíveis saias ultralongas e os cabelos penteados em coque, portando as suas bíblias. Os homens quase todos de camisa longa ou paletó branco, com a bíblia debaixo do braço.
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Anfrisio e seu amigo Macaca haviam subido na parada do Miramar, o primeiro voltando para casa após um dia exaustivo: manhã de praia, almoço na casa da namorada, e tarde de brincadeiras na beira da piscina do Clube Cabo Branco. Mas ia apenas tomar um banho em casa, trocar de roupas por vestes de domingo e retornar à casa da namoradinha querida em Miramar.
Já Macaca, todo arrumado e cheiroso, ia pegar a sessão das seis e meia no Cine Municipal com a sua nova namorada e, claro, a inevitável irmã dela.
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Mistura explosiva, semelhante a trinitrotolueno com nitroglicerina. E o domingo de verão tinha feito um calor de beduíno tirar a roupa! Ou seja: a cena perfeita para uma explosão.
Anfrisio aguentava-se como podia, aquela força vinha das profundezas do seu ser, lá do âmago. Até que, à altura da Secretaria da Receita Federal, não aguentou mais, e a explosão aconteceu! Que alívio, chega ficou suado! Porém ele conseguiu evitar qualquer som. Como estava em pé no início do corredor, no meio de outros passageiros, e as janelas abertas faziam o vento entrar e levar tudo que flutuasse para os fundos do coletivo, passou despercebido dos demais passageiros em torno dele. Por um momento ele acreditou que nada seria notado. O crime perfeito!
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Na parada do supermercado Pão de Açúcar desceu um cidadão com ar de aposentado. Foi quando uma voz lá de dentro, alto e bom som, anunciou:
“Vai descendo o cagão!”
Rapaz, num prestou, não! Pra que ele foi dizer isso?! Pois não é que o cidadão queria subir no ônibus novamente?! Pois era um homem de respeito, e não admitia molecagem:
“Cagão é você e a sua mãe! Desça pra apanhar, seu cabra de pêia!”
Foi muito difícil para o motorista controlar a situação. Até que finalmente o ônibus conseguiu sair, chegando até a Praça da Independência, onde Anfrisio desceu aliviado.
Em todos os sentidos!