Demorei aguardando a chegada do lanterneiro que me recomendaram. E do batente onde resolvi esperar, bato com as vistas nuns enormes cai...

Tempo de rever

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Demorei aguardando a chegada do lanterneiro que me recomendaram. E do batente onde resolvi esperar, bato com as vistas nuns enormes caixões de cimento que sobem apertados entre montes empanando a visão da sinuosa várzea que o rio Jaguaribe das origens desce descrevendo pelos desfiladeiros entre o Cristo e Oitizeiro até se perder na restinga do Bessa.

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Paisagem da Parhyba Frans Post
Pelo que se avista na descrição do padre visitador da Companhia de Jesus, antecipando a fundação da cidade, as intervenções nessa paisagem ao longo dos séculos não têm sido suficientes para deformá-la. Mas do ponto em que me acho agora, na cabeça da ladeira do que se chamaria Conjunto João Goulart, o mural verde do Altiplano sai perdendo. Vai ser encoberto.

Ainda assim, menos mal. Afinal, são os modernos cortiços disfarçados em edifícios compactos que o urbanismo de metrópoles como o Rio de Janeiro, sob o velho impulso da cobiça imobiliária, não se advertiu em tempo de evitar a pujança da favela numa cidade feita para o espetáculo majestoso da montanha.

E olhando ao redor me acode a lembrança do mirante privilegiado que Hermano Sá escolheu para mais um conjunto do Ipase, antigo instituto previdenciário ao qual muito deve o crescimento e a melhoria habitacionais desta cidade.

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Conjunto habitacional Castelo Branco (J. Prssoa-PB) @Tacio Adventures
Censurei Hermano por localizá-lo numa escarpa de Tambauzinho, quando ainda sobrava espaço deixado livre pela febre construtora da Caixa e dos demais institutos que vieram juntar-se ao antigo Montepio na obra iniciada pelo bolso de Duarte da Silveira, a quem Flávio Tavares, pelo imaginário de sua arte, tem tudo para dar cara ou feição a uma merecida estátua ao homem que pagava do seu bolso as nossas primeiras habitações.

Não sei se a placa que dava nome ao conjunto chegou a ser pregada, tanto era o clima de pânico imposto à opinião do país contra o projeto das Reformas de Base propostas por Jango ao Congresso e propagada pela grande imprensa e por todas as tevês como golpe para implantar o comunismo no país. João Pessoa sai de mãos postas
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Maria Thereza e João Goulart
Ag. Nacional
numa de suas maiores concentrações da gente de bem sob a invocação de “Deus, Pátria e Família”. Era a réplica à assombrosa passeata feita antes pelas Ligas Camponesas.

E deu no que deu. Nos vinte e um anos de Constituição militar assinada em 1968 pelos civis que lembram o Centrão de hoje, não houve conjunto habitacional que não consagrasse o nome da série de ditadores. Há propostas de se derrogar esses nomes, endereços hoje de mais de meio século com inscrição de duas gerações de registro civil.

Em vez disso, por que não restaurar o nome de um presidente que ainda há pouco me foi lembrado, não só por Darcy Ribeiro, de quem era amigo dileto, mas por Celso Furtado, econômico ou de excessiva sovinice em seus elogios. A direita, desde JK, apenas tolerava o pensamento em ação do criador da Sudene. JK, Jânio e Jango tiveram de resistir às pressões dos próprios aliados e até auxiliares para mantê-lo no lugar. A Sudene não financiava eleições. E isso indignava a maioria aliada. Mesmo conciliadores como Tancredo, primeiro-ministro de Jango, cederam às pressões e encarregaram Virgílio Távora, o mais próximo de Jango, de advertir o presidente. Celso, ao saber disso, entrega o cargo e ouve do homem acusado de fraco, esta reação: “Olhe, Celso, me cortam a mão mas eu não assino a sua exoneração.”

Já é tempo de se rever muita coisa.

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