Sinónimo de vigor, a bandeira condensa a identidade social, política, religiosa e cultural de um povo, a sua História, o ordenamento, a filosofia de vida e uma consciência de nação.
Em 1206, Genghis Qahan, chefe da tribo dos Temüjin, reuniu, junto ao rio Onan, uma assembleia de chefes das tribos nómadas da Mongólia Oriental. Cravou no solo uma imensa bandeira e os seus pares deram-lhe o título de Khan, que significava ‘chefe’ ou ‘senhor’. A bandeira era simbólica da personalidade de Genghis Khan e
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pensa-se que o acompanhou sempre até ao fim da vida. Era branca e tinha no centro um falcão — o espírito guardião da tribo. Dos seus bordos pendiam nove caudas de yak (quantas as tribos presentes), pela importância que este animal tinha na sobrevivência dos mongóis. Sob o tridente flamejante que rematava o mastro, caíam quatro caudas de cavalo, simbolizando o futuro poder do Khan sobre as quatro partes do mundo, invocando o cavalo, elemento essencial à expansão que ia começar. A tradição oral preservou a bandeira de Genghis Khan para além da sua morte e, ainda hoje, no século XXI, ela é usada pelo povo Kalmyk, residente principalmente na República de Kalmykiya, no sudoeste da Rússia.
Os anais do Al-Andalus do século X d.C. constituem uma considerável originalidade no capítulo dos tímbales que recebem nomes variados. As de menor importância parecem ter sido umas chamadas upda (ligadura, nó) e seriam constituídas por uma mera faixa de tecido atado a uma lança. No parágrafo nono desses textos, é-nos fornecido o adjetivo solene a um outro tipo de bandeira, a ash-shatranj,
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que significa também xadrez, talvez porque o seu desenho se assemelhasse a um quadriculado de duas cores. Parece ter sido, de entre todas, a insígnia mais importante.
Mas nem todas as bandeiras tinham somente atributos de decoração geométrica. Havia-as com figuras. Lê-se a dada altura: “(...) Passaram depois perante uma formação de porta-bandeiras que empunhavam admiráveis insígnias de tipos e feitura notáveis, com simulacros espantosos, tais como leões de fauces abertas, terríveis leões pardos, águias abatendo-se sobre a presa e dragões horrorosos, em número de cem (...)”. Porta-estandartes que, desfilando em conjunto, imagina-se, deveriam produzir um grande efeito de bloco.
Bandeira do País de Gales.
A acepção e a aplicação de luas crescentes e estrelas que ornamentam o campo das bandeiras nacionais destes estados têm uma interpretação religiosa prática. A lua rememora, na vivência árabe, um sinal cíclico divino que regula o cômputo temporal, a mudança, a transformação, a passagem para um mundo novo, de um estado de crescimento a outro, rejuvenescido e supurado. Significa ainda recolhimento e, na poesia árabe é, por excelência, símbolo de beleza metafórica. Em termos de terminologia especial para os diferentes crescentes de lua (al-qamar),
Bandeiras da Mauritânia e da Tunísia.
consoante a sua fase de crescendo ou minguante, esta poderá obter as designações de hala (halo), hilal (em forma de quarto crescente), auuail (crescente na sua primeira noite), ghurar (crescente à terceira noite), sahuur (lua cheia), mahuu (lua assombreada), shubb (lua em tons cinzentos), shama ou muhmiqat (lua de grande claridade), shubb (lua em tons cinzentos) e buuhr (lua brilhante).
No que concerne às múltiplas interpretações que procuram justificar a razão da orientação da lua, na sua exegese geométrica, a emblemática islâmica observa que a própria pedra negra sagrada do templo da Ka’bah, em Makkah, o centro espiritual do Islão, está extraordinariamente alinhada com dois fenómenos celestes: o ciclo da lua e o nascer de Canopus, a segunda estrela mais brilhante do firmamento (a primeira é Sirius). Nas bandeiras da Argélia, Mauritânia, Tunísia e Turquia, o crescente é acompanhado de uma estrela, provavelmente representando Canopus.
Bandeira da Argélia
As estrelas (an-najma), segundo a determinação da sua posição constelar, podem ter a denominação de ‘fixas’ (falak al-kauakib ou falak al-manazil), ‘virtuais’ (maqadir), ‘celestes’ (manazil), ‘cabeça’ (rass), ‘umbilical’ (surra), ‘cauda’ (danab), ‘cauda de leão’ (danab al-’assad), ’asa’ (janah) e ‘cadentes’ (shahab thaquib). Segundo o Alcorão, são estrelas que Deus lançará em perseguição dos demónios indiscretos que se aproximam do céu (as-sama) para aí escutar o murmúrio divino.
Bandeira da Turquia
Quanto ao simbolismo cromático, o verde (al-akhdar) é a cor ínclita do Islão. Símbolo de renovação e bonança, o verde é a cor da alegria, do êxito e da felicidade. O vocabulário árabe associado às tonalidades do verde é extenso. Essa notoriedade incorpórea sobressai nas encadernações do Alcorão, na linguagem teológica, na literatura, na poesia clássica e no armorial emblemático das bandeiras e estandartes nacionais.
O vermelho (al-ahmar) simboliza a vida. Entre os antigos zoroastrianos, o vermelho simbolizava a guerra. No Al-Andalus, no auge da civilização árabe (séculos X a XII), o vermelho predominava. Era a cor da fascinação, do fogo e do sangue, associada aos poetas, guerreiros e literatos.
Bandeiras da Jordânia e do Iraque.
A cor encarnada surge nas bandeiras de parte significativa dos países muçulmanos - Tunísia, Indonésia, Reino de Marrocos, Turquia, Reino da Jordânia, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Iémen, Egipto e Iraque. Particularmente, em algumas delas, o vermelho se inspira num conjunto de cores específicas do pan-arabismo, de que faziam ainda parte integrante o branco, o preto e o verde.
Nas bandeiras árabes atuais, destaca-se a presença de cores dotadas de profundo cariz afetivo e de deferência: o verde (florescimento), o vermelho (sangue), o branco (paz) e o preto (guerra, martírio e morte). Surgem também elementos de orientação divina — como crescentes lunares, estrelas ou a conjugação de ambos —, bem como águias reais ou de Saladino, símbolo solar pré-islâmico presente na mitologia egípcia, mesopotâmica e turco-mongol. Estas insígnias, frequentemente acompanhadas por sabres, signos de justiça e de combatividade, assinalam a pertença a uma comunidade espiritual comum.