“(...) Ambas as entradas do portão de Imgur-Ellil e Nemetti-Ellil, após o enchimento da rua a partir da Babilónia, tinham-se tornado cada vez mais baixas. Por isso, derrubei estes portões e coloquei as suas fundações no lençol de água com asfalto e tijolos e mandei-os fazer de tijolos com pedra azul sobre os quais foram retratados touros e dragões maravilhosos.
Cobri os seus telhados, colocando sobre eles cedros majestosos em comprimento. Pendurei portas de cedro adornadas com bronze em todas as aberturas das portas.
Coloquei touros selvagens e dragões ferozes nos portões e assim os adornei com um esplendor luxuoso para que as pessoas os pudessem contemplar com admiração Deixei que o templo de Esiskursiskur (a mais alta casa festiva de Marduk, o Senhor dos deuses um lugar de alegria e celebração para os deuses maiores e menores) fosse construído firmemente como uma montanha no recinto da Babilónia de asfalto e tijolos queimados.”
Cobri os seus telhados, colocando sobre eles cedros majestosos em comprimento. Pendurei portas de cedro adornadas com bronze em todas as aberturas das portas.
Coloquei touros selvagens e dragões ferozes nos portões e assim os adornei com um esplendor luxuoso para que as pessoas os pudessem contemplar com admiração Deixei que o templo de Esiskursiskur (a mais alta casa festiva de Marduk, o Senhor dos deuses um lugar de alegria e celebração para os deuses maiores e menores) fosse construído firmemente como uma montanha no recinto da Babilónia de asfalto e tijolos queimados.”
Excerto da dedicatória escrita por Nabucodonosor que ilustra o propósito da Porta de Ishtar e a descreve com alguns detalhes.
“Pela Porta de Ishtar entram os deuses!”. Era assim que se bradava ao cruzar esse colosso que guardava a entrada da majestosa cidade da Babilónia, no atual Iraque. A Porta de Ishtar não era apenas um acesso, mas sobretudo uma declaração de poder, um manifesto em tijolos e esmalte dirigido aos deuses, aos inimigos e ao próprio povo.
Construída por volta de 575 a.C., durante o reinado do rei Nabucodonosor II (ou Nebuchadnezzar II, que também ordenou a construção dos Jardins Suspensos), em honra da deusa do amor e da guerra,
A sua superfície era adornada com azulejos e tijolos esmaltados num azul profundo, imitando o lazúli, pedra considerada sagrada na Mesopotâmia. Sobre esse fundo resplandecente, erguiam-se figuras em relevo: leões (símbolo da deusa Ishtar), dragões (sirrush) e touros jovens (aurochs), associados a Adad, divindade das tempestades. Estima-se que poderiam existir 120 representações de leões ao longo da rua e 575 dragões e touros, dispostos em 13 fileiras. Cada figura transmitia uma mensagem de proteção divina, força e ordem.
Relevos de tijolos esmaltados do Portão de Ishtar, representando dragões (sirrush), touros (aurochs) e leões mitológicos. Construído na Babilónia (atual Iraque), o portão foi escavado por Robert Koldewey entre 1899 e 1914. As peças foram remontadas no Museu de Pérgamo, em Berlim, onde se encontram em exibição permanente.
A extrema beleza e riqueza nos detalhes artísticos elevaram a Porta de Ishtar, um dos oito portões que constituíam a beleza arquitetónica da Babilónia, ao estatuto de uma das maiores maravilhas do Mundo Antigo. Imaginemo-nos a caminhar entre as suas torres com mais de 15 metros de altura de cada lado, ladeadas por dragões dourados e leões esculpidos em tijolos vitrificados em camadas, enquanto cânticos ritualísticos ecoam no ar e o perfume de incenso se mistura ao aroma da terra aquecida. No coração da Babilónia, arquitetura e espiritualidade fundiam-se. A Porta era, ao mesmo tempo, monumento político e símbolo religioso.Imagens históricas das escavações da Porta de Ishtar, realizadas entre 1899 e 1914 pelo arqueólogo alemão Robert Koldewey, na Babilónia, atual Iraque. Os registros documentam a descoberta dos tijolos esmaltados e relevos que compunham a monumental entrada da cidade, posteriormente reconstruída no Museu de Pérgamo, em Berlim. ▪ Fonte: Wikimedia.
Embora não tenha sobrevivido completamente ao tempo, partes da Porta de Ishtar foram escavadas e levadas para Berlim no início do século XX (entre 1902 e 1914) pelo proeminente arqueólogo alemão Robert Koldewey, onde foram restauradas e hoje estão em exibição no Museu de Pérgamo (Pergamonmuseum). Porta de Ishtar em exibição permanente no Museu de Pérgamo, em Berlim. A reconstrução monumental permite ao visitante percorrer parte do trajeto processional original, ladeado por paredes revestidas de tijolos esmaltados em azul intenso, decorados com figuras de leões, touros e dragões. O museu apresenta ainda painéis explicativos, fragmentos originais e maquetes, oferecendo uma experiência imersiva da arquitetura e do simbolismo da antiga Babilónia. ▪ Imagens: Pergamonmuseum
Uma reconstrução mais pequena da Porta de Ishtar foi construída no Iraque sob o governo de Saddam Hussein, como entrada de um museu. No entanto, esta reconstrução nunca seria concluída devido à guerra que assolou o país.Pequena construção erguida para simbolizar a monumental Porta de Ishtar, em Al-Hillah, Iraque, localizada nas proximidades das ruínas das antigas cidades da Babilónia, ao sul da capital do país, Bagdad. ▪ Imagem: Hamody al-iraqi, via Wikimedia.
Reconstituição digial (3D) da Porta de Ishtar e da cidade por trás das muralhas da Babilónia.
Graças às tecnologias gráficas modernas, e especialmente ao uso da Inteligência Artificial, é possível recriar digitalmente essa maravilha arquitetónica da antiguidade. Ilustrações, modelos em 3D e animações baseadas em evidências arqueológicas permitem-nos reviver as cores, formas e atmosferas da Babilónia com uma precisão visual sem precedentes. Com isso, a história da Porta de Ishtar continua viva, não apenas em museus mas também nas imagens que hoje recriamos com arte, ciência e algoritmos.