Sempre fui uma pessoa mais do Carnaval e das suas loucuras e batuques. Mas também gostava do São João. E na minha meninice, soltava fogos e depois dançava quadrilha. Com os filhos pequenos, vinha festinha de colégio, fogueira em casa e meninos gostam de bombas. Eu não. Mas até hoje, quando ouço Dominguinhos e Flávio José, me enterneço e aqueles forrós de sanfona boa, já dá vontade de dançar. Mas nunca tive namorado nem marido dançador (A vida está em falta comigo nesse quesito). E forró é dança de parelha. E acho muito lindo ver um casal encaixado a surrupiar pelo salão. Dança sensual e lúdica. Molejo que arrepia.
São João de Campina Grande
CVC (Instagram)
CVC (Instagram)
Passo o São João em casa. Compro um bolinho de milho, um pé de moleque, para lembrar da data. E quando vejo os programas típicos na TV, aí é que me sinto na contramão mesmo. Não é distância da minha nordestinidade. Mas algo que diz respeito à padronização da festa, do arraial para a megafesta sem identidade.
Talvez esteja sendo injusta. Falam das ilhas. Que se tem de um tudo. E acredito que, para as pessoas que têm uma turma, uma família forrozeira, chega ali no sítio, ou mesmo na Praça do Povo, e faz o São João ilhado. Mas, vejo até Bananeiras que, tinha um São João mais típico, caiu no gosto dos condomínios
Sao João de Bananeiras
Brilho Ze Neto e Cristiano
Brilho Ze Neto e Cristiano
Aplaudo a Granja Pitumirim, de Seu Iveraldo/Iracema Lucena (In Memoriam), que frequentei alguns anos. E agora está celebrando 50 anos de existência. Um exemplo de resistência dos que comandam hoje, e cito Márcia e Ricardo Lucena, que sempre se encarregaram de fazer do espaço e do som, algo genuíno e animado. Com direito à rabada de tira-gosto. Sanfoneiro. Quadrilha. Maçãs do Amor e forró apertadinho.
Sei que o tempo nos distancia de alguns eventos. A comodidade. As distâncias. As locomoções. A segurança. Tantas coisas a nos desanimar. Admiro quem tem o pique para saracotear por aí nas festas e dar bordejos pela cidade ou nos arredores. Eu me sinto como nos memes que perguntam: “a que horas começa?”, “e que termina?” “Tem cadeira?” “Tem ar condicionado?” “É caro?” Vou pensar... e penso... e desisto. Sim, a idade tem as suas armadilhas e artimanhas. E somos coniventes com ela. Mas sinto saudade da minha saia de babados e de flor. Da minha maquiagem com sinalzinho preto na bochecha. Cabelo de Maria Chiquinha, e de uma simplicidade que se perdeu na curva do rio.
GD'Art
Com forró universitário, fake ou fato, desejo um São João arroxado para todos/as, nos sítios ou nas festas grandiosas. Eu vou ficando por aqui, mas vou garantir a minha canjica e pamonha (mamãe fazia em casa e dava um pirex para cada filha. Com canelinha por cima), coisas das mães de antigamente. Eu jamais terei a disposição de descascar um milho sequer. Compro ali, fumegando, na padaria, e como com gosto. Chego a sentir o perfume dos milharais do Engenho em Pilar, onde eu passava as minhas férias de meio do ano.
Natalia Blauth
Bom São Pedro. Olha para o céu meu amor. A fogueira está queimando!!!