Sempre fui uma pessoa mais do Carnaval e das suas loucuras e batuques. Mas também gostava do São João. E na minha meninice, soltava fo...

Por fora do São João

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Sempre fui uma pessoa mais do Carnaval e das suas loucuras e batuques. Mas também gostava do São João. E na minha meninice, soltava fogos e depois dançava quadrilha. Com os filhos pequenos, vinha festinha de colégio, fogueira em casa e meninos gostam de bombas. Eu não. Mas até hoje, quando ouço Dominguinhos e Flávio José, me enterneço e aqueles forrós de sanfona boa, já dá vontade de dançar. Mas nunca tive namorado nem marido dançador (A vida está em falta comigo nesse quesito). E forró é dança de parelha. E acho muito lindo ver um casal encaixado a surrupiar pelo salão. Dança sensual e lúdica. Molejo que arrepia.

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São João de Campina Grande
CVC (Instagram)
Também não gosto de saudosismo, nem das frases, “Porque no meu tempo......” Mas hoje, eu não gosto mais do São João que vejo por aí. Campina Grande, fui uma vez há muitos anos. Gostei de ver o movimento. O pulsar da cidade. Mas já naquele ano, nos anos 90, gente demais, e Flavio José era um bonequinho lá longe. Os grupos de hoje, Sertanejos e Wesley Safadão, não me batem a passarinha. E toda a Cultura da época, me faz sentir por fora. Uma estrangeira!

Passo o São João em casa. Compro um bolinho de milho, um pé de moleque, para lembrar da data. E quando vejo os programas típicos na TV, aí é que me sinto na contramão mesmo. Não é distância da minha nordestinidade. Mas algo que diz respeito à padronização da festa, do arraial para a megafesta sem identidade.

Talvez esteja sendo injusta. Falam das ilhas. Que se tem de um tudo. E acredito que, para as pessoas que têm uma turma, uma família forrozeira, chega ali no sítio, ou mesmo na Praça do Povo, e faz o São João ilhado. Mas, vejo até Bananeiras que, tinha um São João mais típico, caiu no gosto dos condomínios
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Sao João de Bananeiras
Brilho Ze Neto e Cristiano
de luxo, e hoje tem um lugar afastado para no meio da lama e do calçamento, fazer a sua festa, de preferência com também os nomes de duplas sertanejas, ou outros cantores que agradam as multidões.

Aplaudo a Granja Pitumirim, de Seu Iveraldo/Iracema Lucena (In Memoriam), que frequentei alguns anos. E agora está celebrando 50 anos de existência. Um exemplo de resistência dos que comandam hoje, e cito Márcia e Ricardo Lucena, que sempre se encarregaram de fazer do espaço e do som, algo genuíno e animado. Com direito à rabada de tira-gosto. Sanfoneiro. Quadrilha. Maçãs do Amor e forró apertadinho.

Sei que o tempo nos distancia de alguns eventos. A comodidade. As distâncias. As locomoções. A segurança. Tantas coisas a nos desanimar. Admiro quem tem o pique para saracotear por aí nas festas e dar bordejos pela cidade ou nos arredores. Eu me sinto como nos memes que perguntam: “a que horas começa?”, “e que termina?” “Tem cadeira?” “Tem ar condicionado?” “É caro?” Vou pensar... e penso... e desisto. Sim, a idade tem as suas armadilhas e artimanhas. E somos coniventes com ela. Mas sinto saudade da minha saia de babados e de flor. Da minha maquiagem com sinalzinho preto na bochecha. Cabelo de Maria Chiquinha, e de uma simplicidade que se perdeu na curva do rio.

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GD'Art
Hoje, os looks do São João estão nas vitrines das butiques. Botas e roupas chiques. Tudo muito sofisticado. Mas acho bonito o casamento comunitário, para aqueles que sonham com casamento de noiva. Eu já fui a noiva, mas de brincadeira. E rodar a saia de chita era um encanto. No meio da rua, perto de casa, pegando na mão dos rapazes e suando frio. Nossa! Estou já ficando nostálgica, a me lembrar dos meus pares. Botava o olho em alguém e ficava esperando – Olha a Chuva! Que delícia os primeiros toques! O primeiro amor! A primeira dança!

Com forró universitário, fake ou fato, desejo um São João arroxado para todos/as, nos sítios ou nas festas grandiosas. Eu vou ficando por aqui, mas vou garantir a minha canjica e pamonha (mamãe fazia em casa e dava um pirex para cada filha. Com canelinha por cima), coisas das mães de antigamente. Eu jamais terei a disposição de descascar um milho sequer. Compro ali, fumegando, na padaria, e como com gosto. Chego a sentir o perfume dos milharais do Engenho em Pilar, onde eu passava as minhas férias de meio do ano.

Natalia Blauth
E hoje é Dia de São Pedro, com a sua procissão das jangadas da Penha à Tambaú, e quem sabe vou caminhar na calçadinha, para de longe avistar essa beleza.

Bom São Pedro. Olha para o céu meu amor. A fogueira está queimando!!!


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