Tarde sem fim
Ainda sinto o seu perfume no ar de sol, E você já não está mais aqui. Mas, é como se você estivesse, Suas escamas estão em toda a parte, Sob minha pele, meus olhos, meus lençois. Suas palavras sussurradas continuam dançando Na sombra da tarde sem fim. Seu hálito está no crepúsculo E se perde no mar que vai. Com a força de sua presença, Tantos dias ganharam tanta calidez, Onde havia apenas e somente angústia. Sob a violação dos sentidos meus, Amantíssima dádiva do entardecer, Suas idas e vindas são feito ondas, Que levam e trazem paixão e incerteza. Bem sei que certo dia você deixará de vir, E entenderei que terá ido para sempre. Mais que tudo entenderei O quanto você seguirá imprescindível Na lavratura da minha história particular. Terei vivo na memória que a tarde sem fim Eis que finalmente teve um fim, Como todos os grandes afetos, Que fazem a tarde sem fim fenecer, Mas perdurarão para sempre.
Ainda sinto o seu perfume no ar de sol, E você já não está mais aqui. Mas, é como se você estivesse, Suas escamas estão em toda a parte, Sob minha pele, meus olhos, meus lençois. Suas palavras sussurradas continuam dançando Na sombra da tarde sem fim. Seu hálito está no crepúsculo E se perde no mar que vai. Com a força de sua presença, Tantos dias ganharam tanta calidez, Onde havia apenas e somente angústia. Sob a violação dos sentidos meus, Amantíssima dádiva do entardecer, Suas idas e vindas são feito ondas, Que levam e trazem paixão e incerteza. Bem sei que certo dia você deixará de vir, E entenderei que terá ido para sempre. Mais que tudo entenderei O quanto você seguirá imprescindível Na lavratura da minha história particular. Terei vivo na memória que a tarde sem fim Eis que finalmente teve um fim, Como todos os grandes afetos, Que fazem a tarde sem fim fenecer, Mas perdurarão para sempre.
Epílogo de uma paixão
Cada dia mais me convenço Da crescente solidão, Que se agiganta em meu peito, Quando deita estúpida ao meu lado, Quando roça de frio A minha pele ávida, Quando cobre de cinzas O meu coração. A amargura me colhe o ventre E traz a sombra de um passado fantasma. Pés que levantaram a chama de uma paixão Apenas empoeiram a estrada, sem mais rumo. Mãos que tomaram em si As pétalas de licor de Eros, Aplaudem, agora, o epílogo do sonoro dramalhão. Caras, emoções, tempo perdido, Revivido no muro escorregadio da memória, Estas imagens, ora facas, ora unguentos. A agonia das chamas estaleja, Balbuciando o fim. Cruel solidão Que se me avizinha a alma.
Cada dia mais me convenço Da crescente solidão, Que se agiganta em meu peito, Quando deita estúpida ao meu lado, Quando roça de frio A minha pele ávida, Quando cobre de cinzas O meu coração. A amargura me colhe o ventre E traz a sombra de um passado fantasma. Pés que levantaram a chama de uma paixão Apenas empoeiram a estrada, sem mais rumo. Mãos que tomaram em si As pétalas de licor de Eros, Aplaudem, agora, o epílogo do sonoro dramalhão. Caras, emoções, tempo perdido, Revivido no muro escorregadio da memória, Estas imagens, ora facas, ora unguentos. A agonia das chamas estaleja, Balbuciando o fim. Cruel solidão Que se me avizinha a alma.
Um barco na tarde de Campina Grande
Se te fizesse uma poesia, Diria dos teus belos olhos Mas não diria de teu matiz íntimo (não o conheço) Apenas os admiro abertos e límpidos Não os conheço velados e profundos. Se te fizesse uma poesia Deitaria sobre tua alma meu ósculo Há lábios ali, bem o percebo Contudo, não percebo o caminho sob o túnel E tua voz escorre sobre as encostas E se perde nas sendas E ali me perco... Se te fizesse uma poesia, Diria também de mim: Estás um pouco cá dentro Porque tua profundeza tem o mistério De me fazer dançar a harmonia íntima E esta mística me perturba Trôpego que estou. Se te fizesse uma poesia, Diria, antes... Não diria Preciso, não seria Poema, já o és Resta-me declamar.
Se te fizesse uma poesia, Diria dos teus belos olhos Mas não diria de teu matiz íntimo (não o conheço) Apenas os admiro abertos e límpidos Não os conheço velados e profundos. Se te fizesse uma poesia Deitaria sobre tua alma meu ósculo Há lábios ali, bem o percebo Contudo, não percebo o caminho sob o túnel E tua voz escorre sobre as encostas E se perde nas sendas E ali me perco... Se te fizesse uma poesia, Diria também de mim: Estás um pouco cá dentro Porque tua profundeza tem o mistério De me fazer dançar a harmonia íntima E esta mística me perturba Trôpego que estou. Se te fizesse uma poesia, Diria, antes... Não diria Preciso, não seria Poema, já o és Resta-me declamar.
Tarde de 77
Há um corpo ardendo Talvez gritando - Tão perto que me contagia – Para que eu dormite em seu regaço Um frêmito esvoaça e envolve Numa aura de inquietação e desejo Um gemido, uma carícia Um borbulhar de sangue Os olhos que procuram mundos invisíveis Os cálidos contornos A aproximação latente e pulsante Murmúrios distantes O esmagar congruente A excitação que urge satisfação A erosão do poder O caminho sem retornos A dúvida! Por um momento, pensamentos incertos, entrecortados. Cai o mundo... Como se fosse pecar Tropeço nos sonhos Como pássaros noturnos Buscamos a escuridão Por que esse mundo calvo nos persegue Nos clareia as sombras Nos tenta o âmago Somos períscios. Ah! Mundo, que tens contra o amor? Teu pânico glacial é insídia Tu excitas, tu matas. Um desespero, um grito. És insípido. E, embora se desça fundo, Não haverá mais que lodo Não bastam tuas próprias marcas? Ah! Queres o caos? Ou a loucura? Tu mesmo? Deixa-me! Vai-te! Um delírio maravilhoso Me sacode e me faz rugir E me arrebata os esconsos d’alma Flutuam os sentidos ... Esquecidos A energia que une... Funde A insanidade ... doce Urros guturais Lá no mais íntimo, uma procissão Um frenesi trovejante Massas que se tangem Destilando o néctar O prazer... O limiar... O abismo... Como se fosse pecar!
Há um corpo ardendo Talvez gritando - Tão perto que me contagia – Para que eu dormite em seu regaço Um frêmito esvoaça e envolve Numa aura de inquietação e desejo Um gemido, uma carícia Um borbulhar de sangue Os olhos que procuram mundos invisíveis Os cálidos contornos A aproximação latente e pulsante Murmúrios distantes O esmagar congruente A excitação que urge satisfação A erosão do poder O caminho sem retornos A dúvida! Por um momento, pensamentos incertos, entrecortados. Cai o mundo... Como se fosse pecar Tropeço nos sonhos Como pássaros noturnos Buscamos a escuridão Por que esse mundo calvo nos persegue Nos clareia as sombras Nos tenta o âmago Somos períscios. Ah! Mundo, que tens contra o amor? Teu pânico glacial é insídia Tu excitas, tu matas. Um desespero, um grito. És insípido. E, embora se desça fundo, Não haverá mais que lodo Não bastam tuas próprias marcas? Ah! Queres o caos? Ou a loucura? Tu mesmo? Deixa-me! Vai-te! Um delírio maravilhoso Me sacode e me faz rugir E me arrebata os esconsos d’alma Flutuam os sentidos ... Esquecidos A energia que une... Funde A insanidade ... doce Urros guturais Lá no mais íntimo, uma procissão Um frenesi trovejante Massas que se tangem Destilando o néctar O prazer... O limiar... O abismo... Como se fosse pecar!
Poemas do livro Breves relatos da paixão, disponível na Livraria do Luiz.
"A perda do objeto amado leva ao vazio, ao sem-sentido para seguir vivendo. Assim, Hero decide morrer, inclusive, até simbolicamente, ao lado de Leandro, quando se joga da torre sobre seu corpo inerte. Da mesma forma, ocorre com a moira de Salúquia, para quem a vida perdeu todo o sentido. Encontrar a morte é como tentar encontrar o amado numa espécie de eternidade. Seguir adiante, sozinha, não seria mais possível. Há os casos da tragédia de uma paixão não correspondida, que é de certa forma uma perda também, na medida em que o objeto amado se torna inacessível, não pela morte, mas pela rejeição, o que talvez seja ainda mais doloroso." (Helder Moura)
"A perda do objeto amado leva ao vazio, ao sem-sentido para seguir vivendo. Assim, Hero decide morrer, inclusive, até simbolicamente, ao lado de Leandro, quando se joga da torre sobre seu corpo inerte. Da mesma forma, ocorre com a moira de Salúquia, para quem a vida perdeu todo o sentido. Encontrar a morte é como tentar encontrar o amado numa espécie de eternidade. Seguir adiante, sozinha, não seria mais possível. Há os casos da tragédia de uma paixão não correspondida, que é de certa forma uma perda também, na medida em que o objeto amado se torna inacessível, não pela morte, mas pela rejeição, o que talvez seja ainda mais doloroso." (Helder Moura)