Um verso só pode ser entendido de modo adequado, só tem seu sentido pleno na estrutura poética única, integral, a que pertence: ou seja: no poema. Citar versos isoladamente, deslocados de sua estrutura original, pode produzir uma mutilação, um empobrecimento, um desvio de sentido, levando, muitas vezes, a uma interpretação equivocada. Em alguns casos, há um desvio tão grande de sentido que a citação chega a ser um desrespeito ao autor do poema.
O hábito brasileiro do adágio, da frase feita, da frase de efeito resolveu incorporar a pobre poesia ao pacote de citações, e a presença de versos em todos os lugares, infelizmente, virou moda. A moda, que causa estragos em todos os
Clara Beatriz
Há versos de grande força expressiva, mas cuja qualidade só ganha relevo mesmo na estrofe ou no poema em que está inserido. Em geral, é o que acontece. Mas há versos que, mesmo destacados do poema a que pertencem, ainda que ultrajados como epígrafe de um TCC de Couros e Tanantes, ainda que gritados ou balbuciados por um bêbado no meio da rua, caem, por motivos às vezes inexplicáveis, no gosto popular porque produzem uma emoção especial (aquilo que Drummond chama de “arrepio verbal”) até mesmo num desafeto da poesia – e, é claro, cada um tem o arrepio verbal que merece. Uns, com Dante; outros, com J. E.
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“A mão que afaga é a mesma que apedreja.”
“Quem quer passar além do bojador, tem que passar além da dor.”
“O mito é o nada que é o tudo.”
“A dor das coisas que passaram.”
“Quem quer passar além do bojador, tem que passar além da dor.”
“O mito é o nada que é o tudo.”
“A dor das coisas que passaram.”
São versos que possuem grande força expressiva, mesmo deslocados do seu núcleo integral que é o poema, e, por isso, citados com relativa propriedade ou estropiados pelo contexto a que não pertencem, infelizmente tomam o rumo que o irresponsável usuário da língua resolve lhe dar.
Confesso que eu mesmo, quando jovem, mantinha centena de versos de plantão e, irresponsavelmente, mais de uma vez dissipei belos versos, citando-os fora do seu contexto originário. Nunca me esqueço de que certa vez, naquela época, após me fazer esperar para mostrar-se num streap-tease, a streaper perguntou-me: “Valeu a pena?” E eu que,
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