Só agora me dei conta: nasci exatamente três dias antes da fundação da Universidade da Paraíba, na qual, já federalizada, iria trabalh...

70 anos da UFPB, maior patrimônio público da Paraíba

Só agora me dei conta: nasci exatamente três dias antes da fundação da Universidade da Paraíba, na qual, já federalizada, iria trabalhar durante 37 anos, até me aposentar, em 2017. Posso dizer então que minha vida foi e continua sendo profundamente entrelaçada a essa instituição ímpar que mudou o destino do nosso estado e de sua gente. Somos agora septuagenários, com muita honra. Uma idade sinônima de plena maturidade, qualidade que certamente cabe mais a ela do que a mim.

70 anos universidade federal paraiba fundacao ufpb
José Américo de Almeida, principal idealizador e articulador político da criação da UFPB FCJA
A criação da Universidade da Paraíba foi, para mim, a maior obra de José Américo de Almeida. Não tivesse ele feito outra coisa em favor de sua terra e só isso bastaria para imortalizá-lo como um dos maiores paraibanos. Que visão de estadista teve ele ao decidir a unificação das diversas faculdades isoladas então existentes numa única instituição pública, sob o patrocínio do governo estadual e com o nome de uma das mais nobres entidades já criadas pelo homem: universidade. Visão de longo alcance. Visão para muito além dos muros baixos da aldeia. Ele que já tivera idêntica mirada ao conseguir com Getúlio Vargas, de quem era ministro, a fundação de outro marco paraibano e nordestino: a Escola de Agronomia, em Areia, até hoje um centro irradiador de saberes, de progresso e de promoção social.

Conta-se que o paraibano vivia insistindo com o presidente para que criasse essa Escola. Getúlio ia desconversando, talvez achando que não se justificava tamanho investimento numa terra então longínqua, no meio das serras brejeiras da Paraíba. Até que um dia, face a mais uma investida de José Américo, perguntou-lhe: “Ministro, diga-me uma coisa: para que o senhor quer tanto criar essa Escola de Agronomia em Areia?”. O paraibano respondeu-lhe na bucha: “Presidente, é para casar as moças de minha terra”. Getúlio deu uma de suas célebres gargalhadas e finalmente concordou com o pedido.

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Universidade Federal da Paraíba - Campus II - Areia UFPB / Gustavo Ribeiro
Com a Escola de Agronomia, José Américo conseguiu não só casar muitas de suas conterrâneas com alunos e professores da instituição, como também transformar a cidade brejeira e toda a região num polo educacional de imensa relevância para o desenvolvimento paraibano e nordestino. Já era a visão de estadista que o movia. E por isso ele faz jus ao reconhecimento da posteridade.

Mas a grande obra iniciada em 1955 só seria completada cinco depois, em 1960, com a federalização pelo presidente Juscelino Kubitscheck, a partir de gestões feitas pelo então deputado federal Abelardo Jurema. Tem a UFPB, portanto, três benfeitores: o governador e o deputado paraibanos, e o presidente mineiro. Sem eles, provavelmente a Paraíba teria demorado mais a ter a sua universidade federal, atrasando assim o desenvolvimento de seu povo.

70 anos universidade federal paraiba fundacao ufpb
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Ministro Abelardo Jurema e presidente Juscelino Kubitschek Arquivo Nacional
São setenta anos formando doutores, como se dizia ao tempo de sua criação. Profissionais que ficaram na terra, engrandecendo-a, e que partiram para outras plagas, também para engrandecê-las. Quanta gente não ascendeu socialmente graças aos estudos proporcionados pela universidade. Jovens de todas as origens igualando-se pelo mérito, numa das mais bonitas manifestações da democracia. Se antes poucos podiam sair da Paraíba para estudar fora, a partir de 1955 e de 1960, muitos, centenas, milhares se graduaram e se pós-graduaram aqui mesmo, numa instituição que começou chamada pelos preconceituosos de “universidade da caixa-prego”, para logo se tornar uma das mais respeitadas do país, posição que ocupa até hoje.

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UFPB - Campus Rio Tinto Gustavo Ribeiro
Sua história pode ser, em linhas gerais, dividida em duas fases: a da criação e consolidação, e a da expansão e interiorização. Graças ao empreendedorismo de seus reitores, a UFPB aos poucos abrangeu todo o estado, de João Pessoa a Cajazeiras, o que disseminou ainda mais o conhecimento e a profissionalização entre os paraibanos. Daí podermos afirmar que a universidade mudou a face da Paraíba, tirou-a do secular atraso, estimulando a urbanização generalizada, elevando o nível educacional e econômico da população e promovendo, pelo mérito, os segmentos menos favorecidos do povo. Uma verdadeira revolução silenciosa e pacífica. E que continua, como a obra em processo que é.

Costumo dizer que a Paraíba não possui refinaria de petróleo nem fábrica de automóvel. Nenhum órgão federal de porte, além da UFPB, está sediado aqui. O que nos resta então, como motor do nosso desenvolvimento? Respondo: os paraibanos, essa gente valorosa que já deu ao Brasil um Pedro Américo, um Augusto dos Anjos, um Epitácio, um José Américo, um José Lins do Rego, um Celso Furtado e um Ariano Suassuna, para citar só alguns gigantes que me vêm
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UFPB - Campus I - João Pessoa drive.ufpb.b
à mente nesta hora. E esses paraibanos continuam a brilhar, aqui e lá fora, com a ajuda inestimável da UFPB e de nossas outras universidades públicas, com destaque para a UFCG.

Temos, portanto, muito o que comemorar nestes setenta anos de luta e de crescimento. José Américo deu as raízes, outros têm dado as asas. O selo da imortalidade dependerá da cuidadosa manutenção do nível de qualidade que se espera de qualquer universidade. Nenhuma outra consideração que não o mérito poderá ser levada em conta em primeiro lugar. A credibilidade acadêmica reside primordialmente nisso. Daí ser imensa a responsabilidade de seus dirigentes – e também da comunidade universitária como um todo, aí incluídos funcionários e alunos. E num mundo em constantes mudanças tecnológicas e culturais, este é o grande desafio.

O prestígio de uma universidade, seja a de Bolonha ou uma novinha em folha, não é medido por sua antiguidade ou pelo número de alunos, e sim pela excelência de seu ensino e de suas pesquisas. Academia é sinônimo de saber. Que a nossa UFPB siga sempre nessa trilha virtuosa, para que, de fato, seja uma academia, no mais alto sentido da palavra, e não uma repartição pública, como outra qualquer.

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  1. Samuel Amaral22/12/25 10:16

    Parabéns, Gil! Parabéns à UFPB!
    Tenho muito orgulho de ter realizado minha graduação, meu mestrado e, agora, meu doutorado nesta Instituição. Tenho também o privilégio de, há nove anos, trabalhar nesta Casa, na qual minha mãe igualmente dedicou parte de sua trajetória profissional.
    Vida longa à UFPB e a você também, Gil!

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  2. Obrigado, Leo.

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  3. Obrigado, Samuel.

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