Só agora me dei conta: nasci exatamente três dias antes da fundação da Universidade da Paraíba, na qual, já federalizada, iria trabalhar durante 37 anos, até me aposentar, em 2017. Posso dizer então que minha vida foi e continua sendo profundamente entrelaçada a essa instituição ímpar que mudou o destino do nosso estado e de sua gente. Somos agora septuagenários, com muita honra. Uma idade sinônima de plena maturidade, qualidade que certamente cabe mais a ela do que a mim.
Conta-se que o paraibano vivia insistindo com o presidente para que criasse essa Escola. Getúlio ia desconversando, talvez achando que não se justificava tamanho investimento numa terra então longínqua, no meio das serras brejeiras da Paraíba. Até que um dia, face a mais uma investida de José Américo, perguntou-lhe: “Ministro, diga-me uma coisa: para que o senhor quer tanto criar essa Escola de Agronomia em Areia?”. O paraibano respondeu-lhe na bucha: “Presidente, é para casar as moças de minha terra”. Getúlio deu uma de suas célebres gargalhadas e finalmente concordou com o pedido.
Mas a grande obra iniciada em 1955 só seria completada cinco depois, em 1960, com a federalização pelo presidente Juscelino Kubitscheck, a partir de gestões feitas pelo então deputado federal Abelardo Jurema. Tem a UFPB, portanto, três benfeitores: o governador e o deputado paraibanos, e o presidente mineiro. Sem eles, provavelmente a Paraíba teria demorado mais a ter a sua universidade federal, atrasando assim o desenvolvimento de seu povo.
Ministro Abelardo Jurema e presidente Juscelino Kubitschek Arquivo Nacional
São setenta anos formando doutores, como se dizia ao tempo de sua criação. Profissionais que ficaram na terra, engrandecendo-a, e que partiram para outras plagas, também para engrandecê-las. Quanta gente não ascendeu socialmente graças aos estudos proporcionados pela universidade. Jovens de todas as origens igualando-se pelo mérito, numa das mais bonitas manifestações da democracia. Se antes poucos podiam sair da Paraíba para estudar fora, a partir de 1955 e de 1960, muitos, centenas, milhares se graduaram e se pós-graduaram aqui mesmo, numa instituição que começou chamada pelos preconceituosos de “universidade da caixa-prego”, para logo se tornar uma das mais respeitadas do país, posição que ocupa até hoje.
UFPB - Campus Rio Tinto Gustavo Ribeiro
Costumo dizer que a Paraíba não possui refinaria de petróleo nem fábrica de automóvel. Nenhum órgão federal de porte, além da UFPB, está sediado aqui. O que nos resta então, como motor do nosso desenvolvimento? Respondo: os paraibanos, essa gente valorosa que já deu ao Brasil um Pedro Américo, um Augusto dos Anjos, um Epitácio, um José Américo, um José Lins do Rego, um Celso Furtado e um Ariano Suassuna, para citar só alguns gigantes que me vêm
UFPB - Campus I - João Pessoa drive.ufpb.b
Temos, portanto, muito o que comemorar nestes setenta anos de luta e de crescimento. José Américo deu as raízes, outros têm dado as asas. O selo da imortalidade dependerá da cuidadosa manutenção do nível de qualidade que se espera de qualquer universidade. Nenhuma outra consideração que não o mérito poderá ser levada em conta em primeiro lugar. A credibilidade acadêmica reside primordialmente nisso. Daí ser imensa a responsabilidade de seus dirigentes – e também da comunidade universitária como um todo, aí incluídos funcionários e alunos. E num mundo em constantes mudanças tecnológicas e culturais, este é o grande desafio.
O prestígio de uma universidade, seja a de Bolonha ou uma novinha em folha, não é medido por sua antiguidade ou pelo número de alunos, e sim pela excelência de seu ensino e de suas pesquisas. Academia é sinônimo de saber. Que a nossa UFPB siga sempre nessa trilha virtuosa, para que, de fato, seja uma academia, no mais alto sentido da palavra, e não uma repartição pública, como outra qualquer.







































