Há mendigos que não estendem a mão nas esquinas, nem carregam embrulhos de roupas sujas. Sua fome não é de pão, mas de palavras; sua sede, de olhares que os reconheçam. São os mendigos emocionais, aqueles que vagueiam pelos corredores das relações com uma tigela invisível, pedindo migalhas de afeto.
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Eles não carregam cartazes, mas seus sinais são claros: a conversa que sempre retorna ao próprio umbigo, o ciúme disfarçado de cuidado, a necessidade de ocupar todos os espaços vazios com barulho ou presença. Sua tigela tem um fundo falso por mais que você deposite atenção, ela esvazia-se em minutos, exigindo mais.
Muitos de nós, em algum momento, fizemos fila com essa tigela. Às vezes, a solidão bate à porta, e saímos em busca de um pouco de calor humano. A diferença está no permanente, no ofício de mendicância afetiva transformado em identidade. O mendigo emocional profissionaliza a carência. Ele não compartilha; extrai. Não conversa; drena.
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Talvez a verdadeira esmola que precisamos aprender a dar, e a receber, não seja a migalha de atenção momentânea, mas a oferta de ferramentas para pescar. Um “como você está?” genuíno, que escute a resposta. Um silêncio que acolhe, não que foge. Um convite para que o outro se enxergue inteiro, e não apenas carente. Pois eventualmente somos autênticos quando corremos risco de vida, quando a morte espreita na porta a fitar nossos movimentos.
Afinal, todos temos fomes. A questão é: passamos a vida estendendo a tigela, ou aprendemos, aos poucos, a cozinhar nosso próprio banquete?
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A verdadeira abundância emocional começa quando paramos de estender a mão para o mundo em sinal de súplica e passamos a usá-la para construir, dentro de nós, um lar acolhedor. Só a partir desse lugar interno de segurança onde podemos nos relacionar de verdade, não para preencher um vazio, mas para compartilhar a nossa plenitude. Todos carregamos feridas, porém, em momentos de fragilidade, podemos agir a partir da carência. A diferença está em reconhecer esse estado e buscar a cura, em vez de perpetuá-lo. "Não queira o que a cabeça pensa, queira o que a alma deseja" (Belchior).


































