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Reconhecimento e gratidão são coisas que não podemos deixar para depois, mas acontece. E quando ocorre, aquele cantinho escuro, pouco ...

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Reconhecimento e gratidão são coisas que não podemos deixar para depois, mas acontece. E quando ocorre, aquele cantinho escuro, pouco visitado por nossos mais marcantes sentimentos, sejam eles de saudade ou de reconhecimento, fica condenado à aridez de um Saara.

Não podemos perder a oportunidade de um abraço, de um beijo, ou quem sabe de um simples olhar fazendo parceria com um sorriso transbordando de benquerença. Precisamos dessas coisas para não nos sentirmos indiferentes às mais básicas relações de uma humana convivência com aquelas pessoas, que por um motivo ou outro, marcaram nossas vidas com tintas de ternura.

Semana atrás me encontrei com Mirabeau Dias no escritório deste para uma despretensiosa sabatina, temas variados, mas sempre encostados...

Semana atrás me encontrei com Mirabeau Dias no escritório deste para uma despretensiosa sabatina, temas variados, mas sempre encostados na cultura e suas vertentes. Encontro que ele promove com amigos, gente da melhor qualidade, mas eventualmente abre uma exceção nesse quesito e num desses descuidos convidou-me para a prosa daquela manhã. Ao chegar lá estavam o Modesto, o Wilson, o Martinho, o próprio e João Batista . O tema da conversa não poderia ser outro: cinema. O João Batista que estava lá, era do de Brito, o que justificava a pauta.

A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. Vinícius de Moraes Aconteceu dia 17 deste mês de setemb...

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A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida.
Vinícius de Moraes
Aconteceu dia 17 deste mês de setembro. Não pude ir. Estava prontinho para pegar o rumo, mas compromissos não me permitiram dar uma chegada até a distante São José dos Campos e matar 53 anos de saudade.

Saudade no peito, É como fogo de monturo. Por fora tudo perfeito, Por dentro, fazendo furo. (Patativa do Assaré) ...

Saudade no peito, É como fogo de monturo. Por fora tudo perfeito, Por dentro, fazendo furo.
(Patativa do Assaré)

Domingo, como o que passou, para mim é uma tortura. Dia dos pais. Tempo de recolhimento, de introspecção, nada para comemorar. Fico aguardando os telefonemas dos filhos e netos distantes, esparramados nesse mundão de Deus. É o que traz um pouco de conforto e vem de bandeira branca pedindo para minhas saudades darem uma trégua. Ouvir suas vozes, mesmo que estejam afastados por muitas latitudes, traz-me aqueles hiatos de bem aventurança. Dura pouco, mas alivia.

Eis-me aqui presente depois de uma longa e exaustiva semana para deixar pública minha gratidão em relação à Sua Excelência, o Arcebi...

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Eis-me aqui presente depois de uma longa e exaustiva semana para deixar pública minha gratidão em relação à Sua Excelência, o Arcebispo da Paraíba. Quão nobre de sentimentos e também quão corajoso foi esse prelado (se é que assim a ele posso me ferir) em atender ao rogo daqueles que vivem sob o manto protetor de suas preces e bênçãos. Súplicas que chegavam eivadas de angustias e apreensões. Fiz-me à revelia, procurador dessa gente e daí minha ousadia em escrever uma carta, publicá-la em nossos veículos de comunicação e endereçada à nossa maior autoridade eclesiástica? Por quê? Vou explicar.

Excelentíssimo Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba. No trigésimo primeiro dia do sétimo mês, do segundo milés...

Excelentíssimo Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba.

No trigésimo primeiro dia do sétimo mês, do segundo milésimo e vigésimo segundo ano da Graça do Senhor, faço-me aqui respeitosamente presente para solicitar o que se segue:

Estou ocupando uma coluna deste poderoso rotativo para uma súplica junto a Vossa Excelência. Esclareço humildemente que me faço procurador de uma fatia considerável daquelas almas que estão sob a égide de nossa Arquidiocese. Sim; Excelência, estou aqui em nome desse rebanho numeroso que vê no destinatário desta missiva a autoridade máxima capaz de aplacar essa aflitiva perspectiva de uma ausência impensável no transcorrer dos dias quando festejamos o 437º aniversário de nossa Filipeia. Refiro-me ao tempo quando ocorre a Festa das Neves, que acontece no entorno da basílica de nossa padroeira.

Lá na Serra do Teixeira, cariri paraibano, está o palco dessa história, a cidade de Princesa Isabel, onde nos idos de 1930, o C...

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Lá na Serra do Teixeira, cariri paraibano, está o palco dessa história, a cidade de Princesa Isabel, onde nos idos de 1930, o Coronel José Pereira, chefão da política naquelas brenhas de mundo, como retaliação ao governo da província, diante de sua briga com o mandachuva João Pessoa, declarou que aquela localidade dali em diante iria ser “Território Livre de Princesa”. Princesa continuaria brasileira, mas apartada da Paraíba.

Quem seria tão impoluta figura? Temos primeiro que apresentá-lo para só depois irmos ao causo. Vamos lá. Embora houvesse se tornado um hom...

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Quem seria tão impoluta figura? Temos primeiro que apresentá-lo para só depois irmos ao causo. Vamos lá. Embora houvesse se tornado um homenzarrão alto e forte como um búfalo, por ser filho de um tal de Geraldo e xará do pai nos cartórios e na pia de batismo, natural que quando pequenino fosse tratado no diminutivo. Ficou sendo o Geraldinho e por força do hábito dos mais próximos, cresceu Geraldinho e Geraldinho ficou. O apodo fixado ao nome é fácil de explicar. Pensem um homem sossegado. Mais que Geraldinho? Impossível! Foi daí que veio o apelido. Diziam as más línguas que puséssemos Geraldinho tomando conta de dois jabutis, pelo menos um deles iria fugir. É essa a provável causa do apelido. Pelo menos é o que penso. Agora o causo.

Alguém sabe a diferença entre uma coisa e outra? Entre bolacha e biscoito? Não? Pois bem, a bolacha e o biscoito vão aparecer no fim deste...

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Alguém sabe a diferença entre uma coisa e outra? Entre bolacha e biscoito? Não? Pois bem, a bolacha e o biscoito vão aparecer no fim deste causo sem que desfaçamos esta dúvida. Mas primeiro tenho que apresentar ao dileto leitor e à querida leitora Zezinho Gafanhoto.

Dona Aparecidinha morava nos arredores num daqueles vilarejos com pose de cidade, um povoamento com menos de cinco mil almas. Vocês sabem...

Dona Aparecidinha morava nos arredores num daqueles vilarejos com pose de cidade, um povoamento com menos de cinco mil almas. Vocês sabem como são essas vilas que ganharam autonomia e já botam a maior banca por terem CEP, agência da Caixa, pracinha com coreto que serve de palanque em ano de eleição, Posto de Saúde, três ruas paralelas (uma que vai, outra que vem e a principal que faz as duas coisas) e como não podia faltar uma Delegacia de Polícia. Ia me esquecendo: uma Escola de Ensino Fundamental Fulano de Tal. E para por aí vai. Foi nessa localidade que se deu o causo. Mas para isso vamos falar um pouco de Dona Aparecidinha.

Moda é moda, mas há cada uma... Moda de andar com a calça jeans rasgada. Tem coisa mais ridícula? Só perde mesmo para a calça boca-de-sino...

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Moda é moda, mas há cada uma... Moda de andar com a calça jeans rasgada. Tem coisa mais ridícula? Só perde mesmo para a calça boca-de-sino lá nos anos 70 e que era acompanhada do sapato de salto carrapeta. Um horror! Nesse quesito moda, sou conservador. Por exemplo: gosto da tal da gravata, pois acho elegante e de bom tom usá-la. Sempre que posso, lá estou eu todo pimpão, devidamente engravatado. Mas para mim, o máximo da elegância são os suspensórios combinando com a gravata borboleta. Mas adulto, nunca os usei e nem usarei esses acessórios juntos ou separados. Invejo quem o faz e só não o faço por culpa de um irmão e de uma tia. Coisas de família, mas vou contar.

Não deve ser necessariamente um álbum, pode ser uma dessas caixas não muito grandes, de madeira ou de papelão, essas últimas, das que usam...

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Não deve ser necessariamente um álbum, pode ser uma dessas caixas não muito grandes, de madeira ou de papelão, essas últimas, das que usamos para proteger algum presente que pretendemos ofertar. Caixa de sapato já acho que não fica bem, pois o que vai dentro dessa arca improvisada merece nossa consideração e respeito. Estou falando do quê? Das fotografias, meus amigos, minhas amigas.

I Vai, vai, vai, começar a brincadeira, Tem charanga tocando a noite inteira. Vem, vem, ver o circo de verdade, Tem, tem, tem picadeiro ...

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I
Vai, vai, vai, começar a brincadeira, Tem charanga tocando a noite inteira. Vem, vem, ver o circo de verdade, Tem, tem, tem picadeiro e qualidade. (Sidney Miller )

Muito tempo faz que não sei de Nequinho. Nunca uma carta, um telegrama, uma notícia qualquer. Nada. Se eu soubesse alguma coisa do paradeiro dele, uma referência qualquer, iria procurar por ele, arrancar de dentro de mim esse pedido de perdão engasgado por quase trinta anos. Só queria que ele me escutasse, uma chance apenas para que eu pudesse pelo menos tentar explicar aquela decisão que transtornou irrecuperavelmente minha vida.

Eram três sítios, um pertinho do outro lá nas brenhas do mundo. Os proprietários, Zé Belarmino, Tião Frozino e Juca Damasceno eram amigos...

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Eram três sítios, um pertinho do outro lá nas brenhas do mundo. Os proprietários, Zé Belarmino, Tião Frozino e Juca Damasceno eram amigos, vizinhos e compadres. Ali na roça, distantes do que chamamos inapropriadamente de civilização, o que mais sabe se fazer é menino. Daí a prole grande nas três sitiocas. Nossos amigos aí de cima batizavam os filhos um do outro e as esposas, nessa ordem, Dona Noquinha, Dona Ester e Dona Tianinha eram, como não podia deixar de ser, comadres.

"E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido" (Chico Buarque) Eram amigos desde os ...

"E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido"
(Chico Buarque)

Eram amigos desde os tempos da bola de gude e de empinar pipa nos frios e ventos de julho. Regulavam de idade. Cresceram carne e unha, amigos inseparáveis. Escolheram ambos, profissão de pedreiro e eram respeitados no ofício. Sabiam assentar azulejos e imprimiam qualidade nos serviços, fossem dos mais triviais, como o assentamento de tijolos, aos mais sofisticados a exemplo dos acabamentos que exigissem caprichos e mãos hábeis. Para quem não sabe, assentar azulejo não é para pedreiro meia colher, exige competência no ofício. Uns danados, Tonho e Juca.

Para Silvana Romani, que perdeu Sinhá O atento leitor e a cautelosa leitora já devem estar se perguntando: Quem será esse déspota que e...

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Para Silvana Romani, que perdeu Sinhá

O atento leitor e a cautelosa leitora já devem estar se perguntando: Quem será esse déspota que está sendo chamado de adorável? Existiria alguém, algum ditador, que poderia ser agraciado com tão mimoso adjetivo?

Poderia, não! Pode! Vou contar quem é. O nome dele é Fred. Fred do quê? De onde? Irão me perguntar. Vou ter que contar. Fred é para mim apenas Fred, um cão que compartilha o mesmo endereço que eu. Assim, já está respondido, o “do quê” e o “de onde”. Vamos então, às demais considerações.

Frades me remetem a uma lembrança de tempos bem distantes, lá nos meus verdes anos, quando assisti ao filme “Marcelino Pão e Vinho”. A...

Frades me remetem a uma lembrança de tempos bem distantes, lá nos meus verdes anos, quando assisti ao filme “Marcelino Pão e Vinho”. Aquelas figuras gentis que acolheram um garoto órfão, despertam, sempre que me lembro deles, uma sensação de benquerença. Essa película tem um grande poder sobre as fraqueza que me habitam. Marcelino nada mais era do que uma lenda.

Os causos que vez ou outra publico nesta coluna não são invencionices ou frutos de minhas maldades. Chegam-me por “ouvi dizer” e nem posso...

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Os causos que vez ou outra publico nesta coluna não são invencionices ou frutos de minhas maldades. Chegam-me por “ouvi dizer” e nem posso declinar a autoria porque já percorreram tantas bocas e orelhas que não sei há quanto tempo habitam o imaginário de nossa gente. Fazem-me pensar um pouquinho até nos heróis de Homero que ganharam o mundo através da oralidade e assim seus feitos atravessaram gerações.

É assim mesmo, para certas situações não há explicação. Por mais que tenhamos razão, de nada adiantará nossas justificativas, pois as evi...

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É assim mesmo, para certas situações não há explicação. Por mais que tenhamos razão, de nada adiantará nossas justificativas, pois as evidências estão contra nós, muito embora a verdade possa estar do nosso lado. Como no ‘causo’ que vou contar. Antes devo esclarecer que o enredo não é da minha lavra. Ouvi a trama nessas conversas com meus amigos de mesa e de copo. Aqui só dei, ao meu modo, uma temperada no mexerico que escutei dessa gente que anda encangada comigo pelos botequins da vida. Vou contar.

Самoвар и балалайка A leitura dos clássicos russos da segunda metade século XIX e os mais recentes do século passado, como Boris Pastern...

Самoвар и балалайка

A leitura dos clássicos russos da segunda metade século XIX e os mais recentes do século passado, como Boris Pasternak e Alexander Soljenítsin, aproximaram-me muito da cultura russa, de seus modos e costumes. Um povo ímpar, com um jeito muito particular de ser. Percebo-os como gente que tem a sensibilidade à flor da pele, com a arte no sangue e dessas e outras manifestações, a música, a dança e a literatura são fáceis de serem notadas. Citaria para início de conversa os compositores Prokofiev, Tchaikovsky, os balirinos Rudolf Nureyev, Mikhail Baryshnikov, a bailarina Natalia Makarova e o Ballet Bolshoi. Estão aí para dizerem que não minto. Isso sem falar nos escritores, que qualquer brasileiro que goste de literatura; ou leu, ou deles já ouviu dizer algures.