Q ue história é esta, cronista? Onde você soube disso? Quem descobriu essa luz? É verdade que Jesus disse, certa vez, aos seus discípulos ”B...

Que história é esta, cronista? Onde você soube disso? Quem descobriu essa luz? É verdade que Jesus disse, certa vez, aos seus discípulos ”Brilhe a vossa luz!” Disse mais o mestre: “Não esconda a lâmpada debaixo do alqueire, mas no velador, para que a luz ilumine a todos".

Viva, portanto, a luz, seja do vagalume seja do sol. Luz é alegria. Diz a Bíblia que a primeira coisa que Deus disse ao criar o mundo foi: ”Faça-se a luz”.

E chega-nos esta indagação: qual das curas de Jesus a mais importante? Dar locomoção aos paralíticos, limpeza aos leprosos, voz aos mudos? Eu acho que foi dar luz aos cegos. Imagine-se na escuridão, num mundo cheio de belezas para ver

Goethe, já moribundo, a vista enfraquecida, pediu: ”Luz, mais luz!”. Já imaginaram um mundo sem luz? Mas Deus é tão bom que, todos os dias, acende a luz do sol para nós, sem que paguemos um centavo. Aliás, tudo que Deus nos dá é de graça, a começar pelo nosso maior alimento que é o oxigênio que respiramos sem nos lembrarmos disso.

Voltemos à luz. O genial Einstein recebeu o Prêmio Nobel pela tese da “quantização da luz” e não pela “Teoria da relatividade”, como muita gente talvez pense.

De uma coisa, porém, eu não sabia. Não sabia que dentro do nosso corpo, desse magnífico cosmo, existe luz. Mas como pode ser isso? Não, não sou eu que estou afirmando tal verdade, e, sim, o genial filósofo francês Descartes, conhecidíssimo pelo seu Discurso do Método”, que tanto disciplinou o nosso comportamento. Dele é aquela profunda reflexão, tão vulgarizada “Penso, logo existo”. E ninguém pensou mais do que o filósofo francês, que nunca conheceu as manhãs, pois acordava ao meio dia. E haja pensamento naquela cachola erudita, e tanta gente por aí preocupada mais com a distração do que com a reflexão.

Aqui para nós, certamente Descartes gostaria muito de haver conhecido o escultor Rodin, autor do conhecidíssimo “O Pensador”.

Mas o que tem o filósofo a ver com luz? Ora, ele descobriu que há dentro de nós uma glândula iluminada e que esta luz provava a existência de Deus. Os céticos não gostaram, tanto é assim que poucos se referem a essa afirmação do filósofo. Lembrar que Descartes tinha sonhos fantásticos. Sonhou, certa vez, com a visão matemática do Universo, sem esquecer que ele era um grande matemático.

Eu fico pensando, ah se o nosso pensador lesse a obra de André Luiz, psicografada pelo grande Chico Xavier, que no livro “Missionários da Luz” fala com muita clareza sobre uma glândula que fica na base do cérebro, chamada epífise, que brilha que é uma beleza. A glândula minúscula, também chamada pineal – acentua o autor - transforma-se em núcleo radiante e, em derredor, seus raios formavam um lótus de pétalas sublimes”.

Agora é o caso de dizer, procuremos iluminar as nossas mentes. Jesus tinha razão quando recomendou: “brilhe a vossa luz. ”
Lembremos que o Mestre, certa vez, realizou uma reunião mediúnica, no Monte Tabor, quando então se transformou em luz. Uma luz tão intensa como aquela que fez Paulo de Tarso cegar, na estrada de Damasco.

E is aí os limites aquáticos de nossa bela capital, que nasceu à beira de um rio, o rio Sanhauá, afluente do Paraíba. Nascida, a cidade-cria...

Eis aí os limites aquáticos de nossa bela capital, que nasceu à beira de um rio, o rio Sanhauá, afluente do Paraíba. Nascida, a cidade-criança começou subindo, ou melhor, engatinhando pelas ladeiras, até que encontrou a lagoa, lá no centro, com seus pés de acácia, seus paus-brasil, seus flamboyants e palmeiras. A cidade, vinda do rio, repousou um pouco à beira da lagoa, seu espelho aquático.

Mas o tempo não pára. A cidade teve de acompanhar a sua marcha, derrubando árvores, a golpe de machado, e casas, até chegar ao mar, o mar de Tambaú. E o Cabo Branco, lá no alto, parecia querer indicar que, ali, o sol nasce primeiro. Mas a cidade não desejou subir o Planalto. Fico, por alguns tempos, cá embaixo, que o mar era uma beleza.

E para se chegar até a praia de Tambaú, cadê transporte? Muita gente se valeu dos pés. Depois apareceu o automóvel. Mas automóvel era transporte de rico. O povo ainda não tinha acesso ao mar de Tambaú. Só as famílias abastadas podiam desfrutar as delícias da praia. E assim, todo fim de ano, havia uma verdadeira correria para o mar de Tambaú. Para o chamado veraneio. O povo ainda estava se contentava com a Lagoa. Praia de Tambaú só depois de muito tempo.

O tempo, porém, foi passando. E eis a praia, agora, à disposição de todos. Tornou-se atração turística. Cidade Baixa já era, com suas ladeiras, com sua história, que não atraem turista. Este só quer ir para a praia, a praia de Tambaú, onde há barracas para comer, para beber, para esquecer a vida. Ninguém deseja sair de perto do mar, onde se toma banho, seja de água, seja de sol. Os nossos visitadores ignoram, completamente, a outra parte da cidade, o sítio histórioc. O rio Sanhauá também não os atrai, a Lagoa muito menos.

Mas a capital das acácias não ficou apenas na praia. Resolveu subir o Planalto do Cabo Branco, onde o sol nasce primeiro e onde há a Estação Ciência, projeto do maior arquiteto do Brasil, o famoso Niemeyer, e outras atrações turísticas. E tudo leva a crer que cada vez mais a capital se distanciará de suas nascentes. Nada da Cidade Baixa, nada do Rio Sanhauá, completamente abandonado, nada de Lagoa, por mais bela que seja.

Eis aí um problema de difícil solução. Sim, existe o Jardim Botânico, mas quem danado vai visitá-lo, ainda mais fechado nos fins de semana? A Capital, hoje, nada mais é do que uma ladeira que começa no Sanhauá e desemboca no mar. E daí para o Planalto...

O turismo ficou na periferia. Que fazer? Como atrair o turista para o centro da Capital? Eis a questão. Nem que se promovesse, ali, espetáculos de striptease. O mar de Tambaú, ou outros mares da nossa orla, são nossas maiores atrações. E há até praia de nudismo, ora vejam só...

O que o turista gosta mesmo é espreguiçar-se à beira-mar, comer naquelas barracas, passear na calçada, beber água de coco, comprar artesanatos da terra e esquecer, se for paulista, sua cidade sem mar e de muita poluição, tão bem decantada por Caetano Veloso...

N ão esteja sempre saindo de si. Nunca deixe a sua vida interior vazia. Quem deu muita ênfase à vida interior não podia ser outro. E sei que...

Não esteja sempre saindo de si. Nunca deixe a sua vida interior vazia. Quem deu muita ênfase à vida interior não podia ser outro. E sei que você já está respondendo: “Sócrates”. Sim, foi o Mestre de Atenas que nos convidou a penetrar no templo sagrado da nossa vida interior. Mas antes do mestre, já existia no Oráculo de Delfos a seguinte inscrição “Nosce Te Ipsvm” - Conhece-te a ti mesmo.

Pobre é aquele que vive mais pra fora do que pra dentro. Que vive mais para a distração do que para a reflexão. E Jesus nos aconselhou fechar-nos num quarto, toda vez que fôssemos orar. Ora, o quarto é a nossa consciência.
Informam que quando a gente morre, o primeiro encontro é com nossa consciência. Ela é quem vai nos julgar. Seremos, então, juízes de nós mesmos. Que momento dramático!

Há muita gente saindo de si mesmo à procura da distração. E há tanta coisa para a gente se distrair... O barulho, a conversa alta, a bebida alcoólica, os amigos, a comida, o celular... Saem de seus apartamentos como quem sai de uma prisão, uma prisão de não sei quantos andares. Há gente que nem gosta de sua própria casa...

Daqui onde estou, avisto um gigantesco edifício de não sei quantos andares. Noto que todas as janelas estão fechadas. Nenhuma pessoa para estender seu olhar para fora. O jeito é entrar no elevador e sair, ou melhor, fugir dali.

Nunca houve em tempo algum tanta fuga de si mesmo. Para isso não faltam o televisor, o aipode, o restaurante, a Internet, a nova tecnologia, as festas populares, enfim, tudo que nos faz esquecer a nós mesmos.

Elevo meu olhar até o edifício à minha frente, e noto que apenas no estreito terraço de um deles há uma palmeira. É alguém com saudade da Natureza que ficou lá embaixo.

E eu quero, antes de pingar o ponto final, lembrar esta conclusão de Frederic Renoir, um de meus mestres: “o que faz o homem feliz é a conscientização do sentido da existência”. Mas para isso é preciso, ao invés de sair de si, encontrar-se consigo mesmo.

À s vezes vem aquela vontade de dormir por muito tempo, como se estivesse morto. E viva o sono, que parece muito com uma suave morte. Um hom...

Às vezes vem aquela vontade de dormir por muito tempo, como se estivesse morto. E viva o sono, que parece muito com uma suave morte. Um homem dormindo é um morto que respira. Já imaginaram um dinâmico empresário, que não tem tempo nem para respirar, de olhos fechados, numa cama?

O sono foi uma amostra grátis que Deus nos deu da morte... E se o dorminhoco é daqueles que ronca? Aí a coisa se complica... Aliás, conta-se que um sargento roncava muito e a mulher já não aguentava mais. Até que uma amiga, que também era casada com militar, perguntou à esposa do roncador: “de que lado seu marido ronca?” E ela respondeu: “pela direita". A outra disse “não há problema, basta você dizer “esquerda volver” e pronto”. Valeu a receita.

O sono é melhor coisa do mundo, sobretudo se for com sonho, que faz a gente acordar alegre. Graças a Deus eu durmo como uma pedra. E tenho sonhos maravilhosos. Viva a sonoterapia.

Voltando ao que disse, eu gostaria mesmo era de ter um longo sono até que acabasse essa Copa que vem por aí. Sim, infelizmente, não estou com nenhum apetite para o grande e emocionante acontecimento esportivo. Pensei ainda em passar um tempo no Amazonas, bem longe de tudo. Mas será que não tem lá algum caboclo de rádio ligado?

Se isso que está acontecendo comigo é velhice, bendita a velhice, que nada mais é do que sinônimo de sabedoria, experiência vivida.

A Copa vem aí. E haja copo, haja bebedeira. Muito cuidado com o trânsito após um jogo. Não faltará gente embriagada, sobretudo se o Brasil ganhar... Não faltarão psicopatas. Psicopata é o sujeito doido por Copa.

Mas por que diabo não estou ansioso pela Copa? Sei lá... Acho que devo ir a um psiquiatra. Esse meu indiferentismo não é normal. É preciso lembrar que o povo precisa se divertir. É na diversão, por conseguinte, na distração que ele esquece muita coisa ruim da política...

E sabe o que eu gostaria de assistir, agora? Uma Copa de Xadrez, o esporte da inteligência, da reflexão, e que exige silêncio. O danado é que nunca tive jeito para xadrez. Eis uma de minhas frustrações.
Mas o bom mesmo é um sono tranquilo e gostoso. Viva a sonoterapia!

“O homem é Pedro”. Sim, este foi o “slogan” da vibrante campanha eleitoral que levou Pedro Gondim ao Palácio da Redenção, por conseguinte a...

“O homem é Pedro”. Sim, este foi o “slogan” da vibrante campanha eleitoral que levou Pedro Gondim ao Palácio da Redenção, por conseguinte ao governo do nosso Estado. Nenhuma campanha antes excedeu esta, em entusiasmo, em exaltação popular, em loucura mesmo. E vinha a indagação: “Está com Pedro ou está com medo?” A resposta tinha de ser: “Não, estou com Pedro”.

Moço, bonito, inteligente, de uma irradiante simpatia, a verdade é que o meu conterrâneo de Alagoa Nova, Pedro Gondim, honrou o mandato que o povo lhe confiou. Se teve defeitos, quem não os tem?

A verdade é que ele foi eleito. O homem era Pedro, mesmo. Pedro que lembra pedra. Não sou político. Não participei de sua campanha. Fiquei no meu canto. Mas não é que o meu amigo e conterrâneo achou de me convocar para o seu governo... Fui convidado pelas mãos do elegante Chefe da Casa Civil Edigardo Soares, para assumir a subchefia daquele importante cargo.
Não tive como recusar tão importante comenda. Conquanto, essencialmente, apolítico, eis-me num setor, visceralmente político. Comoveu-me aquela honrosa distinção, que implicava numa grande responsabilidade.

Tudo ia muito bem quando o governador achou de me convidar para a primeira incumbência de seu governo: participar da mesa de julgamento de um concurso de misses em Campina Grande. Fomos eu e minha primeira esposa Carmen. Missão difícil, porquanto as garotas eram lindas...

Mas depois dessa primeira incumbência, no novo governo, participei com muito entusiasmo em todos os empreendimentos culturais, lembrando que o dinâmico governador foi um grande incentivador das artes. O centenário do ex-presidente Epitácio Pessoa foi brilhantemente comemorado, resultando na inauguração da Cripta em sua homenagem existente no nosso Tribunal de Justiça. Não esquecer que foi o governador Pedro Gondim quem proporcionou a filmagem de “Menino de Engenho”, do nosso José Lins do Rego, que redundou num grande sucesso.

Não esquecer também que o Plano de Extensão Cultural de seu governo teve a melhor repercussão. Foi com muito orgulho, o bom orgulho, que dei o meu suor aos empreendimentos culturais do Governo, destacando a colaboração de Itapuan Botto, chefe do Cerimonial da Casa Civil, hoje imortal da nossa Academia de Letras, elegante, educado, um verdadeiro diplomata.

Pedro Gondim, poucos sabem, era poeta. Muitos de seus poemas eram voltados para justiça social. Ele era um homem boníssimo que não sabia odiar. Para o seu trabalho de chefe de governo contou com a ajuda de sua esposa Sílvia, que ele chamava, carinhosamente, Silvinha. Um bom e carinhoso pai de família.

Pedro Gondim... A primeira vez que eu o ouvi foi numa palestra que ele pronunciava na Associação Comercial, lá no Varadouro. Elegante, simpático, fluente, sua palavra muito me impressionou. Depois o vi como deputado. Um homem sem abordagem difícil. Simples, otimista, ativo. Não me esqueço de sua presença no sepultamento do corpo de meu pai, lá no Cemitério da Boa Sentença... Quando terminei de falar, dizendo “até logo meu pai”, ele veio ao meu encontro, com lágrimas nos olhos, dizendo: “que comovente e cheia de fé a sua despedida”...

U m padre entra num banco e intromete-se numa fila. Mas ele não usa as pernas, pois está sentado numa cadeira de rodas. Mais ainda: quem emp...

Um padre entra num banco e intromete-se numa fila. Mas ele não usa as pernas, pois está sentado numa cadeira de rodas. Mais ainda: quem empurra o veículo é um empregado de seu instituto. O padre é gordo, a batina um pouco surrada, e transmite uma paz com sua presença humilde.

Por que esse sacerdote entrou num estabelecimento bancário? Para depositar dinheiro ou retirá-lo? Nada disso. Ele está ali para pedir esmola. Esmola não para ele, mas para os outros, isto é, para os seus pobres, que são muitos. Mais ainda: ele, como já disse, mantém um instituto, onde os jovens daquele tempo iam aprender datilografia. Datilografia que hoje se aplica no computador.

Mas voltemos ao padre. Sabe como ele pede esmola? Cutucando as pessoas pelas costas com uma varinha. A pessoa se vira, meio assustada e ele pede: “um dinheirinho para os meus pobres". Difícil negar o seu pedido, pedido tão humilde e que chega a comover. Ora, tanta gente preocupada com os seus negócios, e aquele, esquecido de si mesmo, rogando ao auxilio para os outros, para os mais carentes.

Seu nome, tenho certeza que o leitor já sacou, se for de certa idade. Estou aludindo ao padre Zé Coutinho, o extraordinário Padre Zé, que levou toda existência a serviço dos mais desfavorecidos da vida. Um homem que se fez mendigo para ajudar aos outros. Conheci esse divino sacerdote. Ele foi colega do meu pai, quando ambos eram seminaristas. Meu pai o admirava muito. Quase sempre, quando se encontravam, o padre Zé Coutinho ia logo perguntando: ”Como vai o teu Espiritismo, Zé?" ”Sim, ambos se conheceram no Seminário, ali no Convento São Francisco.

Padre Zé Coutinho só tinha uma religião: a religião do amor. E Jesus identificou seus discípulos por muito se amarem.
Eu gostava dele e ele de mim. Lia e comentava minhas crônicas no jornal A União. Mantinha um programa na Rádio Tabajara e escrevia neste jornal.

Nunca soube enriquecer. Tirou muito dinheiro dos ricos para dar aos menos favorecidos. Costumava chamar a gente de “prezado”.
No cemitério da Boa Sentença tem uma escultura em sua homenagem. Gostaria que erguessem uma estátua ou um busto, na chamada Praça do Bispo, onde funciona ou funcionava o seu instituto. Padre Zé Coutinho! Um autêntico missionário. Não há coisa mais difícil no mundo de que “amar aos outros como a nós mesmos”. Uma receita nada fácil de ser cumprida. Mas o padre Zé cumpriu-a. Como cumpriram Chico Xavier, Maria Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Albert Shweitzer, Gandhi, Francisco de Assis...

No exercício da caridade usou os pés até quanto pôde. Estou ouvindo, agora mesmo, a sua voz: “Um dinheirinho para os pobres, prezado”. Era difícil ficar indiferente a essa rogativa... E eu fico a imaginar o Padre Zé voltando para casa levando a paz dentro de si. A paz que vem da consciência do dever cumprido.

O avião ia sereno, acima das nuvens, a caminho de Lisboa. Mas o avião, tinha vez, que parecia dormir. Dormir ou sonhar. E eu me vendo na p...

O avião ia sereno, acima das nuvens, a caminho de Lisboa. Mas o avião, tinha vez, que parecia dormir. Dormir ou sonhar. E eu me vendo na pessoa do comandante, lá na cabine. Que responsabilidade a desse profissional, na direção da aeronave. E fico pensando: em que estará pensando o comandante?

Agora a aeronave, carregando mais de duzentas pessoas – imagino - começa a tremer. Será de frio ou de medo? Ah, já sei, são as nuvens nas quais ele vai tropeçando.

Da janela avisto um mar de nuvens que me lembram grandes rebanhos. Nuvens branquinhas e serenas. E eu vejo, nessa altura, que não somos nada... Que a nossa vida está por um fio. Ora, ora, e quando é que a nossa vida não está por um fio? Quando é que nossa vida está segura? A qualquer momento...

Deixemos as divagações filosóficas. Façamos como os demais passageiros: uns dormindo, outros lendo e a maioria com o olho pregado na tela do monitor à sua frente. Eu prefiro pensar. Não é, meu mestre Descartes? O teu “penso, logo existo” foi a maior descoberta de todos os tempos.

Estamos vindo de Paris a caminho de Lisboa. E em Lisboa, estou em casa. E eis que a minha boca já se enche d'água: é a lembrança do gostoso e inigualável bacalhau português.

Que silêncio!... O avião está descendo. É o momento da aterrissagem, que o português chama de aterragem. Dizem que este é o momento, tanto quanto a decolagem, é o mais difícil para a aeronave. Muita gente com o coração na mão. E haja tremedeira. Minha neta Raíssa disse que a melhor parte da viagem aérea é a turbulência. Ela adora essas quedas no vácuo.

Os passageiros só fazem respirar. Lisboa já está perto dos nossos pés. E eis que a aeronave já está deslizando no asfalto. Agora é aguardar o momento de retirar as bagagens de mão... Bagagem rima com viagem, viagem com a aterrissagem. Afinal a vida não deixa de ser uma viagem...

E viva a vida!

A deus é uma palavra que não dá esperança e a vida vive de esperança. Mais do que de esperança. A vida vive de fé. Quando esta enfraquece, s...

Adeus é uma palavra que não dá esperança e a vida vive de esperança. Mais do que de esperança. A vida vive de fé. Quando esta enfraquece, surge o desânimo. E o desânimo leva à depressão, a doença da moda.

Continuemos: a vida é, sobretudo, um ato de fé. A começar pelo nosso corpo, uma verdadeira e magnífica oficina. Todos os órgãos exercendo suas funções, em silêncio. Respiram os pulmões, bate o coração, corre o sangue, num silêncio e disciplina admiráveis.
Quando uma pessoa perde a fé, suicida-se. E o suicídio é a busca do nada, sobretudo se o suicida pensa que tudo se acaba no túmulo e não acredita em outra vida.

Toda a natureza entoa um hino silencioso de fé. As árvores com os seus frutos, as plantas com suas flores, os rios, o mar, as nuvens, os pássaros, todos saúdam a vida. E as humildes, anônimas e invisíveis raízes, que sustentam as árvores, quanta fé elas demonstram. Fé e humildade. Ninguém ainda se lembrou de enfeitar uma mesa com raízes. Elas são feias...

A vida é a maior demonstração de fé, de confiança, de otimismo. Só os suicidas é que são dominados pelo desânimo.
Palavra, no nosso vernáculo, de apenas duas letras, a fé comparou Jesus a uma semente de mostarda. E esta semente seria capaz de derrubar uma montanha. Que beleza!

Foi o Mestre que, em certa manhã, achou de sair caminhando sobre as águas. Para não caminhar sozinho, convidou Pedro para acompanhá-lo. O apóstolo se dispôs a ir. Mal começou a caminhar, quando veio o vento. Assombrado, ele ia se afundando, quando Jesus o salvou, dizendo: “Ah homem de pouca fé. ”

Não façamos como Pedro. Diante de Jesus, jamais pense em se afundar. Tenha sempre fé. Tanto é assim que você está sempre dizendo: “Até amanhã”, “até logo”, “amanhã, estarei lá”.
Portanto, nunca diga adeus. Lembre-se de que há sempre uma madrugada atrás do crepúsculo.

Fé alimento, fé remédio. Foi com a fé que Jesus curou muita gente. Cuidado, portanto, com o desânimo, o pessimismo, a descrença. E nunca diga adeus...

S im, se não fosse o vento, que seria da vida? O vento é que anima tudo. Vento parado, cognominado de calmaria, foi o grande medo dos nossos...

Sim, se não fosse o vento, que seria da vida? O vento é que anima tudo. Vento parado, cognominado de calmaria, foi o grande medo dos nossos descobridores. Graças ao vento, empurrando as nossas caravelas, é que descobriram as Américas.

O vento é um grande símbolo do otimismo, da alegria, de esperança, de fé na vida. Mesmo quando ele se transforma em furacão, é bem-vindo. Há necessidade, às vezes, de uma varredura, de uma lavagem na atmosfera. O Deus-natureza sabe muito bem o que faz.

Foi do medo de um furacão que, certa vez, os apóstolos se assombraram, temendo um naufrágio. Mas o Mestre estava atento e pediu que todos ficassem tranquilos, e tudo terminou bem. Não devemos esquecer que o medo é o avesso da fé.

Como eu disse, no inicio da crônica, se não fosse o vento, tudo estaria paralisado. As árvores, o mar, os rios, as nuvens, a própria vida. Quando respiramos, estamos trazendo o oxigênio para a nossa vida. E nunca temos consciência desse ato tão importante. O oxigênio, o maior alimento, que Deus nos deu, gratuitamente. Alimento sem sabor, mas de muito sabor, até rimou.

Se não fosse o vento, teríamos a morte ao invés da vida. A criança recém-nascida, quando recebe o primeiro ar pelas narinas, chora pelo impacto do primeiro ar que inspira. Os pulmõezinhos ainda não estão acostumados com tanto oxigênio.

Já imaginaram todas as árvores do mundo paradas que nem estátuas? Seria uma desolação total. As árvores dançam com o vento, sorriem com o vento, se cumprimentam com o vento. Ah, os cataventos! Pessoas sem ânimo, sem sorriso, pessimistas são como árvores paradas, sem vento.

E é o vento que limpa a calçada, onde as árvores, a exemplo das castanholas, jogam as folhas secas no chão, num exemplo de renovação e fé na vida.

O tempo é uma espécie de vento. Quanta coisa eles nos leva. E viva a calmaria para a reflexão e a tempestade para a nossa evolução.

Repitamos: Ah se não fosse o vento...

A h, foram muitas! Histórias de excitarem a imaginação do caçula. Seja na saúde, seja na asma, ela quebrava o silêncio do sítio com a sua vo...

Ah, foram muitas! Histórias de excitarem a imaginação do caçula. Seja na saúde, seja na asma, ela quebrava o silêncio do sítio com a sua voz terna e suave. Nunca deixei de ir para o leito, dormir, que não fosse com a cabeça excitada pelas histórias que ela narrava. Histórias de fadas, bichos que falavam de bruxas horrorosas, mistérios. Não sei onde ela foi aprender tanta coisa, pois era funcionária federal, concursada, com grande parte do tempo fora do lar.

Além dessas histórias de fadas e bruxas, vez por outra, vinha com uma leitura mais séria. Narrou-me trechos do “Menino de Engenho” do nosso José Lins do Rego, depois veio com “Doidinho” e assim por diante. E como sabia interpretar os personagens das histórias que contava! Imitava a voz de uma bruxa, de um animal de uma Branca de Neves, e até de uma sereia.

Mas, uma vez, ela me surpreendeu com uma leitura séria, cientifica, sobre a importância da alimentação, dos cuidados com o corpo, do perigo do fumo.

Lembro da história de um homem ignorante, do bicho Tiemunzenga, que morava no sítio do diabo. Só o nome dá para assustar. A história mais dramática era a da velha feiticeira, que terminou sendo queimada pelos netos. As chamas devorando-lhe a carne, e a feiticeira gritando: "Água, meus netinhos". E estes, sorrindo, só faziam dizer: "Azeite, senhora vó”.

Havia também aquela história de João e Maria, que saíram para a floresta, jogando milhos no chão, a fim de acertarem o caminho de volta. Mas chegaram os passarinhos e comeram o milho... Perdidos, os meninos choravam. E o choro chegou também aos nossos olhos. Mas, no final da história, minha mãe, sorrindo, nos consolava: “É tudo mentira”. E vinha aquela reiterada recomendação: "Vão rezar e dormir.”.

E aquela história de um menino que não queria estudar e terminou na miséria? Esta arrancou lágrimas da gente. Ao mesmo tempo serviu de advertência aos que não estudam, que não leem livros. Por fim, a bela história de Branca de Neve e os 7 anões, que muito nos comoveu.

Como minha mãe sabia interpretar os personagens das histórias que narrava!... E o bom mesmo era quando eu adoecia com asma, doença que tanto me torturou. Ela passava horas e horas comigo, na cama, eu ardendo de febre e respirando com muita dificuldade. Tanto era o carinho materno, que eu cheguei a gostar da doença...

Minha mãe era assim. Uma mulher extraordinária. Trabalhadora, otimista, corajosa, inteligente e culta. E muito bonita, mesmo com a idade avançada. Como já disse, ela cuidava muito da aparência. E dizia que deveríamos, vez por outra, dar uma olhadela no espelho, que não mente.

Morreu dormindo. Decerto, despertou para a vida espiritual com aquele seu habitual sorriso de ternura e de otimismo.
Dona Pia, Maria Pia, dona Piinha para os íntimos. Das frutas, a que mais apreciava era a pinha. E dizia, sorrindo, “gosto desta fruta não só pelo sabor, mas também por ter o meu nome”...

A esta altura já devem estar indagando: “e seu pai?” Meu pai, José Augusto Romero, de quem já falei em crônicas anteriores, se harmonizou muito bem com a esposa, inobstante a diferença de temperamentos. Ele, meio introspectivo, ela expansiva. Ele preocupado com os grandes problemas da vida, ela vivendo o “aqui e o agora”. Ela mais imanente, ele transcendente.
E eu feliz por tê-los como pais, cada um com o seu estilo de vida. Ambos souberam desempenhar, com muita responsabilidade, a tarefa que Deus que lhes confiou.

Mas antes de concluir a crônica, que tal um lenço para enxugar as lágrimas do cronista? Ainda bem que começou a chover. Minhas lágrimas se misturam com as lágrimas que caem do céu...