Entre a primeira e a última batida desse coração que no nosso peito mora, tantas alegrias se assentam e tantas dores se erguem. Quem s...

Sem máscaras, ilusões e armadilhas

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Entre a primeira e a última batida desse coração que no nosso peito mora, tantas alegrias se assentam e tantas dores se erguem. Quem sou eu neste mundo tão vasto? Qual o propósito da minha vida? Pergunto-me essas coisas vendo a existência deslizar como sopro suave entre as folhas.

Nós, mortais, somos argila que caminha e sonha. Imperfeitos, fragilíssimos. Nossa falha não nos deveria ser peso, mas o espelho sábio que doma o juízo, alarga o perdão e se abre à escuta. E, contudo, vivemos o tempo desperdiçado, gastando as horas com banalidades, a alma em
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Pablo Merchan Montes
partidarismos passageiros e vãos, a língua em sentenças sobre histórias e personagens que mal tocamos. Eis-nos a tomar a superfície por substância e a fazermos ruído alto sobre o que mal compreendemos.

Acreditamos (com uma presunção que nem cabe) que conhecemos os outros. Mas nos relacionamos com aparências, baseados no pouco que nos é oferecido ou permitido ver. Erguemos tronos de ouro para ídolos de fumaça: imagens do outro que o nosso coração moldou e a mente coroou. São reis em nossa fantasia. Talvez fosse melhor acolhê-los em sua imperfeição, lembrando que, sob pele e nome, pulsa um cosmos que não nos pertence, algo misterioso e quase indevassável; e, ainda assim, capaz de ser apreciado em sua humanidade crua.

De minha parte, quero esperar menos; quebrar os grilhões das expectativas; varrer os lugares-comuns que me ensinaram; expulsar do peito o que me diminui; abraçar os sentimentos que me engrandecem perante mim mesma; desaprender clichês.

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Acervo da autora
E fitando a fagulha estreita dos olhos de alguém, talvez eu possa encontrar sentido para a arte do viver: contentar-me com o verdadeiro, ainda que pequeno ou torto. Que o pouco que eu alcançar seja pleno, e o encontro, suficiente, sem jogos, névoas, máscaras, ilusões e armadilhas.

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