O próximo dia 2 de dezembro deste 2025 marcará os duzentos anos de nascimento do imperador brasileiro Pedro II. É uma data histórica, não há dúvida, sejamos monarquistas ou não. E não o sou, digo logo, o que não me impede de admirar o homem que governou o Brasil por praticamente meio século, reconhecendo seus méritos e admitindo seus erros, ou seja, procurando fazer-lhe justiça, dentro do possível.
Começo sentindo pena do menino Pedro abandonado pelos genitores após a volta de seu pai a Portugal. Um menino-rei sem pai e sem mãe, vivendo num palácio em meio a estranhos, exceção feita à querida babá de cuidados mais que maternos. Um menino a ser treinado para o trono, sem
Dom Pedro II aos 12 anos
Félix Émile Taunay
Félix Émile Taunay
Adolescente, mas já um adulto precoce, em razão das graves responsabilidades que lhe foram impostas, assume a chefia do Estado brasileiro, sendo ainda por vários anos como que tutelado pelos políticos de então, assim como a jovem e recém-coroada Elizabeth II do Reino Unido o foi por Winston Churchill. O fardo da coroa roubou-lhe, portanto, a juventude. E aí temos alguém aparentemente privilegiado, a quem as circunstâncias negaram o direito de ser criança e jovem no seu devido tempo. Que homem poderá resultar de tanta carência existencial?
Chegado à idade de casar, aquele que em tese tudo podia não conseguiu nem escolher aquela com quem haveria de repartir o leito e a vida. Outros o fizeram em seu lugar, priorizando mais alegados interesses estatais que os pessoais do nubente. E o pior: enganaram-lhe quanto à suposta beleza da noiva napolitana, entregando-lhe, por fim, uma imperatriz que, em termos estéticos, de fato não era nenhuma princesa de conto de fadas, a despeito de depois ter se revelado, em termos morais, uma companheira exemplar. Que vida é essa desse poderoso homem que é mais prisioneiro dos deveres que o mais modesto dos seus súditos?
Dom Pedro II e Teresa Cristina Gatti & Dura
Luísa de Barros Lima
(Condessa de Barral) CC0
(Condessa de Barral) CC0
Um estudioso nato, de interesses múltiplos. Poliglota ávido. Um sábio reverenciado por outros sábios europeus. Uma frustrada vocação de professor que se satisfazia vez ou outra em visitas a instituições de ensino. Um intelectual que exercia o poder menos por gosto que por obrigação. Um mártir da cultura, pode-se dizer, pois morreu em decorrência de resfriado apanhado em manhã chuvosa e fria a caminho de um evento na Academia Francesa. Quantos monarcas e ex-monarcas de seu nível?
Deodoro da Fonseca
Benedito Calixto
Benedito Calixto
Traído por seu compadre Deodoro da Fonseca, foi enxotado do Brasil como um criminoso qualquer, no meio da noite, às escondidas, como é inerente a tudo que é feito sob o manto da vergonha. De tão abalada com a violência sofrida, a idosa imperatriz morreu logo em seguida, entristecendo ainda mais o exílio repentino do viúvo. E coroando a retidão da vida inteira, o fragilizado ancião recusou dignamente a oferta de uma indenização em dinheiro por parte dos que o baniram.
Gilberto Freyre, com seu olhar sempre arguto de analista, desenhou do monarca um retrato perfeito em sua obra Perfil de Euclides e outros perfis, Editora Record, Rio de Janeiro, 1987: “Não nos interessa sacrificar em dom Pedro II seu justo relevo humano para o alongar mística ou piedosamente em anjo, em santo ou em herói. Ele não foi nem santo nem anjo nem herói.
Dom Pedro II Museu Imperial
Curioso estou sobre o que preparará nossa maltratada república para comemorar à altura os duzentos anos de nascimento de tão singular brasileiro.