Na véspera do São João, íamos à casa de minha avó paterna. Morava na rua Índio Piragibe. Uma casa de frontão, duas janelas e uma porta, aca...

São João do carneirinho

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Na véspera do São João, íamos à casa de minha avó paterna. Morava na rua Índio Piragibe. Uma casa de frontão, duas janelas e uma porta, acasalada a outras do mesmo estilo, erguida sobre uma barreira. O rádio no mais alto volume: gente dançando baião, ao som do aparelho ABC. A criançada soltando fogos. A rua embandeirada em papel de seda.
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Eram muitos os pipocos e clarões no extenso palco do céu.

Sempre víamos São João como o menino do carneirinho. Era assim que estava pintado no estandarte. Nunca imaginávamos, crianças que éramos, um profeta pregador, adulto. A identidade era com aquele rosto infantil, com a veste de couro, agasalhando em seus tenros braços o pequeno animal.

As Sagradas Escrituras estavam resumidas em livrinhos de catecismo que, por coincidência, tinham a ilustração igual àquela exibida no mastro.

Num terreno baldio da rua armavam a palhoça. A quadrilha era ensaiada com rigor por Dona Eulália e o marido, que cuidavam dos mínimos detalhes e apetrechos: inclusive (num dos anos) o padre da paróquia veio celebrar de verdade o matrimônio dos noivos.
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Algo diferente para uma época em que, nas paróquias, levava-se a unção em visita a enfermos, ou em especiais ocasiões.

Lembro-me da jovem que, por não ter quem a escolhesse, agarrou o braço de um dos participantes Chico dos Mamões. Ele, surpreso, não a recusou, claro. Dançavam divinamente. Acho que o menino São João do Carneirinho também aplaudiu Chico e Verinha.

Embora, atualmente, ninguém se lembre mais nem do Santo João Batista e nem do carneirinho.


José Leite Guerra é bacharel em direito, poeta e cronista

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