Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um fla...

Três sombrinhas

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Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um flash artístico para expor. Certamente, uma fotógrafa de alta sensibilidade.

Semana passada, a mesma sombrinha emergiu; sobressaída de uma multidão de guarda-chuvas abertos. Não chovia. Pensei: eis onde foi parar o motivo da foto! E, creiam, recentemente, uma vermelha conduzida por alguém, tempo frio, invernoso; a ou o condutor enfrentava a temperatura enfiado num cachecol e roupas de enganar frio.

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Claudia Dea
O condutor do protetor objeto ia vagaroso, cercado por troncos de árvores nuas de folhas; adentrava uma névoa como se fora abrindo um cortinado de vapor gélido. Sei que em nossa cidade, mercê das chuvas alvoroçadas, abundantes, causadoras de transtornos os mais diversos, não aconteceu o caso ou motivação das sombrinhas para construírem esta crônica. Eu as contemplei com a imaginação tranquila, a ver o posicionamento variado das sombrinhas.

A amarela apareceu duas vezes, ou fora outra, a do mar negro de guarda-chuvas abertos? Quanto à vermelha, de vigorosa e firme cor, puxando para sangue, tenho certeza estava sendo fotografada, pois que levaria alguém a deixar tão útil protetor abandonado feito cão vadio?

Deleitei-me com as aspas abertas: o pano imitava uma flor em meio a um mundo fascinante e circunstancial que vivi. Sei que se invejam tais oportunidades, a não ser que outros as houvessem contemplado.

O que pensaram? Transeuntes, geralmente, não observam muito. Ou deixam um fiapo de olhar bater sobre motivos fascinantes, aromatizados pelo lirismo. A sombrinha amarela formou um contraste: no parque pousada sobre a areia acetinada entre folhas recém-tombadas e sobressaindo-se sobre o agrupamento preto como a querer dar uma mensagem ou aparecer contrastante.

E a do dia frio? A vermelhidão se tornava mais destacada na paisagem cinza, escurecida, tristonha, formada pela baixa temperatura. E era levada sobre a cabeça. Vale, sim, o impactante: a cor púrpura desafiando os traços, o perfil escurecido da trilha.

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Rahul Pandit
Para onde iria aquela pessoa não sei. Deixar o recato cálido de seu lar, o calor dos lençóis para enfrentar a frieza devastadora, somente um motivo muito sério: doença, compra de comida, negócio inadiável.

Três sombrinhas (aliás, se convencionou chamar assim, as peças de tecidos alegres); os guarda-chuvas permanecem cor de urubu. Lembrando: escrevi um conto, certa feita, e o personagem bordou com linhas todo o capô do guarda-chuva, tornando-o alegre, sem feição de luto.

As sombrinhas deixaram em mim uma mensagem. Deixará em quem foi leitor, outra. A única certeza é que não as vi fora das linhas do Facebook...

Mas me impressionaram tanto, a ponto de transmitir minha experiência literária a quem me dá o prazer de ler. Se é que não as viram, também, nas redes sociais.


José Leite Guerra é bacharel em direito, poeta e cronista

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